Minha barriga de grávida, minhas regras: como impor limites em quem palpita
Se você está gestando, já gestou ou irá gestar, você deve saber: a barriga de uma grávida passa a ser o centro das atenções por onde ela passa. É comum as pessoas desejarem acariciar e, quase sempre, palpitar. Mas você pode impor limites, e é saudável que faça isso mesmo. Se quiser dicas e muita informação sobre a gestação, se inscreva no box abaixo em Materna, a newsletter que te acompanha semanalmente até a chegada do bebê.
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Assim que a mulher engravida, é como se a barriga dela se tornasse um espaço público: todo mundo bota a mão no corpo dela, mesmo que nem todas as gestantes se sintam à vontade.Maya Eigenmann, neuropedagoga, educadora parental e escritora
Vários fatores podem trazer uma sensação de que barriga não é mais sua, e não é só responsabilidade da própria mulher olhar para isso. Saiba que os carinhos virão - assim como os comentários sobre barriga grande, pequena, baixa, alta-, mas que é possível contornar seu incômodo, com educação e respeito, aos demais e especialmente a você. E contar com o apoio de pessoas mais próximas, como o seu par.
Sim, essa barriga é toda sua! Dizer que não gosta do toque físico, às vezes, pode ser um desafio - você pode sentir que está sendo mal educada. Mas não, nunca. Seu corpo, suas regras, e não é porque está gestando que a coisa muda.
Colocar limites agora será fundamental para conseguir colocá-los também depois, quando seu bebê nascer e as mãos (e os palpites) começarem a chegar mais intensamente ainda. E, acredite, você vai precisar ensinar seu filho a impor os próprios limites desde cedo ou, no mínimo, entrar em cena para que estes sejam respeitados quando ele ainda não conseguir se expressar.
Olha só que curioso: o que pode estar deixando tudo mais difícil agora é exatamente o comportamento que tiveram com você na sua infância. A neuropedagoga e educadora parental Maya Eigenmann explica que, se quando criança, as demais pessoas não respeitavam seus limites, você acabou aprendendo a não comunicá-los a partir de então, para ser obediente. Aceita, querida.
Mas você não é mais indefesa e já pode compreender (e internalizar) que o seu "não" é bem-vindo quando você estiver se sentindo desconfortável. E ninguém que te ama de verdade vai te amar menos por isso, combinado? Ainda parece complexo dizer para os outros que prefere receber carinho sem toque físico? Pega essa dica.
"É muito importante aprender a colocar esses limites. Uma das coisas que podemos fazer, se eles perguntarem se podem colocar a mão na barriga, é colocar um limite com gentileza. Dizer que não se sente à vontade e agradecer, porque a pessoa também está querendo demonstrar carinho por você e pelo bebê, então validar essa intenção é importante. Apesar de tudo, a pessoa está querendo fazer um carinho no seu filho", orienta Maya.
Seu par também pode ajudar, colocando a mão assim que perceber que alguém se aproxima com a mesma intenção. Ou até mesmo explicando que você não se sente à vontade com esse gesto.
'Eu nem gosto da minha barriga'
Antes de mais nada, saiba que, apesar de ela chamar a atenção de todos ao redor, é super normal você mesma desgostar da sua própria barriga de alguma forma, ou não ter vontade de interagir com ela. "Essa romantização da gravidez, onde a pessoa tem vontade de conversar com a barriga ou colocar música clássica para o bebê não é uma realidade para todas. Algumas mulheres vivem isso, mas não significa que todas vivam", afirma a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti.
Segundo a especialista, é preciso lembrar que, atualmente, a gente consegue detectar a gravidez muito precocemente, mas isso nem sempre esteve presente na humanidade - o que acaba exigindo uma antecipação de processos naturais que eram mais demorados.
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Quero receberMuitas mulheres antes só percebiam que estavam grávidas depois do atraso de mais de uma menstruação ou com o crescimento da barriga, e tem a cobrança da sociedade de já se sentir mãe logo, e isso é uma coisa inventada.Maria Silvia Logatti, psicóloga existencial
Ou seja: está tudo mais do que bem se você ainda não sente essa conexão com seu corpo gestante. A dica é abraçar a mãe que você está sendo e tem vontade de ser nesses meses, sem cobranças, pois o tempo naturalmente vai aguçando a conexão com seu ventre, seu bebê, e da maneira quer for para ser dentro da sua realidade.
Você pode não conversar com a barriga, mas viver acariciando o ventre por exemplo, e vice-versa. Ou ter outros cuidados super importantes com alimentação, ingestão de água, sono e tantos outros: eles também são linguagens de amor, apenas menos romantizadas.
Sente-se incomodada com a sensação dos primeiros movimentos ou não sente borboletas no estômago assim que o bebê começa a mexer? Super normal também. Não esqueça: você pode sentir angústias, dúvidas, pensar em questões pessoais complexas e até deixar emergir conflitos internos nesse início de gestação.
Segundo a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, que atua no acompanhamento de gravidez, infertilidade, reprodução assistida, parto e puerpério, "não se sentir mãe tão rapidamente quanto nos filmes não significa que não será uma mãe suficientemente boa". Na sua barriga cabe um bebê que vai ganhando espaço junto aos seus outros órgãos e, no seu coração, cabem outros sentimentos que não seja apenas o tão falado amor incondicional.
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