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"Estamos fazendo o feminismo do futuro", diz a militante Dandara Rudsan

10/11/2021 04h00

A união entre as mulheres de diversos grupos na luta feminista é um dos maiores avanços que o movimento tem visto nos últimos anos. Essa é a opinião da advogada Dandara Rudsan, finalista ao prêmio Inspiradoras 2021 na categoria Conscientização e Acolhimento. Mulher negra e trans, Dandara vive em Altamira, no Pará, e falou sobre suas experiências na luta em defesa das mulheres durante live mediada pela jornalista Giuliana Bergamo. As outras duas finalistas da categoria, Carol Santos, do Rio Grande do Sul, e Elizângela Baré, do Amazonas, não puderam participar do encontro.

Dandara contou que a maior dificuldade que enfrentou vivendo em Altamira, cidade que é sede da usina hidrelétrica de Belo Monte, foi a invisibilidade enquanto pessoa negra e trans. O motivo que a levou a atuar como defensora de direitos humanos foi para que as demandas da população LGBTQI+ conseguissem ser vistas. "É muito difícil para quem não está na Amazônia imaginar o que acontece por aqui. É preciso traçar para para defender as vidas dessas pessoas".

A advogada destacou a importância de movimentos sociais como ponte entre a população isolada e os órgãos públicos que podem oferecer suporte necessário. "Precisamos fazer com que as mulheres que vivem isoladas na floresta e nos rios possam alcançar a proteção que existe dentro do aparelho estatal em um contexto onde não existem esses serviços, onde o acesso a eles não é fácil", disse a fundadora do Nepaz (Núcleo Estratégico de Direitos Humanos e Promoção da Paz). Idealizada para acolher especialmente mulheres negras vítimas de violência, a iniciativa acabou se tornando útil a mulheres em geral. O objetivo é receber e encaminhar denúncias aos órgãos competentes. E, então, acompanhar o desenrolar dos casos, para garantir que tenham algum desfecho. Até setembro de 2021, o núcleo já havia feito 294 atendimentos.

Ao falar sobre a importância da união entre as mulheres na luta feminista, ela contou que é amiga das outras duas finalistas. "Ficamos amigas em 2018, desde então fazemos trocas e acompanhamos o trabalho umas das outras". Ela destacou a importância de que as mulheres, mesmo sendo tão diferentes, estejam unidas. E disse ainda que é preciso romper com o que chamou de feminismo burguês e branco, em busca de um feminismo interseccional. "Ainda tem muita elitização no feminismo, muita exclusão, muito racismo no feminismo que não enxerga muitas nuances".

Ela fez a ponte com a frase "Ninguém solta a mão de ninguém" e questionou: "E aquelas mãos que ninguém nunca segurou? Tem muita mulher ainda para entrar nessa roda. Tem muita gente ainda para segurar a mão". Mas ela é otimista e afirma que estamos nos caminho, que esse é um processo que está acontecendo. "Só o fato de estarmos nesse espaço, com a possibilidade de dar visibilidade aos corpos invisibilizados, nós já estamos fazendo o feminismo do futuro".

Conheça Carol Santos e Elizângela Baré, que não puderam participar da live de hoje:

Carol Santos
Fundadora do Movimento Feminista de Mulheres com Deficiência Inclusivass. Sua atuação resultou na aprovação de uma lei que prevê equipamentos adaptados para exames médicos em mulheres com deficiência em Porto Alegre.

Elizângela Baré
Coordenadora do Departamento de Mulheres Indigenas do Rio Negro (DMIRN), órgão da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), entre 2017 e 2020. Conseguiu ampliar o alcance do Departamento de Mulheres e, dessa forma, levar auxílio, capacitação e informação a mais mulheres indígenas do Alto do Rio Negro.

Neste mês, Universa está participando dos 21 dias de ativismo no combate da violência contra mulher. Ao todo, serão sete encontros com as finalistas do Prêmio Inspiradoras 2021. Veja aqui a programação das próximas lives:

10/11: Acesso à Justiça

As finalistas vão contar sobre as iniciativas que contribuam para promover, dentro dos sistemas jurídico e legislativo, a emancipação das mulheres e meninas em situação de violência.

Anne Wilians e Gabriela Manssur

Em 2020, a dupla criou o Justiceiras, uma rede de apoio online que ajuda mulheres em situação de vulnerabilidade oferecendo orientação jurídica, psicológica, socioassistencial, médica e escuta ativa através das redes sociais.

Lívia Sant'Anna Vaz

Ela concentra seu trabalho na defesa dos direitos das mulheres negras.Criou o Mapa do Racismo e da Intolerância Religiosa, um aplicativo que leva as denúncias desse tipo de crimes diretamente ao Ministério Público da Bahia (MP-BA).

Myllena Calasans

Atua na articulação entre o Consórcio Lei Maria da Penha e o poder público, especialmente o Congresso, vigiando e agindo em defesa da Lei Maria da Penha para evitar que ela seja enfraquecida.

11/11: Equidade e Cidadania

As candidatas da categoria vão apresentar suas iniciativas que promovem a equidade de gênero e a autonomia das mulheres.

Luiza Batista

Á frente da Fenatrad, ampliou o debate sobre maneiras de combater o trabalho doméstico análogo à escravidão. Também articulou a realização de um curso sobre direitos trabalhistas pelo WhastApp, já feito por 700 empregadas domésticas de vários estados.

Selma dos Santos Dealdina

Organizou o livro Mulheres Quilombolas, que teve a participação de mais 17 mulheres.. Essa é a primeira publicação que deu destaque à voz feminina quilombola. Mais de 2,6 mil cópias do livro já foram vendidas.

Watatakalu Yawalapiti

Como coordenadora da Atix-Mulher, viabilizou projetos de produção sustentável de produtos importantes para a cultura e a renda das famílias indígenas. Também construiu a primeira Casa das Mulheres no Xingu.

12/11: Esporte e Cultura

Nesta conversa, atletas e artistas contam como usam seus talentos para fazer reverberar conscientização sobre equidade de gênero e de raça.

Aretha Duarte

Para cobrir parte dos gastos com a viagem ao Everest, ela coletou materiais recicláveis durante 13 meses. Ao todo, foram 130 toneladas arrecadadas. No dia 23 de maio de 2021, ela se tornou a primeira negra latino-americana a atingir o topo do Everest.

Cherna

Depois de sofrer ataques na internet por ser a única mulher indicada como melhor jogadora de Rainbow Six, criou a Associação Feminina de Gaming Brasil para apoiar outras mulheres ciberesportivas com suporte psicológico, jurídico e de treinamentos.

Mel Duarte

Ela tem cinco livros publicados e seus poemas que trazem empoderamento negro e feminino. Também foi a primeira mulher a vencer a competição internacional Rio Poetry Slam. Ela é ainda uma das fundadoras do Slam das Minas em São Paulo.

Sobre o Prêmio Inspiradoras 2021

O Prêmio Inspiradoras 2021 é promovido pelo Universa, plataforma feminina do UOL, e o Instituto Avon, organização da sociedade civil que realiza ações e apoia projetos para fortalecer a mulher brasileira.

O foco da premiação está em três principais causas: violência contra a mulher, câncer de mama e equidade de gênero. Cada causa é representada em duas categorias e há ainda uma categoria para representantes Avon que realizam trabalhos de impacto social.

Durante o mês de outubro, todas as finalistas foram reveladas e a votação online está aberta para o público em geral. Além disso, um corpo especializado de jurados será convidado a escolher as vencedoras. Os nomes delas serão revelados em um evento marcado para o dia 23 de novembro. Haverá também menção honrosa a uma mulher que tenha se destacado no enfrentamento à covid-19.

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.