Ainda não decidi se estou animada, mas não há como não amar o Carnaval
Ler resumo da notícia
Odeio Carnaval. Amo Carnaval. Odeio gente que ama Carnaval. Odeio gente que odeia Carnaval. Ai de ti, fevereiro, há anos obrigado a receber esse Fla-Flu sempre tão raso e sem poesia. Aliás, mais um para lista. Direita e esquerda, rosa e azul, Drake e Kendrick, amor e garantia.
Sério? Preciso decidir? Assim, para sempre? Ou isso, ou aquilo? Como no livro da Cecilia Meireles? Ou no esquema dos chás de revelação? Ou - para esquentar o debate - nos lados opostos da polêmica Emilia Pérez? A propósito, antes que me perguntem, não vi o filme. Só lembrei porque já ouvi, não sei quantas vezes, que "com certeza, é o pior filme do mundo". E o melhor também. Afinal, viver com superlativos é uma roupa que nunca dá errado. O assunto acaba rápido.
"Não sei bem", "Estou até agora digerindo", "não decidi completamente"... Pois é: parece que aquela hesitação meio sem ego caiu por terra. Já era total. Assim como aquele negócio, sabe? Que antigamente atendia pelo nome de interrogação?
O silêncio então, coitado... esse nem se fala... há anos habita - ou hiberna - na terceira divisão de um campeonato de botão. De plástico. Sem narração.
Entendo, eu mesma já fui assim. Por muito tempo, inclusive. Passional, jovem, cheia de "ser e não ser". Eu, eu, eu. Como se a minha opinião tivesse qualquer relevância a não ser em algumas perguntas das minhas amigas. Como na roupa que a Martha vai usar no lançamento do livro dela.
Mas vamos voltar ao Carnaval, que esse é um assunto que me comove. Bom, eu sou filha da festa, gerada em meio à catarse absoluta que os desfiles da Sapucaí geravam no meu pai. Aliás, outro dia recebi o mesmo meme/bullying de sempre: para que as pessoas parem de procriar nessa época do ano porque o mundo já tem muita gente de escorpião. Discordo, acho que podia ter mais. Aqui pelo menos não tem gato por lebre.
Piadas à parte, o que eu realmente gostaria de dizer nesta penúltima terça-feira de um fevereiro de calor aterrorizante é que, de uns tempos para cá, eu temo ter perdido aquele tom acima que invadia meu peito febril. E que podia ser aplicado a blocos, pessoas, cidades, disputas do Oscar e até tretas de futebol. Eu não faço mais questão de saber se eu sei.
Fora isso, no último sábado me despedi de Caca Diegues, diretor do antológico "Bye Bye Brasil" e responsável pela minha primeira imagem registrada em película. Caca, que também foi presidente do júri no ano em que "Como Nossos Pais", longa que fiz com Lais Bodanzky, passou em Gramado, era uma figura emblemática do nosso cinema e, sobretudo, um homem gentil.
Seu velório, em meio a um bloco carioca e com a presença de reis como Zezé Motta e Antônio Pitanga, parecia uma homenagem ao cinema novo ou a concentração de uma escola de samba prestes a entrar na avenida.
Fiquei feliz por ser atriz. E tive vontade de me fantasiar de botafoguense. Tem vezes que não dá para não amar o Carnaval.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.