Maria Ribeiro

Maria Ribeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'Adolescência' mostra que estar perto do filho não é só dividir mesmo teto

Fui ver "Adolescência", a série britânica da Netflix, sem nem saber direito do que se tratava. Mas os posts dos amigos, cada dia mais frequentes e enfáticos nas recomendações, não me deram alternativa.

Amo e odeio ver o que todo mundo está vendo. Ao mesmo tempo, sofro quando me sinto por fora dos papos de bar (mesmo que eu não vá a bar algum). Pelo bem da minha FOMO (aquela expressão em inglês que fala que temos medo das experiências que perdemos), portanto, achei por bem me incluir na conversa.

E depois, nada como uma "onda coletiva" para nos dar a ilusão de comunidade. Um filme, um ídolo, ou um evento que nos forneça essa espécie de cola "antissolidão" - algo que deixe evidente, que, dividimos, senão as dores, ao menos, o calendário.

E de fato, o tempo é um personagem fundamental desta história. Pelo simples e complexo fato de que nos transformamos, com raríssimas exceções, em uma sociedade refém de telas, onde através dos nos nossos smartphones nos relacionamos com milhares de pessoas - e claro, com ninguém.

O isolamento contemporâneo, sobretudo para quem já nasceu na era digital, é uma das principais questões da série, porque escancara, ainda que em meio a temas como a herança quase sempre invisível de uma masculinidade opressora imposta as novas gerações, a fragilidade de crianças e adolescentes diante da selvageria da vida online.

Jamie, o garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, ao que tudo indica, é um menino comum. Sua família, que da noite para o dia é transformada em protagonista de um filme de terror, se vê diante de um desconhecido, já que até então nada no adolescente sugeria qualquer comportamento fora do padrão. "Ele estava o tempo todo no cômodo ao lado", diz a mãe, no ultimo dos quatro episódios, todos eletrizantes e com atuações completamente impecáveis.

Tenho um filho de 15 anos. Assim como todos os jovens dessa idade, Bento também passa muitas horas em seu quarto - a poucos passos do meu. Estar perto, no entanto, está longe de compartilhar teto e geladeira.

Ouvir as músicas que o seu filho escuta, ver os filmes que ele vê, conversar com seus amigos abertamente e ter um interesse genuíno em seu universo - ao invés de acreditar que só você é capaz de mostrar referências - costuma ser um método infalível, além de extremamente prazeroso.

Crescer é um movimento dificílimo. Volta e meia ainda fico com raiva de algumas partes da vida adulta. E não tenho dúvidas de que a adolescência, para muitos, é uma das fases mais delicadas da vida. Para mim foi. Aos 16, inclusive, tive minha primeira e única depressão.

Continua após a publicidade

Adolescente, independentemente da trama - que é tão importante quanto de difícil digestão - traz para o centro do debate um momento crucial da vida, e muitas vezes negligenciado.

Recomendo não só a série, mas também um mergulho radical nos fones dos seus filhos, sobrinhos, afilhados ou quem quer que esteja à sua volta. Foi assim, por exemplo, como quem não quer nada, que eu conheci Baco Exu do Blues, e Belle and Sebastian.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

1 comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Antonino Caroccia

A série é interessante, pois em reação a uma sociedade onde muitas mulheres deturparam os conceitos feministas raiz, surgiu o fenômeno de reação masculina, o movimento redpill que visa alertar os homens sobre esses excessos ensinando-os como se proteger. Nunca se tratou de ódio contra mulheres. A maioria é hetero, sente atração e desejo apenas por mulheres, mas se depara com uma realidade cruel. Mulheres troféu, que querem ser colocadas em um pedestal sob o pretexto de não aceitar migalhas, mas que entregam apenas beleza e nada agregam em uma relação. A mulher moderna quer homens vencedores na linha de chegada, não querem lutar para que eles vençam. Então como a maioria não é vencedor a corrida não é justa e gera revolta nas mentes em formação principalmente. É preciso repugnar qualquer reação violenta, mas acho que cabe uma reflexão tanto do feminismo quanto do movimento redpill repugnando discursos que distorcem os principios originais. 

Denunciar