Qual meu link com Anitta? Nós sabemos que ter uma amiga dá vontade de viver
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Você e a Anitta, qual é o link? Ouço essa pergunta há mais ou menos um ano. Desde que a conheci e que, de alguma forma, passamos a fazer, sempre que possível, parte da vida uma da outra. Mas é trabalho? Amizade? O que vocês têm em comum? Conversam sobre o quê?
Bom, primeiro preciso dizer que isso nunca tinha me acontecido. De ser questionada de forma tão curiosa a respeito de uma parceria. E olha que eu sou boa de amigo. De todos os troféus que guardo na estante, nenhum vale tanto quanto as fotos das minhas pessoas. No plural, que eu sou uma mulher de time, meu povo.
E olha que meu álbum de figurinhas é relativamente diverso. Claro, ainda faltam páginas importantíssimas para completar. Brasis que ainda não tenho, mas que, se tudo der certo, ainda hei de incluir no meu rolo de câmera, ao qual volto sempre que preciso ver se estou sendo feliz como deveria e se estou amando certo.
Escalando um grupo de respeito? Acho que sim. Tenho a minha volta meninas e meninos de 15 e de 90, ouvintes de Rap e de Mozart, gente que já morreu - e com quem continuo me relacionando -, gente que mora longe, que não tem telefone, que escreve, que canta, que dá aula de ioga, que faz bolo. Tenho gente que estuda cavalo-marinho.
A amizade nesse sentido é bem pouco diferente do amor. Não sabemos exatamente o que alguns seres humanos têm que outros não tem, e nem o que esse "o quê" nos causa, para o mal e para o bem.
As vezes acho que uma conexão mais funda possa ter a ver com voz, com humor, ou - imagino - com alguma familiaridade que você não identifica muito bem, mas que é algo que, vai saber, talvez te lembre um tio com quem você conviveu aos três anos e que te deu algum colo que não está na memoria do cérebro mas está em outra.
Outras vezes, tenho a certeza de que o lance é a cumplicidade nas neuroses. É fã de Succession? De chocolate com sal? Do Zeca Pagodinho? Então, toca aqui!
Depois, penso que, para além da minha ignorância, essa é uma busca vã e tola. De tentar entender, através de argumentos - essas construções quase sempre geladas e sem coração, coitadas - quando a única coisa que existe de concreto, mesmo que não seja concreta, é o bom e velho "sei lá, bateu".
Mas, a propósito, a quem isso importa? Gostar mais ou menos de alguém é das poucas coisas que a Inteligência Artificial jamais nos tirara. E dos poucos lugares onde o mundo das exatas nunca vai ganhar daquele a qual pertenço, de quem nunca sabe onde estão óculos e chaves.
Afinal, nesse departamento, estamos todos, engenheiros e poetas, advogados e floristas, economistas e atores, à mercê do: "sei lá, bateu".
Mas porque falar disso agora? Porque uma pessoa é um mundo. E porque gostar certo faz uma diferença danada. Transforma perdas, noites, e até cortes de cabelo.
Falando nisso, na última vez em que cortei o meu, dez dias atrás, sai do salão com sete anos de idade. Sabe aquela sensação que a gente só tem quando é criança? De que uma franja curta é quase um superpoder?
Era o último dia de janeiro e eu tinha ficado feliz como se todo o meu futuro estivesse começando ali, com aquela franja. Mas, como a vida é uma coisa e depois é outra coisa, - como diz um amigo meu - do nada entrou um vento sudoeste e eu voltei a ser adulta em um segundo. Mais até do que eu já era - na medida em que sou. Ou somos. Ou podemos ser.
E eu que achava que 2025 estaria diariamente protegido pela Fernanda Torres.
Não estava. Mas como hoje ainda é dia 11, e como anteontem eu fui no ensaio da Anitta, fevereiro voltou a ser fevereiro. Porque gostar certo te devolve franjas, alegrias, e uma coisa que eu nunca quero perder: a capacidade quase infantil de não ter a menor vontade de entender porque uma amiga consegue, sei lá porque, te dar vontade de viver.
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