Joyce Pascowitch

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Reportagem

Boni se reinventa e explica por que as novelas não conseguem fazer o mesmo

Numa era onde a gente vive muito mais, uma palavra, o melhor, um verbo tem se tornado imperativo: se reinventar. Isso serve para qualquer profissão, qualquer pessoa, qualquer momento.

Tenho pensado muito nesse tema, porque, como tenho dito aqui, sou uma noveleira assumida e, consequentemente, muito frustrada atualmente com a falta de perspectiva no segmento. Por isso, lembrei do gênio Boni, uma das raras exceções no mundo da televisão. Foi ele o responsável pelo grande sucesso da TV Globo quando ela era a primeira e única. Ele ocupou o mais importante cargo de direção, de 1967 a 1997, e foi um dos responsáveis pelo padrão de qualidade da emissora.

Na verdade, na minha opinião, Boni é único! E um dos motivos dessa crise toda, onde a TV não consegue acompanhar os dias de hoje, é que não existem mais Bonis. E ainda bem que ele próprio está se inventando nas redes sociais, e a gente pode acompanhar esse momento único, onde ele traz as histórias, casos e opiniões tão bem-vindos neste momento.

Boni
Boni Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Boni fez um gol quando participou de uma edição de Conversa com Bial (Globo) e, antes de começar, sugeriu aproximar um pouco as duas cadeiras, a do apresentador e a que ele próprio ocuparia no palco. Aquele gesto me fez ver, na hora, que nunca existiu nem nunca existirá outro como ele: sua percepção do que a TV, naquele momento, se mostrou única. Para mim, foi tipo uma epifania.

Pois bem: instigada com a questão sobre a invenção de cada um, de cada coisa, de cada projeto, fui atrás do maior especialista em televisão desse país e numa conversa rara com ele me certifiquei de que ele, realmente, é único. Minha curiosidade era sobre novelas: porque é tão difícil, hoje, uma novela que agrade de fato? Vou contar aqui trechos de minha conversa com ele, primeiro sobre esse tema e, depois, sobre o que o levou ao mundo do Instagram com graça e relevância.

Sobre novelas

Acho que as novelas são eternas, mas não podem ser levadas a público sem pesquisas, estudos, marketing profundo. A novela é contada por grandes personagens e não pela história propriamente dita. Se trata de uma relação de convivência entre o emissor, no caso a TV, e o consumidor, no caso o telespectador.

Novelas têm possibilidades imensas mas não podem ter tantas 'obrigações'. A ficção tem que ser mais livre. Gosto de relembrar Janete Clair, que dizia que qualquer coisa pode existir na ficção, mas tem que ser verossímil. O exemplo é o Super-Homem, que tinha poderes porque vinha de outro planeta mas também tinha vulnerabilidades."

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Hoje em dia, os formatos têm trazido dois caminhos que não gosto: maniqueísmo e remake. Acho que remake só vale quando é melhor que o original. Eu, pessoalmente, quebrei a cara nas vezes em que fiz, como em 'Irmãos Coragem'. Já em 'Selva de Pedra' acertei porque o remake ficou melhor que o original.

Cláudio Cavalcanti, Tarcísio Meira e Cláudio Marzo na versão original de 'Irmãos Coragem', de Janete Clair, nos anos 1970
Cláudio Cavalcanti, Tarcísio Meira e Cláudio Marzo na versão original de 'Irmãos Coragem', de Janete Clair, nos anos 1970 Imagem: Reprodução/TV Globo

Sobre redes sociais

Ao lançar seu livro, no ano passado, Boni recebeu muitas perguntas via email ou mesmo por WhatsApp. Para atender a todas essas demandas, seu filho menor, Bruno, do casamento com Lou Oliveira, sugeriu que o pai fosse para o Instagram. A princípio, Bonnie não queria, devido ao excesso de exibição e pra evitar uma intimidade exagerada, mas acabou cedendo: "Bruno [seu filho] é fora de série. Estudou na Universidade de Columbia, tem um jeito especial e me convenceu".

Boni relembra que começou na TV como redator de humorismo, trabalhando com Manuel da Nóbrega, e sempre manteve esse humor que usa tanto para criticar a vida quanto a si mesmo. Segundo ele, "humor com linha de abstração bastante objetiva ".

Ele disse que as gravações que vão ao ar são espontâneas e que gosta dessa "brincadeira ". Segundo ele, diverte e dá prazer. Os conteúdos são escolhidos com Bruno: "Estou gostando demais de brincar. A parte mais difícil é arranjar tempo para gravar. Costumo fazer isso em casa, às quintas-feiras. O melhor de tudo é a leveza, a ausência de compromisso. Me dá um prazer enorme."

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Sobre interatividade

Tive a ousadia de fazer Você Decide (Globo) com respostas via telefone, assim como fiz em quadros no Fantástico e no Carnaval. Naquela época, minha paixão pela interatividade era limitada pela tecnologia. Tecnologia é uma commodity e tem que ser usada com criatividade, de um modo mais inteligente.

Essa experiência com internet, esse exercício, vai me ajudar nos meus outros projetos televisivos. Tudo rápido, espontâneo, imediato. Tenho pensado em levar essa experiência com as redes para a TV Vanguarda —rede que criei e que vai muito bem, sempre se reinventando com a programação local—, fazendo exercícios até em relação a novelas, sem me afastar da dramaturgia, mas levando em conta esse momento.

Sim, reinvenção é a palavra.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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