Com vários filmes não óbvios, Oscar 2025 valoriza o risco e o novo

Nas bolsas de apostas internacionais, dois filmes que podem ser chamados de esdrúxulos, lideram as listas dos favoritos para levar o Oscar de melhor filme 2025: "O Brutalista", de Brady Corbet, e "Emilia Perez", de Jacques Audiard. É um claro sinal de que há espaço e desejo por filmes que se arriscam.
Isso é reforçado pela indicação de filmes independentes, como o inovador "Nickel Boys", de RaMell Ross, filmado em "primeira pessoa", que retrata toda a ação pelo olhar dos personagens principais, dois jovens negros nos Estados Unidos enfrentando os horrores de um reformatório, vividos por Ethan Herisse e Brandon Wilson.
"Anora", do sempre inventivo Sean Baker, também é uma comédia que, apesar de aparentemente hilária, tem um gosto amargo de fundo. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2025, é outro grande representante do cinema independente norte-americano, que deu para a nada óbvia Mikey Madison a indicação de melhor atriz

Nessa esteira da fuga do óbvio e seguro, também temos "Ainda Estou Aqui", indicado a melhor filme, filme internacional e atriz (algo inédito na história). Nesta última categoria, Fernanda Torres se torna a segunda da história a ser indicada por um filme falado em português, contando uma história essencialmente brasileira, mas que tem apelo universal. Mais ousado ainda é Karla Sofía Gascón, que faz história ao se tornar a primeira transsexual a ser indicada a melhor atriz.

Já Demi Moore, do alto de seus 62 anos, faz um retorno triunfal com um filme em que expõe seu corpo e, de certa forma, sua própria vida, pois foi escrutinada recentemente por "estar exagerando nos procedimentos estéticos e envelhecendo mal". É sobre a obsessão pela juventude que "A Substância" trata sem fazer drama, mas caprichando no body horror e inundando a tela de sangue. Pela ousadia, a francesa Coralie Farjeat se tornou a única mulher indicada a melhor direção no Oscar 2025.

Temos ainda "Flow", uma belíssima animação independente de orçamento minúsculo se comparada aos gigantes da Disney/Pixar e Dreamworks, indicado a melhor filme internacional, pela Letônia, e melhor animação.

A lista de indicações não óbvias do Oscar 2025 não para por aqui, mas esses são exemplos bem-vindos de que os votantes querem e valorizam propostas originais, ainda que imperfeitas. Ao todo, cerca de 9.400 membros da Academia (dos 10 mil totais) votam no Oscar 2025. Destes, cerca de 20% não são norte-americanos. Do Brasil, 52 pessoas votam. Ainda que a grande maioria esteja nos EUA, nota-se que há uma renovação na forma de olhar o cinema contemporâneo.
É inegável que essa renovação já ocorre há anos, com Oscar de melhor filme para "Moonlight" em 2017, para "Parasita" em 2020, para "Nomadland" em 2021 e "Tudo em Todo Lugar" em 2023. Em 2024, "Oppenheimer", que não é exatamente revolucionário, mas tem sua boa dose de originalidade, e "Barbie" foram grandes destaques.
Mas, neste ano, há realmente uma combinação interessante de filmes que, em tempos de tantos remakes e/ou adaptações óbvias, arriscam e abrem espaço para o novo. Ganhar ou não um Oscar é uma ciência nada exata, mas os ventos de ousadia de diversas produções renovam a vontade de acompanhar uma premiação que por vezes foi tão enfadonha quanto uma colação de grau de ricos e famosos. O Oscar ganha com o novo. E que esses ares de mudança venham para ficar.
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