Volta ao mundo com uma única passagem de avião? Dá até para usar milhas
Ler resumo da notícia
Muitas crianças que pensaram pela primeira vez em dar a volta ao mundo ao ler a obra clássica de Júlio Verne se converteram em adultos que ainda sonham com essa façanha — não mais no balão de Phileas Fogg, mas com a segurança e a rapidez de um jato contemporâneo.
Apesar de ainda pouco exploradas pelos brasileiros e objeto de desejo de muito gringo há bastante tempo, as passagens RTW (Round The World tickets) são um bilhete aéreo único com múltiplas paradas ao redor do mundo, e que pode ser emitido tanto em classe econômica como em executiva com tarifas mais baratas em comparação à compra individual das passagens.
Antes comumente associada a mochileiros em ano sabático ou nômades digitais, hoje a modalidade já se adaptou até à realidade CLT: tem cada vez mais gente aproveitando as boas tarifas e flexibilidade das RTWs para "dar a volta ao mundo" com paradas que caibam em um mês de férias.

Como funciona a RTW na prática
As passagens RTW podem ser emitidas facilmente através de companhias afiliadas à Star Alliance (a maior aliança aérea do mundo, reunindo South African Airways, TAP, Lufthansa, SWISS, United, ANA e outras) e à One World (que reúne Iberia, British Airways, American Airlines e outras), por exemplo.
- Você compra a RTW através de uma companhia específica, mas voa com várias delas (as parceiras da aliança) ao longo das férias, dependendo dos destinos visitados. É possível compra-la também diretamente das alianças.
- O principal ponto da RTW é a liberdade: é o próprio viajante quem decide onde, como e quando vai fazer suas paradas durante a volta ao mundo.
Mas, é claro, existem regras básicas intransponíveis para sua emissão:
- é preciso voar sempre no mesmo sentido (sempre à leste ou sempre à oeste, sem exceções),
- começar e terminar a viagem no mesmo país (ou na mesma cidade),
- ter no mínimo duas paradas diferentes,
- duração máxima de 12 meses
- e cruzar obrigatoriamente os oceanos Atlântico e Pacífico.
Não é permitido voltar para um mesmo destino em uma passagem RTW, o que acaba complicando a inclusão de alguns destinos na viagem.
No entanto, permitem os chamados "open jaws", estratégia usada por muita gente para chegar em um país por um destino e continuar a viagem por outra cidade ou outro país (viajando entre eles por terra, mar ou com uma passagem aérea extra, avulsa à RTW).
Outras regras podem ser acrescentadas dependendo da aliança ou da companhia aérea emissora; mas seu valor final é fixo e depende basicamente do número total de paradas efetuadas e milhas percorridas e, é claro, da classe voada.

Quanto custa uma passagem de volta ao mundo
Nas grandes alianças aéreas o custo da passagem RTW é fixo, de acordo com uma tabela própria baseada em classe voada, quantidade de voos e quantidade de destinos visitados. A duração total e as paradas da viagem ficam sempre a critério do viajante.
Na Oneworld, toda RTW envolve, além das regras básicas deste tipo de passagem, a obrigatoriedade de paradas em pelo menos três continentes diferentes e um máximo de 16 voos no total; e custa desde US$ 3.500 em classe econômica.
Com a Star Alliance, a RTW precisa ter no máximo 15 paradas e os valores começam em US$ 4.000 (para seis paradas em classe econômica).
Com milhas
Para emitir a RTW com milhas, a quantidade de milhas necessárias para uma RTW pode variar bastante de uma companhia aérea para a outra, mesmo que elas sejam parte da mesma aliança.
Atualmente, a emissão mais simplificada de uma RTW com milhas tem sido a oferecida pela companhia aérea portuguesa TAP - embora nesse tipo de aquisição ela só ofereça o modelo mais simples da viagem de volta ao mundo da Star Alliance, que consiste em um máximo de 10 voos e 6 paradas no total.
Para os membros do programa Miles&Go da TAP, a RTW em classe econômica vale 250.000 milhas e, em classe executiva, 400.000 milhas. Embora os valores em milhas pareçam inicialmente altos, eles são considerados por muita gente "pechinchas" da aviação quando comparados aos valores em milhas cobrados para uma simples viagem ida e volta do Brasil à Europa.
É importante destacar também que as milhas utilizadas para emissão de RTW não precisam necessariamente terem sido acumuladas voando; podem ser milhas e pontos oriundos de cartão de crédito, do banco, clubes de compras etc.
Afinal, hoje em dia a gente consegue juntar gratuitamente milhas e pontos através até de compras de supermercado, farmácia, lojas de departamento e serviços de carro por aplicativo.
Por outro lado, a emissão da RTW com milhas demanda paciência e flexibilidade extra do viajante, já que assentos prêmio nos voos são sempre limitados pelas companhias aéreas, seja em classe econômica ou executiva.
Ou seja: é preciso estar preparado para fazer concessões ao seu itinerário dos sonhos para conseguir ter a sonhada passagem em mãos.

Como emitir uma passagem de volta ao mundo
Para ajudar quem não sabe nem por onde começar, os próprios sites das alianças aéreas oferecem algumas sugestões de itinerários de volta ao mundo envolvendo distintos números de paradas e diferentes continentes.
O ideal é pesquisar bastante as opções disponíveis antes de tentar a emissão da RTW: listar os destinos desejados (será que a época pretendida para a viagem é mesmo boa para conhecer aquele lugar?), as companhias aéreas que fazem os trechos entre eles, as conexões possíveis e as regras obrigatórias.
É possível emitir uma passagem de volta ao mundo de forma independente, diretamente com a companhia aérea preferida, ou também através de um bom agente ou consultor de viagens - mesmo que a RTW vá ser adquirida com milhas ou pontos de programas de fidelidade.
Seja qual for a opção escolhida, a RTW vem simplificando sua emissão e segue sendo a mais mítica das viagens para muita gente. Afinal, não é todo dia que a gente sai de casa para dar a volta ao mundo...
Como eu emiti a minha RTW em executiva e com milhas
Embarquei na minha sonhada viagem de volta ao mundo com uma RTW emitida com milhas, em executiva, pela TAP.
Ao longo de três anos, juntei milhas majoritariamente com os pontos vindos de compras no cartão de crédito e em outras empresas afiliadas ao programa de fidelidade da companhia e de aceleradores disponíveis no programa.

Decidi embarcar na baixa temporada para pegar maior disponibilidade de voos, preços mais camaradas nos destinos visitados e temperaturas mais amenas, tanto no hemisfério norte quanto sul (o que também contribuiu para uma bagagem mais enxuta e inteligente).
Minha viagem durou 50 dias e, ao longo destas sete semanas, fiz minhas paradas da RTW nos Estados Unidos, no Japão, na China, na Tailândia, na Turquia e na África do Sul. E inclui também, "por fora", uma escapada da África do Sul (onde fiz o "open jaw" descrito no começo desta reportagem) a Moçambique, onde passei dias fabulosos no divino arquipélago de Bazaruto.
A emissão com milhas não foi simples: precisei mudar não apenas alguns dos destinos que faziam parte da minha lista inicial como também o próprio sentido da viagem - eu planejava voar de oeste para leste e precisei voar de leste para oeste.
Também não foi possível conseguir assento em classe executiva em todos os voos: em dois dos dez voos da minha RTW eu aceitei voar em econômica ou a passagem não fechava. O custo em milhas da minha RTW não mudou em função desses dois voos em econômica, mas a minha franquia de bagagem em executiva foi mantida para todos os voos do bilhete.
A minha volta ao mundo foi fabulosa, incluindo passar até o meu aniversário em Bangkok, mais ou menos na metade da viagem.
A aventura contou com destinos novos e velhos conhecidos, paisagens lindas de outono e primavera e visitas a grandes cidades, montanhas, vilarejos encantadores, savanas cheias de vida selvagem e praias paradisíacas - e, é claro, muitos novos amigos na estrada.
Recomendo e não vejo a hora de conseguir embarcar numa próxima.
1 comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Artur Fernando Silva Sentieiro
Você pode passar o itinerário e dias em cada lugar? Fez a emissão em uma única ligação na tap? Quais trechos não tinham executiva disponível? Qual franquia de bagagem? Obrigado!!!