Valência, Star Wars e a cidade que já nasceu do futuro

Um arquiteto que projeta o amanhã

O responsável por esse cenário de ficção científica que existe no mundo real é Santiago Calatrava, arquiteto valenciano conhecido por sua estética ousada, orgânica, branca e imponente. Seu traço é reconhecível à distância: esqueletos de vidro e aço que parecem estar em movimento, mesmo quando estão parados.

Calatrava não se contenta em construir prédios. Ele desenha gestos. E um de seus trabalhos mais famosos no Brasil é justamente o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Erguido na zona portuária revitalizada, o museu evoca uma nave interestelar recém-pousada — ou prestes a decolar. A semelhança com sua cidade natal não é coincidência: a inspiração vem do mesmo imaginário que funde ciência, arte e sonho.

A cidade das artes, das ciências? e dos Jedi?

Inaugurada em 1998, a Ciutat de les Arts i les Ciències é um complexo cultural e científico composto por seis edifícios monumentais, todos projetados por Calatrava e pelo arquiteto Félix Candela. O espaço ocupa o antigo leito do rio Turia, transformado em parque linear depois que o rio foi desviado para evitar enchentes.

Entre os principais destaques estão:

Os horários variam por atração, mas o museu de ciências funciona geralmente das 10h às 18h (até 19h em alta temporada), o aquário das 10h às 20h, e o Hemisfèric também costuma abrir às 10h. Dá pra comprar ingresso combinado e passar o dia inteiro flutuando entre saber e espetáculo.

Coruscant existe - e é espanhola

Coruscant é o planeta-capital da galáxia em Star Wars. Um mundo inteiramente coberto por cidade, onde vivem senadores, chanceleres, cavaleiros Jedi, imperadores e espiões. Aparece pela primeira vez em 1997, na edição especial de O Retorno de Jedi, mas é nos prequels - especialmente A Ameaça Fantasma (1999) e O Ataque dos Clones (2002) — que Coruscant ganha vida como centro político e simbólico da República Galáctica.

A estética de Coruscant mistura brutalismo, art déco, neofuturismo e... Valência. Isso mesmo: a Cidade das Artes e das Ciências serviu como inspiração visual direta para cenas ambientadas no planeta, especialmente nas séries mais recentes como Andor e Ahsoka. Não é exagero dizer que a arquitetura de Calatrava ajudou a dar forma ao cânone visual de Star Wars nos últimos anos.

E o making of?

Em Andor, a decisão de trazer Coruscant de volta foi estética e política. A série não apenas reapresenta o planeta como o mostra com detalhes raramente vistos — corredores do Senado, varandas dos prédios administrativos, apartamentos minimalistas de agentes imperiais. A produção usou locações reais como base estética, incluindo edifícios em Londres e Valência. Embora nem sempre a Ciutat de les Arts i les Ciències tenha sido usada diretamente como cenário físico, sua arquitetura foi escaneada, digitalizada e reinterpretada pelos designers da Lucasfilm, na série Andor as gravações foram em loco, e fez muita diferença para tornar "real" aquele universo imaginário.

Segundo o designer de produção Luke Hull, a ideia era fazer de Coruscant um lugar de beleza opressiva. "Queríamos que fosse monumental e esmagador. E que parecesse um lugar onde tudo está sob controle — até a luz." O branco refletivo, os ângulos arredondados e o uso do espelho d'água de Valência forneceram o contraste exato entre civilização e vigilância. Um futuro deslumbrante — mas cheio de armadilhas.

Visite Valência - ou Coruscant?

Se você estiver planejando uma viagem para a Espanha, talvez valha incluir Valência no roteiro não apenas pelas praias, paellas e ruas medievais do centro histórico, mas também para caminhar por Coruscant em carne e osso. Estive lá em 2024, e não posso recomendar mais!

É possível alugar uma bicicleta e cruzar todo o complexo, ou simplesmente sentar-se nos bancos entre fontes e espelhos d'água, enquanto observa turistas boquiabertos e crianças correndo sob estruturas que parecem naves alienígenas.

E se for fã de Star Wars, prepare a câmera: em Valência, cada esquina pode virar um frame épico. Porque em tempos em que o futuro parece sempre adiado, há algo profundamente reconfortante — e cinematográfico — em saber que ele já existe em algum lugar do presente.

Guia rápido: visitando a Ciutat de les Arts i les Ciències

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