'Melhor hotel do mundo' tem monge exclusivo e sensação de ser único hóspede

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"O nosso hotel é o melhor do mundo. Ao final de uma semana, você será uma pessoa completamente diferente", diz o concierge ao dar boas-vindas aos recém-chegados a este canto especial da Tailândia.
A frase, de um dos personagens da temporada mais recente de "White Lotus" — que foi ao ar este domingo — bem poderia ter sido dita pela simpática atendente que, ajoelhada ao lado do sofá de couro caramelo onde estou confortavelmente acomodado, registra minha entrada enquanto me oferece um suco de goiaba verde geladíssimo.
Aqui não há recepção nem check-in como o habitual. Estou na Tailândia, mais precisamente na unidade de Bangkok da rede de luxo Capella — o hotel eleito como o melhor do mundo segundo a influente (e nem sempre consensual) lista dos World's 50 Best Hotels.
Estou sozinho?

Trata-se de um verdadeiro oásis à beira do rio Chao Phraya, em pleno centro da caótica, vibrante e sonora Bangkok. Uma propriedade com 101 acomodações — incluindo villas privativas e suítes — em que a mais "básica" (onde fiquei hospedado) tem diárias que começam nos US$ 850 (cerca de R$ 5.000).
Depois de atravessar a imponente porta ladeada por dois cavalos de pedra, o hóspede é conduzido a um lounge com sofás amplos e mesas baixas, mais parecido com a sala de estar de algum bilionário de gosto refinado do que com o lobby de um hotel tradicional.
Pense em treliças de madeira escura, detalhes em mármore, cadeiras espaçosas de design assinado. Não há nada de ostentação explícita: tudo segue a cartilha do chamado quiet luxury.
Os móveis transitam entre tons de bege e cinza, e não há um só dourado gritando status. É uma elegância contida, quase sussurrada, que se revela nos detalhes — e que conquista exatamente por isso.
Essa atmosfera discreta e elegante se impõe em todos os espaços: flores naturais bem cuidadas, uniformes sóbrios com corte impecável e uma equipe sempre sorridente (mas nunca invasiva).
O silêncio, aliás, não é só uma ideia — é literal. Várias vezes tive a sensação de ser o único hóspede do hotel, enquanto portas do tamanho de paredes se abriam sem ruído algum, revelando salões públicos com ares de catedrais.

Na piscina, não há crianças gritando (ainda que, surpreendentemente, elas estejam lá). No café da manhã, nada de fila no buffet — até porque quase tudo é servido à la carte, com excelentes opções. Em uma das tardes, deitei numa espreguiçadeira em frente ao rio e li por horas, sem ouvir sequer um passo ao meu redor.
Meu sacrossanto silêncio só foi interrompido por uma festa misteriosa — que não sei dizer se vinha de um barco cruzando o rio ou da própria margem onde o hotel se encontra. Imagino que o som estivesse ensurdecedor para os presentes, já que conseguiu atravessar as janelas praticamente blindadas do meu quarto no sétimo andar. Porque, nos outros três dias ali, a quietude era quase desconcertante — especialmente para uma cidade como Bangkok.
Privacidade total e melões para refrescar

As boas-vindas no quarto de mais de 60 metros quadrados incluem uma porção de Som Sai Nam Pueng (laranjas nativas plantadas Chiang Mai, no norte do país), um arranjo de flores frescas e água de coco.
Aqui, espaço e luz são protagonistas: as janelas amplas deixam entrar a claridade suave da manhã e oferecem uma vista direta para o Chao Phraya, onde um movimento constante de barcos de pesca e táxis fluviais atravessa o cenário o dia todo.
A cama, larga e irresistivelmente macia, parece ter sido desenhada para abraçar e não deixar sair. E do lado de fora, um terraço mobiliado com espreguiçadeiras convida ao ócio absoluto.
Ninguém te vê ali — é o tipo de privacidade que só hotéis muito bons conseguem oferecer sem esforço, como se o mundo inteiro tivesse sido colocado em modo silencioso só para você.

Assim que pouso minha mala no armário maior que o do meu apartamento, pedem que eu escolha cinco peças de roupa para serem passadas. Em menos de quatro horas, o simpático empregado traz as camisas perfeitas, protegidas dentro de um porta-terno.
No mundo do luxo, a diferenciação mora nos mínimos detalhes. Fazer a cama para o hóspede dormir e deixar o confortável chinelo de plush do lado da cama já não é algo inédito.
Meu quarto tem desde uma caixinha com cortador e lixa de unhas até uma gaveta com kits de vaidade no banheiro (de escova de cabelo a lenços umedecidos) em caixinhas que, colocadas lado a lado, revelam uma antiga cena à beira do rio.
Há tomadas e entradas USB em abundância (um alívio em tempos digitais), cafés, snacks e bebidas não alcoólicas de cortesia no frigobar. Ao perceber que eu quase só consumi água com gás, no dia seguinte meu frigobar foi recarregado com muitas garrafinhas extras.

Na piscina, toda vez que você se acomoda em uma das espreguiçadeiras, aparece um funcionário com singelas fatias de melão servidas sobre gelo — a maneira mais elegante (e refrescante) de enfrentar o calor tropical.
Meditação especial
A comida é um dos diferenciais aqui: tanto as refeições na piscina, quanto nas mesas de frente para o rio, o menu é servido pelo Phra Nakhon, restaurante com acento thai que não quer fazer concessões.

O café da manhã vai muito além das avocado toasts e tem de sopas picantes até ovo pochê servido com enguia defumada. No resto do dia, serve curries, noodles e pratos tão autênticos que foi preciso dois litros de água para conseguir me recuperar de uma salada com carne de porco e vegetais.
Há também um bar com coquetéis criativos — todos com ingredientes tailandeses — com concertos, e um restaurante de influência mediterrânea (entre francesa e italiana) assinado pelo reconhecido chef Mauro Colagreco (do famoso Mirazur, na França): o Côte tem duas estrelas Michelin e um serviço de vinhos primoroso.
Mas se a ideia é descobrir mais sobre a comida de rua de Bangkok, os culturalistas (nome dado aos concierges) do hotel podem organizar uma rota com um dos chefs da casa por noodles, pad thais e outras especialidades pelas ruas do fervilhante bairro de Talat Noi.
O meu roteiro começou com um copo gelado de café tailandês torrado pela Summer Coffee Co., uma das melhores cafeterias do país, e terminou na fila de uma portinha com cadeiras e mesas de plástico que serve um pato imperdível.
Também há outras atividades com curadoria do hotel para desbravar a cidade: uma rota pelos templos com um historiador especializado em religião ou aulas de muay thai com um campeão mundial em seu centro de treinamento.

Há até um momento de meditação com um monge de um templo de mais de 250 anos que vem ao Capella só para a sessão. A verdade é que poucos hóspedes parecem querer sair — eu mesmo tirei o nariz para fora em poucas ocasiões (um jantar e a rota de comida de rua).
De massagem tailandesa a uma sessão de ioga poucos minutos antes do nascer do dia (para fazer uma saudação ao sol), o hotel se esforça para manter os hóspedes em sua propriedade o maior tempo possível.
Se vale o título de melhor hotel do mundo? Não sei. Mas por esse preço, o mínimo que posso fazer é acreditar — e aproveitar cada segundo ali.
*O jornalista se hospedou a convite do Capella Bangkok
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