Rixa com russos deixou marca, e brasileiro passou a usar caneleira especial
“Treino é treino, jogo é jogo”. A frase imortalizada pelo ex-atacante da seleção brasileira Didi não pode ser aplicada ao Benfica de meados da década de 90. No time português, os treinamentos eram tão pegados que era mais fácil algum jogador se machucar ali do que durante algum jogo oficial. Tudo por conta de rivalidade dos jogadores da Rússia com brasileiros e portugueses.
Quem conta é o ex-meia Aílton, que foi revelado pelo Atlético-MG e teve passagens por São Paulo, Cruzeiro e São Caetano, entre outros. O ex-jogador relata que o time português da temporada 93/94 vivia um racha com os russos Yuran, Kulkov e Mostovoi, que não se davam bem com os atletas da língua portuguesa.
Lembra que chegou a ser xingado por palavrões pelo trio e que as entradas e dividas eram de sair faísca. Certa vez, decidiu ir para o tudo ou nada em um lance e se deu bem mal. Depois disso, aderiu à mesma tática dos rivais: utilizar uma resistente caneleira feita com casco de tatu que era produzida pelo time português.
“Tenho um furo na canela que foi feito pelo Yuran. Eles (três russos) não se davam bem com os brasileiros e portugueses. Um dia ele (Yuran) ficava me chamando de um nome chamado “bilet”. Depois fui descobrir que isso era um palavrão e dei uma chegada nele. Depois ele deu um carrinho forte e eu pulei. Aí o Mozer (brasileiro do elenco) falou pra mim tomar cuidado porque os russos eram maus e não gostavam da gente. Mas o russo conseguiu me acertar no meio da canela e fez um furo. Levei três pontos”, recordou.
A tática para se proteger dos treinos pegados foi se igualar aos russos. Ailton conta que depois disso foi pedir para a comissão técnica do clube português que fizesse uma caneleira como aquela pra ele. A proteção especial, segundo o ex-jogador, era feita com casco de tatu e moldada especialmente para a perna de cada atleta.
“Essa caneleira era feita da seguinte forma: eles engessavam a sua perna e colocavam uma tala de ferro atrás, na região da panturrilha até o tendão de aquiles. Depois, com gesso, mandavam para o laboratório fazer naquele tamanho como uma casca de tatu. Foi a melhor caneleira que já usei, era feita na Espanha. Não quebrava e protegia muito bem. Comparando com as outras, parecia que as normais nem eram caneleira”, recordou.
Ele passou então a usá-la nos treinamentos como defesa, mas os “pegas” com os russos acabaram diminuindo. Mas ela teve uso estratégico quando voltou ao Brasil, para jogar no São Paulo, em 94, para duelos contra os sul-americanos que costumavam bater um pouco mais. “Precisávamos usar essa caneleira, pois os argentinos batiam muito e eram maliciosos. Usava em jogos da Libertadores, que os caras batiam muito”, recordou.
O jogador conta que um companheiro dos tempos de Cruzeiro a pediu emprestada e não devolveu mais. E ela fez falta em um jogo do São Caetano na Libertadores de 2002. “Tive que sair de campo na final São Caetano x Olímpia em 2002 por causa de uma dividida com o goleiro e que minha perna ficou sangrando. Aí acabei tendo que sair e o Jair Picerni colocou o Marlon, volante, pra fechar o time”, recordou.
Aílton foi peça chave naquela final e marcou o gol da vitória por 1 a 0 do time brasileiro, no jogo de ida, no Paraguai. Na volta, partida em que se refere, abriu o placar no primeiro tempo para a equipe do ABC, mas acabou substituído e viu o time levar a virada e perder a decisão nos pênaltis.
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