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Furacão Fonseca é rebaixado a tempestade tropical (mas só por enquanto)

Não, este não é um texto sobre o tenista João Fonseca. Se você leu o título e veio aqui procurando críticas ao jovem de 18 anos, perdeu tempo. Não é disso que trata este texto. O tema aqui é o cenário criado em todo o planeta - sobretudo no Brasil, é claro - com a ascensão do carioca no circuito mundial e o reconhecimento que ele já recebe dos maiores nomes da modalidade.

Depois da vitória sobre Rublev, o tempo fechou. O que restava da bolha explodiu. O garoto virou assunto em blogs de fofocas, vídeos de influenciadores, papos de elevador e cadeiras de barbeiro. Futebolizaram Fonseca. Quem se achava primeiro fã e descobridor de Fonseca foi chorar abraçado ao travesseiro e seu teste tuiteiro de paternidade. A banda indie virou mainstream e saiu da garagem para as arenas de 50 mil lugares.

De onde saiu? De que se alimenta? Gosta de futebol? Flamengo? Sério?! Qual a arroba no Insta? Fã-clubes surgiram. Haters, idem. "Minha entrevista deu sorte", disse um. "Vou para Cuba", disse outro (na real, acho que quem disse isso foi o mesmo entrevistador, mas pouco importa). Apareceu também um clubinho de ódio torcendo contra o rapaz só porque supostamente seu sucesso vai ofuscar outros brasileiros. E, de repente, passou a ser questão de vida ou morte saber em quem João Fonseca vota e deixa de votar (antes que perguntem, eu não sei).

Isso tudo pipocou depois de UMA vitória no Australian Open. Sim, uma vitória de peso, mas ainda na primeira rodada. O furacão cresceu e ganhou força enquanto Daniil Medvedev (#5 do mundo) e Frances Tiafoe (#16) eram eliminados do torneio também nesta quinta. Tivesse avançado à terceira rodada, Fonseca enfrentaria o #59 do ranking. Podia pegar o #121 nas oitavas. E só deus sabe quem pararia esse tsunami com João nas quartas de final de um slam.

A última vez que algo parecido aconteceu no tênis brasileiro? Só mesmo com Guga. Se o homem jogava no Brasil, pipocava gente de tudo que é lugar com todo tipo de intenção. Desde os jornalistas do nicho tenístico até comediantes de TV e todo tipo de pseudosubcelebridade - e isso foi antes dos smartphones, das selfies e das redes sociais esfomeadas por conteúdo.

Não é necessariamente uma crítica. Fora meia dúzia de pessoas realmente sem noção e que atrapalham o trabalho das outras, todo mundo quer apenas ter uma história para contar, e João tornou-se o nome do momento, como um trending topic qualquer porque, afinal, é isso que engaja.

A derrota de Fonseca na segunda rodada em Melbourne enfraquece o fenômeno meteorológico. Como acontece com certa frequência, o furacão foi rebaixado à categoria de tempestade tropical. O nome de João vai ganhar um descanso entre os criadores de conteúdo e vai voltar à bolha do tênis pelo menos até o Rio Open, em meados de fevereiro. Vai dar tempo para todo mundo respirar e processar com calma quem é o rapaz.

Mas que ninguém se engane: Fonseca ainda vai brilhar mais e mais, e o furacão vai chegar com toda força. Cedo ou tarde, implacável como forehands que cruzam a quadra a 181 km/h. Inevitável.

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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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