Quem conhece Julieta Pareja, jovem de 16 que está nas quartas de um WTA?

- Quem conhece a Julieta Pareja?
- Eu, não.
- Ninguém conhece. Só que ela fez final do quali profissional do US Open com 15 anos. Ela está #500 na WTA. Ela tem seis meses a mais só do que a Naná [Nauhany Silva, brasileira de 15 anos, atual #1.234 na WTA]. Ela tem uma vida de jogadora de tênis e uma vida de adolescente de 15 anos normal.
O diálogo acima aconteceu em dezembro do ano passado, em São Paulo, durante a Procopio Cup. Na ocasião, Léo Azevedo, que chefia o departamento de alto rendimento do grupo Rede Tênis Brasil (RTB), conversava comigo sobre as principais promessas do tênis nacional e me explicava a diferença de badalação entre uma adolescente promissora americana e uma brasileira. O papo passou por Naná, Victoria Barros, Guto Miguel e João Fonseca. Azevedo faz constatações importantes sobre as diferenças de cenário e o quanto elas afetam o desenvolvimento de jovens tenistas.
"Nós, culturalmente, vivemos num país carente de ídolos, e quando aparece alguma coisa, é a 'próxima salvação'. Todo mundo é o 'próximo não-sei-o-quê'. Como lidar com isso? Nós, como treinadores, gastamos muito tempo para tentar tirar o jogador desse oba-oba. O treinador da Julieta Pareja não precisa falar sobre isso. É direita, esquerda, tática." ... "Uma menina de 14 anos e um menino de 15 não estão preparados para essa exposição tão grande, esse assédio tão grande. O que eu tento com a Naná é expô-la ao mínimo do mínimo do mínimo. Ela tem os compromissos dela, a imprensa é parte importante do business, mas as pessoas não têm dimensão do que acontece com ela. Eu falo: a gente tem o dever cívico de proteger uma criança. É uma criança."
"Se chegarem para mim todo dia e falarem 'você é o novo Higueras', chega um momento em que meu ego vai... Imagina com 14 anos! Não tem muito como controlar isso. Por isso que eu falo: é um dever de todo mundo que está no meio. Quem está no meio? O entorno mais próximo: família, treinador e tal; depois são os incontroláveis, que são a imprensa - e eu divido bem o que é a imprensa e quem são os influencers, que são coisas distintas; e o público em geral, que a gente não tem controle nenhum. Mas eu acho que se um dia alguns desses que fazem isso pararem um pouquinho pra pensar 'Pô, se eu tivesse um filho de 14 anos, será que eu gostaria de ter essa exposição?' Eu não gostaria. Agora... De novo, como dizem os espanhóis, es lo que hay. E a gente tem que educá-los. A família da Naná é super legal. Família humilde, escuta muito a gente. Em nenhum momento, subiu à cabeça isso que falam. Eles mantêm a vida normal e corrente como era antes e como tem que ser."
"O que chega na Naná, no Guto, na Pietra, é o seguinte: você é isso, você é aquilo. É a nova Sabalenka, é 'metralhadora não sei o quê', é 'matadora de profissional'. Ao mesmo tempo, a gente vive numa democracia. Cada um escreve o que quiser. Não posso chegar no cara e falar 'por favor, não chama ela de nova Sabalenka'."
São apenas alguns trechos. A íntegra está aqui.
REMEMBER HER NAME
-- wta (@WTA) April 2, 2025
Sixteen year old Julieta Pareja defeats Tig, 6-3, 7-6(3), to become the youngest WTA quarterfinalist since 2021!#CopaColsanitasZurich pic.twitter.com/2Vt3LUspbr
E por que resgato a conversa justamente hoje? Porque Julieta Pareja tornou-se, nesta semana, a mais jovem quadrifinalista de um torneio de nível WTA desde 2021. Ela também é a primeira tenista nascida em 2009 a vencer um jogo de chave principal de nível WTA.
Aos 16 anos, a americana furou o qualifying do WTA 250 de Bogotá, na Colômbia. Na primeira rodada, superou a convidada colombiana Maria José Uribe (#1.259) por 6/1 e 6/1. Nas oitavas, bateu a romena Patricia Maria Tig (#243) por 6/3 e 7/6 (3). Vai enfrentar a francesa Leolia Jeanjean (#116) em busca de um lugar na semi. Tem vídeo do jogo contra Tig aqui.
Mais legal ainda que tenha acontecido em Bogotá. Seu avô por parte de pai e sua mãe nasceram na Colômbia. Julieta, por sua vez, nasceu na Califórnia e, por isso, joga pelos Estados Unidos no circuito.
Coisa que eu acho que acho:
- A intenção do post não é questão de comparar com os jovens brasileiros (por isso, nem listarei rankings e resultados recentes). A ideia aqui é simplesmente lembrá-los da entrevista com Léo Azevedo porque há muito conteúdo interessante e relevante para quem se interessa pelo trabalho com as "categorias de base" do tênis.
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