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Grãos de saibro: Alcaraz e Zverev voltam a vencer, e Rune surpreende

Depois de duas semanas de torneios de saibro na Europa, é hora de comentar o que aconteceu, como aconteceu e por que o piso fez bem para Alexander Zverev (campeão em Munique), Carlos Alcaraz (campeão em Monte Carlo) e, pasmem, Holger Rune (campeão em Barcelona).

Alcaraz passou pela, digamos, primeira metade do pré-Roland Garros muito bem, ainda que com altos e baixos, principalmente na semana de Monte Carlo, onde saiu campeão. O saibro faz bem para o jovem espanhol porque dá uma certa margem maior para suas oscilações. Na quadra dura, quando perde o saque num daqueles games em que dá três ou quatro pontos de graça, Carlitos tem mais dificuldade para quebrar de volta. Logo, joga com a corda no pescoço o tempo todo. E será assim enquanto seguir com esses péssimos games - ainda que jogando bem no resto dos sets.

O saibro dá ao espanhol uma chance maior de ameaçar os saques dos adversários e, portanto, oportunidades de se recuperar desses games ruins que pipocam aqui e ali. Isso aconteceu contra Cerúndolo, Fils e até na final contra Musetti em Monte Carlo. Com o título, Alcaraz adquiriu ritmo e confiança. Assim, chegou à final de Barcelona sem perder sets - inclusive deixando De Minaur e Fils pelo caminho. O título só não veio depois de nove vitórias seguidas porque...

Holger Rune foi o grande nome de Barcelona. E uma surpresa e tanto, considerando sua temporada de problemas físicos e inconsistências (sim, eu sei que ele foi vice em Indian Wells). O dinamarquês, aliás, parece ter se reencontrado com o estilo de tênis que mais lhe favorece: trocas de bola mais longas e contra-ataques mortais. Algo parecido com o que Djokovic faz de melhor (falo de estilo, não de qualidade, gente!). Rune sempre foi mais eficiente assim do que quando tentou, aqui e ali, definir partidas com pontos mais curtos.

No torneio espanhol, Holger foi um paredão que derrubou os ótimos saibristas Báez e Ruud (este último, com certa facilidade) e acabou testando a paciência de Alcaraz na final. O espanhol, acostumado a comandar ralis do fundo de quadra, não levou a vantagem habitual neste domingo. Assim, frustrado com a competência e a regularidade do oponente, afobou-se e tomou decisões ruins, sobretudo com precipitadas (e péssimas) subidas à rede. Da metade do segundo set até o fim, Rune foi senhor do jogo.

Pela ótima sequência de atuações em Barcelona, é lógico que Rune passe a aparecer em um posto mais alto na lista de candidatos ao título de Roland Garros, mas resta um ponto de interrogação sobre seu condicionamento. Por quanto tempo ele aguentará jogar nesse ritmo e com essa consistência? E se o fizer em Madri e/ou Roma, chegará bem fisicamente a Paris?

Alexander Zverev por sua vez, passou por um momento difícil mentalmente, como ele mesmo admitiu em entrevistas. Não lidou bem com a derrota na final do Australian Open e, em vez de descansar o corpo e a cabeça, cumpriu com os compromissos vindo a Buenos Aires e Rio de Janeiro. Nota 10 pelo profissionalismo, mas é inegável que a sequência lhe fez mal, e o resultado disso foram derrotas precoces em Acapulco, Indian Wells, Miami e Monte Carlo (além de Rio e BA, claro).

Foi necessário voltar para casa, no ATP 250 de Munique, para voltar a somar vitórias seguidas. Sim, era uma chave um tanto acessível, mas Sascha só perdeu um set em uma semana contra Muller, Altmaier, Griekspoor, Marozsan e Shelton. Já é algo para quem precisava bastante de um período assim. O título, combinado com o revés de Alcaraz diante de Rune, recoloca Zverev como número 2 do mundo - o que é importante porque, mantido o posto, evita uma semi contra Sinner em Roma e Roland Garros.

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Coisas que eu acho que acho:

- Escrevo este texto antes da final do WTA 500 de Stuttgart, mas vale lembrar aqui da sexta derrota de Iga Swiatek em seis jogos contra Ostapenko. É verdade que o momento da ex-número 1 não é das melhores, mas é admirável a insistência da polonesa em tentar derrotar a letã na base da pancadaria, sobretudo nos últimos três duelos. Iga não tenta dar um ou dois passos para trás, usar mais spin ou desacelerar o jogo. E com um segundo saque vulnerável, que Ostapenko vem agredindo com eficiência, a polonesa não consegue incomodar a rival com consistência. Mentalmente, Jelena está acostumada a esse jogo de poucos tiros. Iga, não. E enquanto seguir por esse caminho, a ex-número 1 tende a continuar com problemas com a letã.

- Também em Stuttgart, Beatriz Haddad Maia sofreu sua nona derrota seguida, desta vez para Emma Navarro, por 6/3 e 6/0. Em má fase e vindo de um fim de semana em quadra dura pela Billie Jean King, o resultado não espanta. O que incomoda, contudo, é que Bia voltou a perder uma sequência enorme de games, evidenciando uma questão que parece ser muito mais mental do que tática ou técnica. Só nessa sequência de nove reveses, são cinco jogos em que ela perdeu pelo menos seis games seguidos. É para pensar.

* Contra Navarro, Bia perdeu nove games seguidos.
* Contra Bouzas Maneiro, pela BJK Cup, foram sete.
* Contra Noskova, também pela BJK Cup, também sete.
* Contra Fruhvirtova, em Miami, seis. Um pneu no primeiro set.
* Contra Kartal, em Indian Wells, foram cinco games seguidos no segundo set.
* Contra Potapova, em Dubai, outros nove games seguidos.
* Contra Frech, em Doha, foram cinco games seguidos no set inicial.
* Contra Kudermetova, em Melbourne, cinco games seguidos também.

- Para não deixar passar: achei muito consciente a opção de João Fonseca e seu time por não competir nestas duas semanas. É preciso lembrar que o carioca de 18 anos, que competiu com brevíssimos intervalos desde dezembro do ano passado (Next Gen Finals), vinha com muito mais partidas acumuladas do que a elite da ATP. A pausa lhe deu tempo para descansar e treinar em casa, no Rio de Janeiro, antes do retorno em Madri, nesta semana. Não fazia sentido queimá-lo em busca de pontos neste período.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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