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Colapinto diz que é mais difícil ser sul-americano na F1 e elogia Bortoleto

Franco Colapinto não aparecia entre os principais candidatos para substituir Logan Sargeant na Williams na mídia e, três corridas depois da estreia do argentino, é de se perguntar o porquê. É fato que sua experiência com carros de F1 não era das mais extensas. Ele tinha feito um dia de teste em Abu Dhabi no final do ano passado e uma sessão de treinos livres no GP da Grã-Bretanha, em julho. Mas tinha ido bem em ambas as ocasiões, e vinha fazendo um bom trabalho também no simulador da Williams, algo importante para as equipes da F1 em tempos de testes limitados.

Dois fatores pesavam contra ele, e estão interligados. Colapinto nunca esteve entre aqueles pilotos que conseguem os melhores orçamentos, e isso fez com que ele nunca andasse em equipes de ponta nas categorias de base. Mesmo em categorias nas quais se corre com carros iguais, o orçamento faz a diferença na maneira como cada time aproveita o equipamento que tem em mãos, então os bons resultados de um piloto com menos orçamento são menos óbvios que os dos rivais.

E ele é argentino, o que não ajudava em termos de orçamento e também a ser levado tão a sério no automobilismo europeu. "É sempre mais complicado ser sul-americano. É mais difícil se conectar por muitos fatores. Mas obviamente estou feliz por ter conseguido me conectar. A Williams é uma equipe que sempre me dá oportunidades para jovens pilotos. Eles me deram oportunidade, muita confiança e foi meio que uma aposta. Então, obviamente, estou muito feliz por mostrar que mereço a oportunidade", disse a nova sensação da F1 em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Das dificuldades financeiras às grandes parcerias

Colapinto é um exemplo de piloto que veio basicamente do nada e foi, como ele diz, "conectando-se". Sua família é simples, dos arredores de Buenos Aires, e o pai chegou a vender a casa da família para financiar o sonho do filho de correr na Europa. "Eu fui para a Itália com 14 anos e foi preciso crescer muito rápido em alguns momentos, o que pode ser difícil na vida de uma criança. Passamos por momentos complicados, mas no final foi uma experiência de que gostei muito."

Colapinto usava equipamento emprestado, corria com capacete todo preto porque não tinha dinheiro para fazer pintura, contou com uma campanha nas mídias sociais dos apaixonados torcedores argentinos para conseguir financiamento. As histórias são muitas, mas sua situação mudou quando a empresa que administra sua carreira, a Blue Sports Management, firmou parceria com a petrolífera Gulf Oil, algo que teria passado pelo próprio carisma de Franco.

Eis que a Gulf se torna parceira da Williams e Colapinto é contratado como piloto do programa de desenvolvimento de pilotos da equipe inglesa. Com isso, vai ganhando mais patrocinadores. Em teoria, não era um lugar muito atrativo, devido à proximidade da equipe com a Mercedes, que já tinha usado a Williams para promover a estreia de George Russell, por exemplo.

Mas a Williams troca de comando, passa para as mãos do ambicioso James Vowles, e ele quer um caminho independente. Quando precisa de um piloto, chama Colapinto.

E ele mostrou, em três corridas, tendo pontuado em uma delas e sempre andando muito perto do bem mais experiente companheiro Alex Albon, que estava pronto.

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"Estou aproveitando cada corrida. Não conheço nenhum circuito daqui até o final da temporada, a não ser Abu Dhabi. Tenho que ir passo a passo, aproveitando o momento que tenho com a equipe."

"Gabriel é um piloto muito bom"

Gabriel Bortoleto é o atual líder do campeonato da F2
Gabriel Bortoleto é o atual líder do campeonato da F2 Imagem: Getty Images

A ótima campanha de Colapinto também é um bom sinal para os pilotos da Fórmula 2, categoria que disputava como estreante neste ano, tendo vencido uma das sprints, em Imola, com uma ultrapassagem ousada no finalzinho da prova.

O campeonato da categoria de acesso à F1 está sendo liderado pelo brasileiro Gabriel Bortoleto, com quem Colapinto correu também em 2021 na FRECA e em 2023 na Fórmula 3, campeonato vencido por Bortoleto. Eles se cruzaram antes disso, na época de kart, também.

"Ele é um piloto muito bom, corri com ele desde que era bem novo. Está tendo grandes resultados e o nível da F2 é muito alto neste ano."

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Colapinto, contudo, também aponta algo que é muito falado no paddock da F2. "São muitas coisas em jogo, e as coisas vão mudando muito de uma corrida para a outra, dependendo de como uma equipe se adapta a cada pista."

De fato, vem sendo um campeonato com altos e baixos até para a equipe Prema, que tem um dos maiores orçamentos e que está formando dois pilotos para o grid da F1 ano que vem, Kimi Antonelli, que vai correr pela Mercedes, e Oliver Bearman, que vai pilotar pela Haas.

E Colapinto? O plano sempre foi aproveitar essas nove corridas que tem na Williams até o final do ano para ganhar experiência, tornar-se reserva em 2025 e estar bem colocado para uma eventual vaga de titular em 2026.

É claro que, com os ótimos resultados, o nome dele começou a aparecer no mercado já para 2025, mas a verdade é que Colapinto acabou chegando muito tarde para ser seriamente considerado, mesmo com as tentativas de Vowles de cedê-lo por empréstimo. O jeito para o argentino de 21 anos é não mudar o que está dando certo.

"A verdade é que a Williams é uma equipe da qual eu gosto muito. Eles que me deram a oportunidade, acreditaram em mim desde muito jovem. E eu ficaria muito feliz em poder continuar aqui no futuro. Mas eu não tenho um plano. Não estou pensando em 2025. Estou indo corrida a corrida."

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2 comentários

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Edson Menezes

Sai da frente que o Colapinto vem abrindo caminho.

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Danilo Mantey da Silva Gonçalves

Da minha parte ganhou ainda mais respeito é bacana ver um caso de superação ainda mais no automobilismo que é reconhecidamente um esporte de elite. E acho que os programas de formação de pilotos das equipes hj até ajudam os q não dispõem de tantos recursos financeiros. O Colapinto não teria nenhuma chance de entrar num F1 a algumas décadas atrás.

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