É correto a CBF convocar Paquetá e Luiz Henrique?
Lucas Paquetá e Luiz Henrique tiveram seus nomes citados em suspeitas de envolvimento com apostas no futebol. A situação de Paquetá é de uma acusação formal enquanto a de Luiz Henrique, até aqui, não é. Os que argumentam a favor da convocação dos jogadores pedem respeito ao direito básico de presunção de inocência. Um argumento poderoso. Mas eu queria contra-argumentar que, embora eles só possam ser declarados culpados depois de a justiça assim determinar, há motivos para que não tivessem sido convocados.
O primeiro é o de que, tendo seus nomes citados em caso tão grave, a chance de que nenhum dos dois tenha cabeça para jogar com tranquilidade é imensa. E seleção brasileira não deveria existir para recuperar ou oferecer apoio a jogadores. Ela deveria ser ambiente para que apenas os melhores, e em suas melhores condições físicas e mentais, fossem convocados. Especialmente em fase tão conturbada e vexatória de sua história enquanto instituição representante do futebol brasileiro.
Há quanto tempo Paquetá não faz a diferença em campo? Na melhor das hipóteses, ele entra e não compromete. Faz sentido a queda de rendimento se pensarmos que ele deve estar bastante perturbado com as acusações. Se não está, deveria. Em caso de ser inocente, como torcemos para ser, o peso da intranquilidade seria ainda maior porque a sensação de estar sendo injustiçado e de estar nas mãos de uma justiça que nem sempre é justa é devastadora. Capaz de tirar até um monge do eixo.
Luiz Henrique, desde que reportagem do UOL revelou que recebeu dinheiro de pessoas ligadas à família de Paquetá, também caiu de produção. Os nomes dos familiares de Paquetá que depositaram dinheiro na conta de Luiz Henrique estão citados numa lista de 70 a 80 apostadores considerados suspeitos pela investigação da Federação Inglesa sobre o meia do West Ham. Por ser craque, mesmo jogando abaixo do que pode, Luiz Henrique ainda assim faz diferença. Mas vale para ele o mesmo argumento que usei para Paquetá: seleção deveria ser casa para os melhores em suas melhores condições. Não me parece ser esse o momento de Luiz Henrique.
O segundo aspecto é a gravidade das acusações. Sim: inocentes até que se prove o contrário. Mas quem repete a frase mecanicamente parece querer que ajamos como se não houvesse suspeita alguma. E as suspeitas existem. Não podemos fingir que não existem. São suspeitas que estão fincadas em indícios que passam até por comprovantes de transferências bancárias, como revelou a já citada reportagem do UOL.
Por tudo isso acho que não seria prudente manter os dois atletas vestindo a camisa da seleção nesse momento. Os clubes ainda podem alegar que eles são necessários por serem atletas de ponta e que não vão por isso abrir mão de escalá-los a despeito da seriedade do contexto, mas a seleção pode dizer que Paquetá e Luiz Henrique são imprescindíveis em suas posições?
A torcida é para que eles não estejam envolvidos em malfeito algum e para que nada, portanto, possa ser provado. Nutro por Luiz Henrique uma espécie de idolatria desde que o vi surgir no Fluminense de Abel Braga. É um jogador com características únicas, craque no mais pleno sentido da palavra, uma joia do futebol brasileiro. Até por isso, e por ser muito jovem, acho que clube e CBF deveriam atuar no sentido de protegê-lo. Dessa vez, pela delicadeza do caso, a proteção passaria pela não convocação.
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