Tony Marlon

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Opinião

'Faça terapia': conselho de Michael, do Flamengo, é um golaço

Nos Estados Unidos para a pré-temporada, o jogador Michael, do Flamengo, deu uma entrevista que mereceu mais destaque no jornalismo esportivo. Virou corte nas redes sociais, e só. Enquanto falava da expectativa para 2025, o atacante deixou um conselho para si mesmo, aos 20 anos: "Faça terapia, que vai te ajudar".

Não é a primeira vez que Michael traz a saúde mental para a conversa esportiva. Mérito dele e do jornalista que fez a pergunta. Uma pena não saber o seu nome, para registrar aqui. Tudo que acontece ao redor de uma partida de futebol, já é a partida de futebol. O placar, se jogou bem ou não, é só uma das tantas maneiras de se contar a história de um jogo.

Em sua primeira passagem pelo Flamengo em 2021, o jogador foi corajoso e, por que não dizer, generoso, ao abrir a sua intimidade numa entrevista e dividir que viveu um período de depressão profunda ao trocar o Goiás pelo rubro-negro carioca, no ano anterior. Contou que, na época, chegou a ter pensamentos suicidas. Foi quando entendeu onde estava emocionalmente. Buscou apoio profissional.

"Eu tive depressão, sofri muito com isso. Na época, eu estava no hotel e quis me suicidar. Me veio pensamentos ruins e eu queria saber como era me jogar do prédio. Então, eu gritei por socorro", contou ao Canal Barbaridade na época.

Eleito jogador revelação do Campeonato Brasileiro em 2020, Michael foi contratado pelo clube carioca por quase R$ 35 milhões. Tudo parecia um sonho: trabalhar numa das cidades mais famosas do mundo, em um clube gigantesco, com uma torcida que é maior que a população da maioria dos países. Fazer aquilo que ama fazer. Sonho era mesmo, mas a realidade é a realidade. E lá estava ele, lidando com um furacão para dentro de si mesmo.

"Não tenho vergonha de falar isso porque depressão quase todo mundo tem, mas ninguém quer assumir. Orgulho não serve para nada, só serve para nos matar", seguiu na mesma entrevista ao Canal Barbaridade. Quatro anos depois, e Michael voltou ao assunto, na quarta-feira (15). Em outro momento da vida. Por isso, a gente sabe o quanto cuidar da saúde mental foi divisor de águas para ele.

"Em 30 dias, eu perdi duas pessoas. Minha mãe e minha avó. Não estava bem mentalmente. Pedi ao clube para sair, eles não deixaram. Me apoiaram para eu cuidar de mim", revelou nesta semana.

Antes de voltar ao Flamengo em agosto de 2024, Michael trabalhava em um clube da Arábia Saudita. Longe de casa, da maioria das amizades, teve que lidar com essas perdas, com o luto. Soube identificar bem mais rapidamente o que acontecia dentro dele. O psiquiatra e a psicóloga foram essenciais neste momento, ele contou. Para viver o momento que vive agora: fazendo planos, se sentindo feliz. Se sentindo bem.

Uma pessoa pública, inspiração e referência para tantas crianças e adolescentes que acreditam em cada vírgula da sua existência, falar abertamente sobre depressão e saúde mental é importante demais. Obrigado por isso, Michael.

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Muitas vezes a gente sabe sentir, mas não sabe dar nome ao que sente. E aí vem um jogador, uma jogadora. Aquele artista que a gente gosta e nos ajuda a entender: "Passo por alguma coisa parecida com isso. E essa pessoa que eu admiro buscou apoio. Eu vou buscar, também". E vai.

No Brasil, cuidar da saúde mental é gratuito, um direito assegurado pelo Estado. Entenda melhor aqui. O gol acontecendo lá no estádio, alguém se salvando do outro lado do país. Por conta de uma entrevista de três minutos. É aquilo: Tudo que acontece ao redor de uma partida de futebol, já é uma partida de futebol.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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