Mariana Sgarioni

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Reportagem

"Segurança alimentar é o desafio da humanidade", diz VP da PepsiCo

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Uma equação que o mundo está longe de conseguir resolver é a falta de segurança alimentar. Tanto que acabar com a fome é um dos princípios que encabeçam os chamados ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Diante de um problema que só aumenta, a expectativa é que as indústrias do setor alimentício estejam de mangas arregaçadas e olhos bem abertos.

"Para mim, o desafio mais crítico da humanidade é garantir que todos os seres humanos tenham acesso aos alimentos e que terão múltiplas refeições ao dia. Este é o tema que mais investimos. Estamos desde novas tecnologias de produção, produtos de impacto social até soluções que pensam na distribuição dos alimentos", diz Suelma Rosa, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos da PepsiCo América Latina.

A gigante do setor lançou no ano passado o arroz de aveia Quaker, produto que tem 100% do lucro revertido para o combate à fome, em parceria com a Instituição Social Amigos do Bem que atua no semiárido nordestino. O lançamento integra uma das estratégias ESG da PepsiCo, chamada PepsiCo Positive, que tem como meta aumentar, globalmente, o acesso a alimentos nutritivos para 50 milhões de pessoas até 2030.

Para a companhia, as metas sociais devem estar atreladas a práticas do que chama de "agricultura positiva", que incluem desde melhorar os meios de subsistência de mais de 250 mil pessoas em comunidades agrícolas em todo o mundo como também a preservação dos recursos naturais: no Brasil, por exemplo, 100% das batatas fornecidas para a companhia já são de origem sustentável, baseados nos pilares econômico, social e ambiental.

A PepsiCo anunciou também a substituição de combustíveis fósseis por gás biometano na sua maior fábrica, em Itu (SP), onde são produzidos conhecidos snacks como Lay's, Cheetos e Doritos - ali foi instalada uma estação de abastecimento de biometano capaz de atender até 100% a demanda de gás para cozimento, fritadeiras, fornos e caldeiras de água da fábrica, totalizando aproximadamente 15 mil metros cúbicos por dia. "Produzir um Doritos no Brasil emite menos carbono do que produzir o mesmo Doritos em qualquer outra parte do mundo porque aqui a matriz energética é limpa", lembra a VP da PepsiCo.

Nomeada pela Bloomberg Línea uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina, a executiva já fez parte do Conselho de Administração no Pacto Global da ONU, da Abbi (Associação Brasileira de Bioinovação) e do Conselho da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos). Leia a seguir a entrevista exclusiva de Suelma Rosa à coluna Negócios Sustentáveis.

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Ecoa: Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo enfrentam a fome e a insegurança alimentar - e este número tende a subir. Qual o papel de uma gigante de alimentos diante deste cenário?

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Suelma Rosa: Este é o principal desafio da humanidade. Muito mais do que as mudanças climáticas. Em inglês, dizemos que é o safety and security: safety é a segurança da qualidade do produto e o security é assegurar acesso ao produto, ao alimento. Porque tem a fome e tem a insegurança. Existem muitas dimensões entre elas, inclusive a desigualdade. Por este lado, há muito o que fazer no Brasil e estas ações de impacto social são prioridade para nós, como o arroz de aveia Quaker, com 100% do lucro revertido para o combate à fome. Uma outra dimensão, que é muito mais complexa do ponto de vista mundial, é quando a gente pensa a distribuição demográfica e os locais onde se produz alimentos. Eles não são coincidentes. Existem zonas produtoras e zonas consumidoras - elas são distantes.

Como assim?
A população mundial está concentrada na Índia, na China, com bilhões de pessoas, literalmente. Quando você vê o ciclo de crescimento demográfico mundial, ele está todo indo para a Ásia. E os maiores produtores de alimentos estão do outro lado do mundo, como o Brasil. Então como é que você produz alimento num lugar, leva para outro lugar, que fica longe, com integridade e segurança, para que não haja contaminação. Este é um dos papeis da indústria de alimentos.

Existe o abastecimento local também.
Sim, claro. Isso não invalida a nossa responsabilidade com os cinturões verdes e a pequena produção de alimento que está abastecendo as cidades. Mas quando a gente pensa no equilíbrio entre as zonas produtoras e as zonas consumidoras no mundo, precisamos de soluções e tecnologias que garantam que o tempo de vida do produto seja longo o suficiente para chegar com qualidade no consumidor. Uma outra parte da segurança alimentar é a acessibilidade, ou seja, garantir que as pessoas consigam ter acesso ao alimento de verdade e que isso seja estável. Ou seja: que a pessoa tenha certeza que vai comer todos os dias. Isso também é um desafio mundial. E a gente precisa enfrentar isso não apenas como empresa, mas como humanidade. Por fim, temos ainda o próprio impacto das mudanças climáticas nisso: os regimes das chuvas estão mudando e mexendo na produção agrícola. Isso tudo está dentro do mesmo pacote de segurança alimentar.

Existe um caminho das pedras que aponte uma solução?
Acho que no momento não cabe o protagonismo de ninguém: é todo mundo junto coletivamente buscando soluções. A indústria junto com a academia, com muita ciência, com essas startups que estão trazendo inovações e que precisam de apoio para escala, com as populações tradicionais. E sem esquecer de que forma o pensamento individual pode contribuir para a coletividade. Como cada indivíduo pode tomar decisões mais conscientes e assumir a responsabilidade de comprar produtos de empresas que estão mobilizadas e, principalmente, dão suficiente transparência para o que estão fazendo.

Sandálias se transformam em piso de playground depois de descartadas

Isabela Chusid, fundadora da Linus
Isabela Chusid, fundadora da Linus Imagem: Fernanda Corsini/Divulgação
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Um ótimo exemplo da chamada lógica da economia circular que vai dos pés ao chão: a Linus, fabricante de sandálias veganas de PVC, numa parceria com a Playpiso, agora encaminha seus calçados que seriam descartados para se transformarem em pisos de playgrounds infantis.

Em vez de jogar fora, a empresa encoraja os consumidores a levarem seus pares de sandálias usados a suas lojas. De lá, as peças são encaminhadas para trituração e, em seguida, são misturadas a pneus velhos também triturados para, na sequência, se tornarem o recheio de novos pisos que amortecem quedas das crianças brincantes em parques. O projeto-piloto do material já está sendo utilizado no Clube Athletico Paulistano, em São Paulo.

As sandálias da Linus são feitas de PVC ecológico expandido, material que já é 100% reciclável. Porém, a fabricação do calçado ainda conta com pontos mais sustentáveis: todos os lubrificantes e plastificantes são compostos por óleos vegetais, a fivela facilita a reciclagem e toda a produção é livre de plástico, incluindo a embalagem. "Não adianta ser apenas reciclável. É preciso também mostrar qual a origem do seu material", lembra Isabela Chusid, CEO e fundadora da Linus.

Segundo ela, as sandálias possuem - propositalmente - um ciclo de vida grande e podem ser encaminhadas para qualquer estação de reciclagem. Porém, a iniciativa com a Playpiso, uma das maiores fabricantes de pisos esportivos do país, é um projeto que deve ser um exemplo de circularidade. "A economia circular é crucial para aprimorar a gestão de resíduos".

Em operação desde 2018, a Linus também produz meias e bonés, além de uma infinidade de cores de sandálias. A fábrica fica no sul do país e a empresa hoje conta com mais de 450 pontos de venda física. Pelo e-commerce, já são mais de 200 mil pedidos desde sua fundação, e a expectativa é a abertura de outros 50 pontos de venda fora do Brasil neste ano.

IA mede estoque de carbono no solo de fazendas de gado da Marfrig

Projeto-piloto monitora o estoque de carbono do solo
Projeto-piloto monitora o estoque de carbono do solo Imagem: Getty Images/iStockphoto
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Com a expansão do mercado de créditos de carbono, a Marfrig, uma das maiores produtoras de carnes do mundo, está de olho na qualidade do solo de suas propriedades rurais e também de seus fornecedores. Em parceria com a fintech Agrorobótica, a empresa deu início a um projeto-piloto que utiliza recursos avançados de IA (inteligência artificial) para monitorar o estoque de carbono de suas fazendas.

O projeto começou verificando o solo das propriedades que fornecem gado à Marfrig no Mato Grosso. A técnica utilizada é a mesma que a Nasa emprega em seus robôs para estudar o solo de Marte. "Com laser, retiramos amostras que vão para análise com IA. O resultado aponta 23 parâmetros deste solo entre nutrientes, textura e carbono. Com estes dados é possível melhorar o estoque e sequestro de carbono de cada local e assim entrar em programas de créditos", explica Fábio Angelis, CEO da Agrorobótica.

A coleta é feita em diferentes profundidades do solo com o laser LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy), que não gera nenhum tipo de resíduo químico no local. De acordo com Angelis, a técnica foi trazida ao Brasil pela Embrapa em 2005 - porém somente em 2020 a fintech entrou na parceria para o desenvolvimento da IA no país. A análise completa do solo com esta tecnologia demora cerca de 20 segundos.

Segundo a Marfrig, a iniciativa visa acelerar o compromisso da empresa em alcançar uma pecuária de baixo carbono, 100% rastreada, livre de desmatamento, inclusiva, e mais produtiva neste ano de 2025. A ideia é expandir este projeto-piloto a todos os produtores da cadeia de fornecimento da companhia.

"Para quem trabalha com agropecuária, a qualidade do solo é essencial. Um pasto degradado é ruim para tudo - inclusive para o animal. Ao melhorar o solo, você melhora também a qualidade do capim, além de, claro, a capacidade de sequestro e estoque de carbono. Com um carbono de alta qualidade você tem a possibilidade também da geração de créditos, que pode ser convertido em remuneração ao produtor, uma fonte de renda extra", diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig.

De acordo com o executivo, apostas em tecnologias de ponta como esta podem subir a régua da pecuária no país. "Com dados colhidos de forma rápida e eficiente, é possível ter uma pecuária de baixa emissão e utilizar menos áreas, por exemplo, diminuindo a abertura de novas. Já existem áreas suficientes para dobrar a produção no Brasil: com o manejo certo sobra espaço, não existe nenhuma necessidade de desmatamento. A tal da agropecuária regenerativa nada mais é do que isso: medidas das capacidades do solo".

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