Mariana Sgarioni

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Reportagem

Impactos da construção: onde vão parar os restos de tinta das obras?

Taí uma conta difícil de acertar: qual o número exato de latas de tinta que devemos comprar para uma pintura sem que haja sobra ou falta? Na maioria das vezes, ficam aquelas latas entulhadas em algum canto com restos que dificilmente serão reaproveitados e acabam, adivinhe, indo parar nos aterros sanitários. Muitas tintas são feitas à base de solventes, metais pesados (como chumbo, cádmio e mercúrio) e outros aditivos tóxicos que podem se infiltrar no solo, atingindo lençóis freáticos - ou seja: a água.

Portanto, o descarte deste material precisa ser cuidadoso. A Suvinil, uma das principais fabricantes de tintas do país, conta com um programa de logística reversa que pode ajudar nesta tarefa, o Suvinil Circula. A empresa espalhou pelo país pontos de entrega voluntária onde o consumidor pode deixar lá as sobras de tinta (pode ser de qualquer marca), incluindo sprays, esmaltes e vernizes. "Com a intenção de facilitar a jornada da pintura, fizemos um mapeamento e identificamos que o descarte é uma dor dos consumidores", afirma Andrea Ferreira, Gerente de Sustentabilidade da Suvinil.

As sobras de tinta são recolhidas para coprocessamento e reciclagem, respectivamente, e reinserção dos materiais na cadeia produtiva. Funciona mais ou menos assim: o material recolhido nos pontos de venda vão para um campo de triagem onde são separados. Os materiais vazios são mandados diretamente para a reciclagem. Já aqueles contendo restos de produtos são encaminhados para um novo processamento em indústrias de cimento e se transformam em combustível para fornos. Existem hoje 102 pontos de coleta voluntárias no Brasil, distribuídos em 6 estados (SP, ES, MG, RJ, PR e SC) e 35 cidades.

Como lembra a marca, o ideal é não sobrar. E há dicas interessantes da própria empresa para isso. Como, por exemplo, misturar as sobras de tinta para produzir outra cor, como cinza ou concreto. Claro que esta mistura só pode ser feita com produtos do mesmo tipo e características (não junte tintas à base de água com outras à base de solvente). Outra dica é a doação de sobras: sempre tem alguém com interesse nesta tinta: uma escola, uma creche, uma casa de repouso ou até mesmo um vizinho.

A preocupação sobre o descarte de tintas não é à toa. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o setor cresceu 21,2% desde 2019. Junto com este crescimento acelerado vieram os impactos. De acordo com o Ministério das Cidades, estima-se que os resíduos de construção e demolição representem de 51% a 70% dos sólidos urbanos. Os desperdícios das obras estão na casa dos 40%: a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), do IBGE, aponta que a indústria utiliza, em média, 8% mais material do que o necessário. Quando falamos em materiais como tinta e tijolos, este número passa dos 25%.

"Até o início deste ano já havíamos recolhido 179 mil quilos de material, o que significa uma redução de mais de 294 mil quilos de carbono na atmosfera. Mas ainda não é suficiente, por isso pretendemos ampliar este programa", diz a executiva da Suvinil.

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