Mariana Sgarioni

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Reportagem

Brilho mais sustentável: como são os diamantes criados em laboratório

Quem admira o brilho eterno dos diamantes deve lembrar que a pedra preciosa mais cobiçada do mundo também eterniza impactos ambientais e sociais sem precedentes por conta de sua extração predatória. Sem contar que não existe uma fonte infinita que jorra diamantes sem parar - portanto, eles têm dia e hora para acabar no planeta.

Para resolver estas e outras questões, a indústria criou os diamantes cultivados em laboratório, que são réplicas idênticas às pedras naturais, com a mesma aparência e composição, porém que não carregam as degradações da exploração mineral.

Os diamantes naturais são formados em um processo que dura milhões de anos no meio de rochas fundidas ao manto terrestre. Nestes locais, existem calor e pressão em altas quantidades capazes de transformar o carbono na pedra preciosa. Os laboratórios procuram imitar estas condições naturais em reatores, onde os diamantes vão crescendo numa velocidade muito mais acelerada: em cerca de seis a nove semanas a pedra já está pronta para ser lapidada. O produto final é quimicamente idêntico ao original, ou seja, produzido a partir de carbono.

A tecnologia não é nova: já vem sendo usada desde os anos 1950, mas era destinada apenas para uso industrial. Só recentemente passou a ser disseminada no mercado de joalheria, já que cada vez mais os consumidores se preocupam com a origem e o rastro de destruição que deixam os produtos que compram.

"Quem vê aquele colar maravilhoso numa vitrine, cheio de diamantes, não vê tudo que está por trás daquilo, por onde aquele diamante passou. A peça é linda, mas sua história pode ser horrível", observa Luna Nigro, sócia da GAEM, primeira joalheria brasileira a trabalhar exclusivamente com os chamados diamantes cultivados em laboratório, além de ouro reciclado rastreado por blockchain em todas as suas joias.

Todos os diamantes comercializados pela empresa, que vêm de laboratórios no exterior, têm certificado e origem de procedência. "Temos clientes que antes não usavam joias por princípio e hoje em dia compram com a gente. Há casos de noivos, por exemplo, que querem um diamante cultivado porque não desejam começar uma história de amor com uma pedra de origem duvidosa", conta Luna.

A mineração dos diamantes naturais traz um impacto ambiental significativo em todas as suas fases - desde a exploração até o processamento. Para começo de conversa, ela já exige grandes quantidades de área desmatada para abrir o espaço da atividade. Máquinas e equipamentos pesados liberam gases poluentes no ar, afastam a biodiversidade e poluem a água. De acordo com uma pesquisa feita para o Imperial College London, em 2021, cada quilate de diamante extraído da natureza corresponde a uma pegada de 108,5 quilos de carbono - uma emissão equivalente à produção de cerca de 13 mil smartphones.

Sem contar que a mineração de diamantes vem sendo ligada a guerras civis, principalmente em alguns países do continente africano. O termo "diamantes de sangue" foi definido pelas Nações Unidas como: "Qualquer diamante extraído em áreas controladas por forças que se opõem ao governo legítimo e internacionalmente reconhecido de um país e que é vendido para financiar ações militares contra esse governo". Nestas regiões de conflito, existem trabalhos forçados e diversas violações de direitos humanos no comércio e extração da pedra.

Nestes quesitos, as pedras de laboratório realmente são mais responsáveis. Porém, é bom lembrar que elas não estão livres de impacto. Para alcançar os níveis de pressão e temperatura semelhantes aos naturais, existe um altíssimo uso de energia - em geral, proveniente de combustíveis fósseis, uma vez que boa parte destes laboratórios estão em países em que a energia renovável é pouco disponível. Entretanto, com o crescimento do mercado e a urgência da transição energética, é perfeitamente possível fazer este ajuste para uma produção que utilize energia limpa. Um bom desafio para não apagar de vez o brilho eterno dos diamantes.

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