Empresas exageram nos benefícios ambientais de seus produtos, diz estudo

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"Eco-friendly", "100% reciclável", "Neutro em carbono"; "Não prejudica os animais". Estes são alguns dos termos que estão na moda e são usados a rodo em rótulos de produtos. São bonitos, pegam bem, mas não querem dizer rigorosamente nada. Se não houver uma prova de que o produto de fato cumpre o que está escrito ali, pode apostar que é greenwashing, aquelas ações de marketing feitas para promover uma falsa imagem de que determinada marca é ecologicamente responsável.
Uma pesquisa inédita realizada pela Market Analysis Brasil com o apoio do Instituto Akatu revelou que 85% das alegações ambientais feitas pelas marcas no Brasil são falsas ou enganosas, índice semelhante ao registrado há dez anos. Isso indica que estas marcas praticam greenwashing e que a transparência anda bem opaca no mercado.
O estudo analisou 2.098 produtos de diferentes categorias, identificando um total de 3.045 alegações ambientais. A metodologia envolveu pesquisas detalhadas em websites de empresas, programas e organizações certificadoras para garantir a qualificação adequada de cada alegação. O número de promessas ecológicas cresceu 28% desde 2014, porém ficou constatado que muitas companhias no mercado não têm nenhum respaldo no que dizem nos rótulos.
"Verificamos, em muitos casos, o desconhecimento por parte dos produtores. Atributos que são comunicados de forma equivocada e outros, que são importantes, mas que não são comunicados. Então grande parte do problema está na ignorância sobre o assunto", diz Lucio Vicente, diretor do Instituo Akatu.
Entre os diferentes tipos de greenwashing identificados, o mais comum foi o classificado com "Incerteza", presente em 57% dos produtos analisados. Essa prática ocorre quando uma marca utiliza declarações vagas e subjetivas, como "amigo do meio ambiente", ou similares. Também há muitos casos de marcas que colocam informações irrelevantes, como: "Não contém CFC", um composto químico poluente e que já foi proibido há muitos anos.
As categorias de produtos que se destacaram negativamente pelo greenwashing foram: Limpeza (96%); Casa, Jardim e Construção (86%); Eletroeletrônicos e acessórios (86%) e Cosméticos e higiene pessoal (75%). No caso dos produtos de limpeza, a pesquisa revelou um aumento preocupante de 27% na quantidade de alegações verdes sem comprovação em relação a 2014.
"Existe um aumento de diversos tipos de consumo atrelado a estes números. Houve um crescimento da adesão do consumidor para produtos de limpeza. Com o crescimento econômico, também houve este aumento de consumo de eletroeletrônicos. E também existem produtos de necessidade diária: as pessoas não deixam de tomar banho, por exemplo. Então, não podemos imputar a responsabilidade do consumidor checar isso o tempo todo. As empresas têm a responsabilidade de serem transparentes", explica Vicente.
As marcas querem, cada vez mais, colocar atributos verdes em seus produtos porque os consumidores estão mais exigentes. O estudo aponta que o senso crítico dos consumidores em relação às práticas de responsabilidade ambiental das empresas está afiado. As ações de incentivo positivo (premiação) e de punição (boicote ou crítica pública) vêm aumentando significativamente ao longo do tempo.
"Acredito que o âmbito regulatório deveria evoluir e construir critérios para cada tipo de setor. Não adianta cada um declarar o que quer. Deve-se exigir, no mínimo, que o produto diga quanto usou de água, energia e recursos naturais, por exemplo. Além disso, deve haver uma responsabilidade de autorregulação das empresas: elas podem fomentar, frente às suas associadas, uma evolução de transparência. E o terceiro ponto é conectar o consumidor: ele precisa consultar as companhias para checar sempre que estiver em dúvida sobre qualquer informação", completa Vicente.
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