Mariana Sgarioni

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Reportagem

Por que a sociobioeconomia pode transformar a forma de fazer negócios

O nome é tão comprido que muita gente já desiste antes mesmo de entender o que é: sociobioeconomia. Porém, não se assuste com palavrões. Estamos diante de um modelo que integra as três pontas mais importantes para o desenvolvimento nos tempos de hoje: os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Ou seja: a sociobioeconomia compreende tudo o que os países e as empresas devem perseguir se quiserem continuar existindo.

Parece bom, mas o que isso significa exatamente? A sociobioeconomia promove o desenvolvimento econômico mantendo a floresta em pé, recuperando áreas devastadas, unindo uma economia de baixo carbono ao bem-estar dos povos originários que vivem nas nossas matas. É um novo paradigma econômico que olha além da simples fabricação de um produto: ele pensa na forma de sua produção, no território em que está inserido, na sua diversidade, nas relações que as pessoas têm com este território, além de, obviamente, na preservação. A proposta aqui é o uso sustentável da nossa biodiversidade, integrando a ciência, tecnologia e saberes tradicionais.

No ano em que o Brasil sediará a COP-30, a sociobioeconomia não sai da boca do governo e vem fazendo os olhos dos investidores brilharem. No mês passado, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Banco da Amazônia (BASA) assinaram um acordo de cooperação para fortalecer o financiamento da sociobioeconomia na Amazônia. O acordo tem como objetivo a formação de cem agentes de crédito rural da sociobioeconomia e da agroecologia por ano durante os cinco anos de vigência da parceria, entre 2025 e 2029.

Em junho de 2024, o governo lançou a Estratégia Nacional de Bioeconomia, focada no desenvolvimento sustentável e produtivo. Um de seus pilares, o Plano Nacional de Sociobioeconomia, está em construção, sendo criado de forma colaborativa, com a participação de mais de 250 pessoas, incluindo 150 representantes de comunidades tradicionais. O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é uma das organizações que está apoiando a construção deste documento e a implementação da política no Brasil.

O modelo da sociobioeconomia é atraente. De acordo com o instituto de pesquisa WRI Brasil, atividades baseadas na floresta em pé e em conhecimentos locais já geram um PIB de pelo menos R$ 12 bilhões ao ano na região amazônica. A estimativa do PIB em um cenário de bioeconomia na Amazônia Legal seria de R$ 38,5 bilhões em 2050, empregando cerca de 950 mil pessoas.

"Para empresários e investidores, a sociobioeconomia representa uma oportunidade de negócios concreta e crescente. Exemplos reais demonstram esse potencial: a cadeia do açaí, antes restrita a economias locais, movimentava cerca de US$ 50 milhões anuais há duas décadas. Hoje, esse valor chega a US$ 1,2 bilhão por ano na Amazônia e a US$ 15 bilhões globalmente. Em um curto espaço de tempo, a valorização de um produto da sociobiodiversidade multiplicou seu impacto econômico, provando que negócios sustentáveis podem escalar e ser altamente lucrativos", defendeu, em artigo, Fabio Alperowitch, fundador da gestora Fama Re.capital, que, no ano passado, criou os primeiros fundos de crédito do país dedicados a fomentar a sociobioeconomia dos biomas brasileiros.

O que falta, então, para a sociobioeconomia decolar? Para começo de conversa, uma melhor compreensão dos modelos de produção das populações tradicionais - que não visam o lucro imediato. Isso envolve mergulhar numa outra bolha de realidade, assumir mais riscos, e considerar que não é possível dar de ombros para o impacto socioambiental de sua produção. E assim nasce uma nova geração de negócios.

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