Mariana Sgarioni

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Reportagem

'Pote não foi feito para ser jogado fora', diz diretora da Tupperware

Os potes Tupperware são quase uma relíquia nas casas das famílias brasileiras. Atire a primeira pedra quem nunca ouviu a mãe ou a avó pedir de volta aquele pote tão precioso - ou ainda mandar comidinhas gostosas ali dentro com um singelo bilhete: "Devolva meu Tupperware".

A marca tão conhecida por aqui - que chegou a ser sinônimo de pote - passou por um período de ostracismo e, no ano passado, chegou a pedir recuperação judicial, evitando a falência por um triz ao fechar um acordo com seus credores. A empresa agora está de volta e quer reforçar sua presença na vida dos brasileiros com a campanha "Destampe o Futuro", que lembra a esta geração que os potes foram feitos para durar, portanto, são mais sustentáveis que a concorrência. "Desde o desenho e a forma, ele é pensado para não quebrar. Existe uma tigela na casa da minha mãe que está lá, em uso, desde a minha infância, ou seja, no mínimo há 40 anos", comenta Patrícia Braga, diretora de Marketing LATAM da Tupperware.

A empresa foi fundada nos anos 1940 pelo químico norte-americano Earl Tupper, que inventou um pote que fechava a vácuo e assim mantinha os alimentos frescos por mais tempo. Muita gente não entendia direito como isso funcionava e a virada veio quando a vendedora Brownie Wise teve a ideia de reuniões em domicílio, onde as donas de casa podiam ver, tocar e aprender a usar os potes em um ambiente descontraído. Essas reuniões ganharam o mundo - inclusive o Brasil - e eram chamadas de "Festas do Tupperware", que se tornou um fenômeno não só de vendas como também social. O modelo impulsionou o sucesso da marca e também abriu caminho para a independência financeira das mulheres, sobretudo em uma época em que o mercado era dominado pelos homens.

Nesta nova fase, a Tupperware quer unir as gerações, mostrando, por um lado, a versatilidade de seus produtos, e, por outro, reafirmando o impacto positivo e sustentável de escolhas mais duradouras no dia a dia. É o que diz a executiva Patrícia Braga, na entrevista a seguir.

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Ecoa: Muitas pessoas associam a Tupperware a memórias afetivas. Como a marca pensa em aproveitar essa nostalgia para se reconectar com as novas gerações?
Patrícia Braga:
A campanha "Destampe o Futuro" aposta no conceito de "newstalgia", uma brincadeira que une nostalgia e inovação, trazendo produtos duráveis, seguros e sustentáveis para o cotidiano das pessoas. A Tupperware nunca deixou de ser atual, mesmo com quase 80 anos de existência. Ela já nasceu com o objetivo, por exemplo, de evitar o desperdício, mantendo alimentos bem armazenados, e com produtos de durabilidade superior a outros que hoje você encontra no mercado. E a marca também traz a questão da afetividade. Há inúmeras histórias que ligam os potes com a vida das pessoas.

Ecoa: Conte algumas dessas histórias.
Patrícia Braga:
Há pessoas que deixaram seus Tupperwares de herança em testamentos, como relíquias mesmo. Teve uma mãe que vendeu a moto do filho, que estava em seu nome, para comprar Tupperwares, afirmando que o filho e a moto davam muito trabalho... E um outro caso de um casal que se conheceu quando a moça foi devolver a tampa de um Tupperware para a vizinha e o rapaz abriu a porta. Apaixonaram-se. No dia do casamento, colocaram a tampa do Tupperware no bolo. Existem diversas histórias curiosas como estas que mostram todo o lado social da marca.

Ecoa: As chamadas "Festas de Tupperware" trazem estas memórias, além de terem revolucionado todo um modelo de venda direta no mundo. Mas que hoje concorrem com outros modelos, como o e-commerce.
Patrícia Braga: A venda direta corresponde a maior parte da nossa força de vendas no Brasil. Existem outros setores que também atuam com venda direta, como joias, cosméticos, mas no setor de utensílios domésticos somos basicamente os únicos. Nossa força de vendas é tão passional e tão apaixonada que falamos que temos uma comunidade. Mas acompanhamos as tendências e temos também nosso e-commerce, além de vários marketplaces. Entretanto, seguimos incentivando a venda direta, que é feita majoritariamente por mulheres. É um modelo de negócio que trouxe às mulheres um empoderamento e uma independência financeira muito importante. Muitas conseguiram educar os filhos, comprar um carro, sua primeira casa, viajar. Tudo vendendo Tupperware. Seguimos encorajando isso.

Ecoa: Os potes Tupperware são feitos de plástico, um material que leva séculos para se decompor e tem um impacto brutal no ambiente. De que forma esta nova fase da Tupperware prioriza a sustentabilidade?
Patrícia Braga:
Em primeiro lugar, o Tupperware não é qualquer pote. Estamos falando de uma marca que foi pensada e produzida para durar. Não se trata destes plásticos mais baratinhos que a gente compra em site e que quebra na primeira queda. Ou, pior ainda, plásticos que soltam elementos tóxicos na sua comida. A marca já foi criada com o propósito de não desperdiçar alimentos, usar o melhor tipo de material para a saúde, e evitar o descarte. Isso foi ficando cada vez mais forte com o tempo. Hoje um produto Tupperware tem 10 anos de garantia. Ou seja, é um prazo mínimo que a gente garante que este produto vai durar. A nossa produção também vem se modernizando: hoje 95% do material que entra na fábrica é utilizado e o restante é encaminhado para coprocessamento, ou seja, para fazer outros produtos de plástico, como interruptores de luz, etc. Nosso foco da sustentabilidade é oferecer soluções duráveis e reutilizáveis que reduzem o desperdício e substituem plásticos descartáveis, aliando inovação, praticidade e design inteligente.

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Ecoa: Por exemplo.
Patrícia Braga:
Nós fomos uma das primeiras marcas a lançar as garrafas de água para levar na bolsa e assim evitar o consumo de garrafas descartáveis. A Eco Tupper virou febre no mundo todo, o produto mais vendido, e está de volta agora em várias medidas. E a gente traz as novidades também, os últimos lançamentos da marca focados em inovação. Então, tem a caneca térmica, a pipoqueira de silicone, que faz pipoca no microondas em dois minutos, sem ter que colocar óleo. E as bolsas de silicone, que são uma das principais inovações que trazemos: você coloca um alimento ali, lacra, e pode ir do freezer ao microondas direto - na verdade, ela é tão bonita e versátil que dá inclusive para guardar outras coisas, como maquiagem. A ideia da sustentabilidade está aqui: você tem um produto que seja durável e que pode ser usado para diversas funções. Não precisa ter muito plástico em casa, afinal. Muito menos jogá-lo fora.

Impactos da construção: para onde vão os restos de tinta das obras?

A Suvinil, uma das principais fabricantes de tintas do país, conta com um programa de logística reversa para reciclagem
A Suvinil, uma das principais fabricantes de tintas do país, conta com um programa de logística reversa para reciclagem Imagem: Unsplash

Taí uma conta difícil de acertar: qual o número exato de latas de tinta que devemos comprar para uma pintura sem que haja sobra ou falta? Na maioria das vezes, ficam aquelas latas entulhadas em algum canto com restos que dificilmente serão reaproveitados e acabam, adivinhe, indo parar nos aterros sanitários. Muitas tintas são feitas à base de solventes, metais pesados (como chumbo, cádmio e mercúrio) e outros aditivos tóxicos que podem se infiltrar no solo, atingindo lençois freáticos - ou seja: a água.

Portanto, o descarte deste material precisa ser cuidadoso. A Suvinil, uma das principais fabricantes de tintas do país, conta com um programa de logística reversa que pode ajudar nesta tarefa, o Suvinil Circula. A empresa espalhou pelo país pontos de entrega voluntária onde o consumidor pode deixar lá as sobras de tinta (pode ser de qualquer marca), incluindo sprays, esmaltes e vernizes. "Com a intenção de facilitar a jornada da pintura, fizemos um mapeamento e identificamos que o descarte é uma dor dos consumidores", afirma Andrea Ferreira, Gerente de Sustentabilidade da Suvinil.

As sobras de tinta são recolhidas para coprocessamento e reciclagem, respectivamente, e reinserção dos materiais na cadeia produtiva.? Funciona mais ou menos assim: o material recolhido nos pontos de venda vão para um campo de triagem onde são separados. Os materiais vazios são mandados diretamente para a reciclagem. Já aqueles contendo restos de produtos são encaminhados para um novo processamento em indústrias de cimento e se transformam em combustível para fornos. Existem hoje 102 pontos de coleta voluntárias no Brasil, distribuídos em 6 Estados (SP, ES, MG, RJ, PR e SC) e 35 cidades.

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Como lembra a marca, o ideal é não sobrar. E há dicas interessantes da própria empresa para isso. Como, por exemplo, misturar as sobras de tinta para produzir outra cor, como cinza ou concreto. Claro que esta mistura só pode ser feita com produtos do mesmo tipo e características (não junte tintas à base de água com outras à base de solvente). Outra dica é a doação de sobras: sempre tem alguém com interesse nesta tinta: uma escola, uma creche, uma casa de repouso ou até mesmo um vizinho.

A preocupação sobre o descarte de tintas não é à toa. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o setor cresceu 21,2% desde 2019. Junto com este crescimento acelerado vieram os impactos. De acordo com o Ministério das Cidades, estima-se que os resíduos de construção e demolição representem de 51% a 70% dos sólidos urbanos. Os desperdícios das obras estão na casa dos 40%: a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), do IBGE, aponta que a indústria utiliza, em média, 8% mais material do que o necessário. Quando falamos em materiais como tinta e tijolos, este número passa dos 25%.

"Até o início deste ano já havíamos recolhido 179 mil quilos de material, o que significa uma redução de mais de 294 mil quilos de carbono na atmosfera. Mas ainda não é suficiente, por isso pretendemos ampliar este programa", diz a executiva da Suvinil.

Rio tem a primeira moradia estudantil projetada para incluir PCDs

Moradores da residência estudantil da Uliving, localizada no Rio de Janeiro, a primeira no país adaptada para acolher jovens com deficiência
Moradores da residência estudantil da Uliving, localizada no Rio de Janeiro, a primeira no país adaptada para acolher jovens com deficiência Imagem: Divulgação

O sonho de morar sozinho e ter uma vida independente dos pais povoa a mente da maioria dos jovens - incluindo aqueles que têm algum tipo de deficiência. Esta conquista deve ser ampliada e um projeto pioneiro no Brasil vem chamando a atenção pelo seu sucesso: no prédio icônico do antigo Hotel Novo Mundo, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, funciona uma residência estudantil especialmente preparada para receber, entre outros, adultos com deficiência intelectual.

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Trata-se de um projeto da Uliving, empresa que atua no setor de moradias estudantis, em parceria com o Instituto JNG, que atua em prol da autonomia e independência de adultos com deficiência. Hoje o projeto conta com 10 apartamentos tipo estúdio (quarto, cozinha e banheiro, mobiliados e equipados com TV, frigobar e cooktop) direcionados para esta finalidade. O prédio também conta com vários espaços de lazer compartilhados em que a interação é estimulada.

"Não se trata de uma moradia apenas para PCDs, muito menos um espaço de internação, ou algo hospitalar. É um lugar para jovens estudantes de todos os tipos e lugares. Apenas alguns apartamentos são reservados a pessoas com deficiência. O clima em todo o prédio é alegre, colorido e de convivência", explica Flávia Poppe, presidente e fundadora da JNG.

Segundo Ewerton Camarano, CEO da Uliving, o projeto foi pensado para ser democrático, direcionado a estudantes universitários. "Nosso papel é fomentar a integração e queremos conectar estas pessoas a atividades nos espaços comuns, estimular seus interesses e hobbies", afirma.

Todos os moradores com deficiência contam com o monitoramento de uma base de apoio, grupo de profissionais especializados que funciona 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Os agentes não só acompanham o cotidiano destes moradores e estão à sua disposição para qualquer emergência, como também motivam cada um deles a conquistar a sua independência com programas personalizados, convivendo com os vizinhos, participando de eventos e circulando pelo bairro.

Quem quiser morar no prédio, deve fazer uma avaliação de perfil e autonomia, a partir de uma série de entrevistas conduzidas por especialistas. Isso significa apenas uma avaliação do tipo de apoio que o morador vai precisar, sem nenhum efeito diagnóstico. "Qualquer pessoa com qualquer tipo de limitação pode morar sozinha. Só vai depender do tipo e intensidade de apoio que vai necessitar", diz Flávia.

Ela lembra que a chegada na residência estudantil é apenas um primeiro passo para a independência destes jovens. Há casos de moradores neuroatípicos que saíram da unidade da Uliving para morar sozinhos, pois conquistaram segurança e ampliaram sua autonomia, seja em atividades profissionais, ou hobbies, tarefas domésticas, uso de transporte público e gestão financeira. "Todos que estão lá trabalham e têm suas atividades. Queremos que eles voem", conta.

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