Toyota mais vendido não é um Corolla e chega a custar quase R$ 350 mil

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Foi-se o tempo em que os carros mais vendidos do Brasil eram os mais baratos. Se fosse assim, a disputa pelo primeiro lugar ficaria entre Fiat Mobi, Citroën C3 e Renault Kwid, que nem sonham em brigar por essa posição. Isso ocorreu por causa de algo que venho analisando desde o início da década: o consumidor de veículos de entrada perdeu poder aquisitivo, o que levou as montadoras a voltarem seus investimentos a produtos de maior valor agregado (como hatches bem equipados e SUVs compactos).
Ainda assim, o Brasil não é igual os EUA, em que os sedãs e picapes grandes vendem mais que os equivalentes médios desses segmentos. Preço ainda tem um papel importante. Tanto que o Volkswagen Polo passou a brigar com a Fiat Strada pelo primeiro lugar em emplacamentos quando foi simplificado (e ficou mais barato) e ganhou uma versão basicona, a Track.
Por isso, surpreende ainda mais o fenômeno que vemos na Toyota. O carro mais vendido da montadora não é um Corolla (nem o sedã, nem o SUV Cross). Muito menos o produto de entrada, o Yaris. É um modelo que parte de R$ 235.590 e chega a R$ 346.290. Trata-se da picape Hilux.
Por que isso ocorre? A "culpa" é da Hilux, mas é também dos demais modelos da linha Toyota. Adiante, vou explicar esses dois pontos.
Hilux na frente
De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a Toyota vendeu 50.010 unidades da Hilux em 2024. O segundo colocado ficou próximo. Trata-se do Corolla Cross, com 47.796 emplacamentos.
O SUV médio tem preços entre R$ 170.690 e R$ 215.290, que são extremamente competitivos para o segmento em que atua (concorrendo com Compass, Taos, Song Pro, Song Plus e Haval H6 HEV, entre outros). Em seguida, aparece o sedã Corolla. Foram 37.668 unidades emplacadas (custa entre R$ 158.490 e R$ 199.990).
Só então aparecem os modelos mais baratos da Toyota, que são os da linha Yaris. De R$ 108.890 a R$ 128.990, o hatch registrou em 2024 25.964 emplacamentos. O sedã teve 21.934 exemplares vendidos. Custa de R$ 108.890 a R$ 133.790.
Embora ainda estejam listados no site da Toyota, as versões hatch e sedã do Yaris estão saindo de linha. Vão dar lugar, na fábrica de Sorocoba, ao SUV compacto Yaris Cross, que chega este ano e será híbrido. A ausência da marca japonesa nesse segmento, aliás, é uma das coisas que explicam a Hilux ser o produto mais vendido.
Yaris: o momento foi errado
Quando foram lançados Yaris e Yaris Sedan, com visual e interior muito mais atraentes que os do polêmico Etios (já fora de linha), havia expectativa. Afinal, os fãs da Toyota teriam um produto mais acessível e poderiam, finalmente, realizar o sonho de começar uma história com a marca.
Só que o Etios já tinha queimado um pouco o filme da Toyota nesse segmento, pois era um produto muito abaixo do padrão Toyota. Ainda assim, aos poucos o Yaris foi ganhando a confiança do consumidor. E, como ocorre com outros carros da montadora, quem tem quer continuar tendo. A fidelização é alta em todos os segmentos.
Só que o Yaris, lançado em 2018, veio na hora errada. Isso porque nunca foi um carro de entrada, com direito a versão 1.0 aspirada. E, naquele momento, parte dos clientes de hatches e sedãs compactos de maior valor agregado já haviam se tornado consumidores de SUVs - inclusive, com cada vez mais opções no mercado.
Só que a Toyota não tinha, e ainda não tem, SUV compacto. Então, quem realmente queria um carro muito da marca aderiu aos Yaris. O produto, no entanto, nunca teve potencial para ser um líder dentro da gama.
O Yaris Cross terá? Não há dúvidas. O segmento de SUVs compactos é o mais importante do Brasil, além de o maior em número de produtos. E, das dez principais montadoras, a única a não ter um representante na categoria é a Toyota.
Com a chegada do Yaris Cross, as chances de ele superar a Hilux como carro-chefe são boas. Garantidas? Não. Como introduzido no início, a "culpa" não é só da gama Toyota. É também da picape.
Gama Toyota
Antes de falarmos da Hilux, vamos pensar na gama Toyota. Os sedãs já eram. Médios? Esqueça! O Corolla é o único que ainda consegue se manter relevante. Ainda assim, ano a ano vem perdendo vendas.
E quanto aos sedãs compactos? Eles têm mais espaço, mas também perdem participação. Em 2024, por exemplo, não houve nenhum na lista dos dez carros mais vendidos do Brasil - até 2023, o Onix Plus integrava esse grupo.
Chegamos, então, ao Corolla Cross. O segmento de SUVs médios é extremamente relevante. Junto com hatches e SUVs compactos e picapes, atrai a atenção do consumidor e os investimentos das montadoras. Quem ainda não tem representante relevante na categoria planeja ter.
E o Corolla Cross fez bonito em 2024. Cresceu 13,6% e, por pouco, não ultrapassa o líder do segmento, Compass. Ficou também a poucas unidades de ser o Toyota mais vendido, posição que seria mais natural para este produto do que para a Hilux. Seria mesmo?
Fator Hilux
SUVs médios como Corolla Cross venderem mais que picapes feitas sobre chassi, como a Hilux, é regra no Brasil? Na verdade, é difícil medir. A Ranger tem emplacamentos muito superiores às de Territory (mais barato que todas as versões da picape) e Bronco Sport (custa menos que a maioria das opções).
A S10 também vende mais que o Equinox. Porém, no caso desses três SUVs, são produtos trazidos de países fora do Mercosul (México, EUA e China). Por isso, independentemente do preço, naturalmente são carros de volume bastante limitado para o Brasil - algo que não ocorre com as picapes argentinas (Hilux, Ranger, Amarok e Frontier), nacionais (S10 e L200) e a por enquanto uruguaia Titano.
Quando olhamos para o único caso que dá para comparar com Corolla Cross x Hilux, vemos uma vitória folgada do SUV médio argentino Taos (17.569 unidades vendidas em 2024) sobre a Amarok (7.328 exemplares no mesmo período).
Embora a comparação acima não defina nenhum padrão, mostra que os SUVs médios têm potencial para fazer mais sucesso que picapes sobre chassi. Mas sabe o que acontece? Hilux é Hilux. A chegada da Ranger, em 2023, deixou claro que o produto da Toyota está extremamente defasado.
A expectativa era de que a Hilux perdesse mercado. Isso não ocorreu em 2023, apesar de a Toyota ter precisado fazer ajustes na linha, privilegiando as versões mais simples (já que as de topo sofriam mais com a concorrência da Ford). Em 2024, a Hilux cresceu 8,24%.
Além disso, quando somamos as vendas de Ranger e S10, respectivamente segunda e terceira colocadas da categoria no ano passado, temos 59.262 unidades. Ou seja, menos de 10 mil exemplares a mais que o resultado individual da Hilux. Isso reforça a vantagem do produto da Toyota.
No segmento de picapes médias feitas sobre chassi, há um conservadorismo maior que em outras categorias. Além de terem alto valor agregado, é muito comum esses produtos serem usados para o trabalho. Assim, o proprietário fica apavorado com a possibilidade de ser deixado na mão por problemas com o veículo.
O fator que faz tantos clientes serem fiéis à Toyota é a confiabilidade. No segmento de picapes, isso vale ainda mais. A maioria das pessoas que tem Hilux pode até ter vontade de sair. Mas falta coragem, mesmo com o fato de o produto estar defasado. A próxima geração está prevista para 2026.
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