Honda-Nissan: por que fusões entre rivais serão cada vez mais comuns

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A fusão entre Honda e Nissan, e possivelmente Mitsubishi, anunciada em dezembro de 2024, representa um capítulo importante na indústria automotiva. Sob pressão competitiva e financeira, as duas montadoras decidiram unir forças em busca de sinergias operacionais, redução de custos e, principalmente, sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo.
Apesar de promissora, essa fusão é apenas a ponta do iceberg. O setor automotivo passa por um momento crítico, marcado pela evolução tecnológica acelerada e pela ascensão das marcas chinesas, que dominaram o mercado de veículos elétricos.
Segundo Ricardo Bacellar, consultor automotivo, "a fusão entre Honda e Nissan não será a única, e veremos movimentos similares com frequência cada vez maior nos próximos anos".
Os detalhes da fusão
Com a fusão, Honda e Nissan esperam criar a terceira maior montadora do mundo, atrás apenas de Toyota e Volkswagen. O plano prevê que as duas empresas, e possivelmente a Mitsubishi, da qual a Nissan é a maior acionista, se integrem sob uma nova holding, cuja conclusão está prevista para agosto de 2026. A Honda vai liderar a gestão, com controle da maior parte dos cargos executivos e do conselho.
Apesar de continuarem operando como marcas separadas, as montadoras compartilharão plataformas, tecnologias e processos de desenvolvimento. Estima-se que a nova empresa atinja lucros operacionais superiores a 18,8 bilhões de dólares.
Mesmo com a fusão, Honda e Nissan enfrentam obstáculos significativos. A sobreposição de portfólios é um dos maiores problemas. Como pontuado por Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan, que teve uma saída tumultuada do cenário corporativo após ser preso em 2018 no Japão sob acusações de fraude financeira, ambas operam nos mesmos mercados e oferecem produtos semelhantes, o que levanta dúvidas sobre a complementaridade da parceria.
Outro ponto de incerteza é a posição da Renault, que detém 35% das ações da Nissan. A marca francesa declarou que avaliará "todas as opções" quanto à sua participação na nova holding, o que inclui uma possível venda de suas ações. Essa decisão vai ser um divisor de águas para o sucesso da nova parceria.
Por que fusões estão se tornando inevitáveis?
A fusão entre Honda e Nissan tem se mostrado inevitável, principalmente para a segunda, que viu seu lucro operacional cair 90% no ano passado. O movimento reflete uma tendência de mercado motivada por três grandes desafios: eletrificação, conectividade e direção autônoma. Esses pilares exigem investimentos bilionários e a colaboração para que montadoras possam competir com players mais ágeis e bem posicionados, como as empresas chinesas e a Tesla, parece ser o caminho natural.
"A pandemia agravou um cenário já difícil", explica Bacellar. "O mercado de mobilidade sofreu um baque enorme, tornando essencial a busca por sinergias e compartilhamento de recursos entre empresas."
Um dos fatores que aceleraram o movimento foi a ascensão das marcas chinesas, que surpreenderam o mercado global. Marcas como BYD e NIO, com preços competitivos e tecnologia avançada, lideram a venda de elétricos na Europa e estão em rápida expansão.
"Elas fizeram o dever de casa, investiram pesado em pesquisa e marketing e agora colhem os frutos. Isso colocou montadoras tradicionais em uma situação desconfortável", analisa Bacellar.
Além disso, nenhuma das inovações tecnológicas exigidas pelo mercado - como carros elétricos ou sistemas de direção autônoma - se tornou lucrativa a ponto de sustentar as operações das empresas. "Hoje, o setor automotivo está em uma encruzilhada. É preciso fazer investimentos massivos, mas o retorno financeiro ainda é incerto", explica.
A fusão entre Honda e Nissan deve ser apenas um capítulo de um movimento mais amplo. Outras montadoras devem seguir o mesmo caminho nos próximos anos, seja por meio de fusões, aquisições ou acordos de cooperação.
"Os custos são altos, e a tecnologia de ponta continua sendo cara. As empresas precisam encontrar formas de compartilhar esses custos sem comprometer a competitividade", observa Bacellar. Ele cita como exemplo a parceria entre Mercedes-Benz e BMW, rivais históricos que assinaram um acordo de cooperação para desenvolver tecnologias autônomas.
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