Paula Gama

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ReportagemCarros

Montadoras pressionam governo e cobram mais taxas contra carros chineses

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) protocolou junto à Câmara de Comércio Exterior (Camex) um pedido formal para a recomposição imediata do imposto de importação de veículos eletrificados, agendada pelo governo federal para julho de 2026.

Segundo o presidente da entidade, Márcio Lima Leite, que se pronunciou na última coletiva da Anfavea no início de outubro, essa medida é vista como urgente diante das profundas mudanças no cenário global do mercado automotivo e da necessidade de proteger a produção nacional.

"O pleito já foi oficialmente protocolado na Camex, solicitando a recomposição imediata do imposto de importação. Essa não é uma demanda nova, temos sido muito transparentes em nosso posicionamento. Diante da mudança do cenário mundial, é necessário agir", afirmou Leite.

A entidade defende que o Brasil, ao aumentar a alíquota de importação, protegerá a indústria local, que ainda está em fase de crescimento e consolidação, sobretudo com os investimentos previstos para a produção nacional de veículos eletrificados.

De acordo com o documento protocolado, ao qual a coluna teve acesso, a Anfavea defende o retorno da alíquota de importação para 35%, argumentando que as circunstâncias observadas no mercado internacional exigem uma resposta imediata.

O texto enfatiza que, entre 2014 e 2015, as alíquotas de importação de veículos eletrificados foram reduzidas para incentivar o desenvolvimento do mercado local. No entanto, o cenário mudou com o aumento das importações, especialmente de veículos chineses de baixo custo, o que tem prejudicado a indústria nacional em um momento crucial para a consolidação de investimentos no Brasil.

"No período de seis meses, entre janeiro e junho de 2024, observou-se um crescimento acentuado do mercado global de veículos eletrificados, com a China dominando esse mercado mundialmente e com sobrecapacidade. (...) O Brasil já é destino desse excedente, tendo registrado alta significativa nas importações de veículos eletrificados originários da China em 2024", diz o documento.

O texto afirma ainda que "para que os investimentos [das montadoras nacionais] se concretizem é necessário um ambiente de negócios seguro e com previsibilidade, o que está sendo abalado pela rápida mudança das circunstâncias do mercado global e local."

O material protocolado também destaca que, com o programa Mover, há uma expectativa de crescimento significativo na produção nacional de veículos eletrificados nos próximos anos. A recomposição do imposto de importação seria uma medida necessária para proteger esses investimentos e garantir o sucesso do programa.

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ABVE se posiciona contra a recomposição tarifária

Por outro lado, a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) é contra a urgência da recomposição tarifária. Ao ser procurada pela reportagem, a entidade não forneceu uma posição oficial, mas durante o evento Automotive Business Experience 2024, o presidente Ricardo Bastos ressaltou a importância de previsibilidade nas políticas de importação e destacou a necessidade de manter o cronograma estabelecido pelo governo.

"Regras claras e transparência, é isso que a gente sempre defende. Temos segurança pelo nosso contato com o governo, com o vice-presidente Geraldo Alckmin, de que o cronograma vai seguir o que foi traçado, e que os 35% de Imposto de Importação só serão cobrados em julho de 2026", afirmou Bastos ao Automotive Business.

Ele destacou que o setor tem feito grandes investimentos, tanto na infraestrutura de recarga, com a expansão das redes de postos, quanto na produção local de componentes essenciais, como baterias.

Desde julho deste ano, os carros elétricos pagam 18% de Imposto de Importação, enquanto os híbridos plug-in (PHEV) foram taxados em 20% e os híbridos (HEV) em 25%. A proposta do governo, em vigor, é uma recomposição gradual, chegando a 35% em julho de 2026.

Segundo Bastos, o mercado de eletrificados está em plena expansão, mesmo com as alíquotas atuais. No entanto, expressou preocupações sobre os efeitos que uma antecipação da elevação tarifária poderia ter sobre o mercado.

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Para o executivo, uma eventual antecipação do imposto ou cobrança acima do que já foi decidido e elevação do preço dos eletrificados vai impactar o cliente final. "Os veículos a combustão vão subir também, pode ter certeza disso. Quem pagará a conta será o consumidor."

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Reportagem

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19 comentários

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Sergio Afonso

As montadoras estabelecidas aqui já extorquiram os brasileiros muito mais do que podíamos aguentar! E querem perpetrar isso...O governo tem que ser firme e não ceder desta vez. Afinal,  é a competência,  quem dita a sobrevivência no capitalismo...

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Jose Geraldo Brito Filomeno

Lágrimas de crocodilo da indústria automobilística, além de cínica, dizendo-se "ainda em desenvolvimento". Primeiro acabaram com as ferrovias, agora choram as pitangas por conta da concorrência, sempre pedindo mais e mais benesses dos governos. 

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Marcelo Sarno

As montadoras locais queriam é conduzir o processo de eletrificação a passos de tartaruga “pra inglês ver” e foram nocauteadas na sua soberba. Diziam que o mercado brasileiro não tinha infraestrutura para elétricos e que carro flex era o caminho. No fundo, queriam prolongar a chegada dos elétricos para poder rentabilizar em cima dos seus projetos à combustão. Para pagarem de “ecologias” trazem Kwid da China a 160 mil reais e depois dizem que o mercado local não tem cacife pra comprar elétricos. Suas matrizes sempre se vangloriaram de vanguarda tecnológica, inclusive em elétricos, e agora tomam pau dos Chineses. Pq a VW, GM, Stellantis não importam da China seus elétricos pra vender aqui a preços competitivos? 

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