Carros anfíbios: por que projeto na Câmara pode afundar setor automotivo
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Para que catástrofes como as enchentes do Rio Grande do Sul sejam mais fáceis de serem superadas pela população, o deputado Clodoaldo Magalhães (PV-PE) propôs a obrigatoriedade de as montadoras brasileiras fabricarem carros anfíbios, ou seja, que operam tanto na terra quanto na água.
A "inovação", que faz parte do Projeto de Lei 1824/2024, em tramitação na Câmara dos Deputados, pode parecer interessante à primeira vista, mas pode trazer uma série de consequências devastadoras.
Em sua argumentação, o deputado afirma que "os carros anfíbios representam uma ferramenta eficaz para o enfrentamento dessas situações, permitindo o deslocamento seguro e eficiente tanto em terra firme quanto na água, facilitando operações de resgate, evacuação e assistência às vítimas desses desastres naturais. A inclusão dessa opção nos modelos de carros comercializados pelas montadoras e fabricantes instaladas no território brasileiro contribuirá para a proteção da vida e do patrimônio dos cidadãos brasileiros".
No entanto, apesar da boa intenção, seus impactos econômicos e sociais podem ser profundamente negativos, revelando uma falta de análise do cenário atual e das reais necessidades da população. O Projeto de Lei 1824/2024 está tramitando em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional; de Indústria, Comércio e Serviços; e de Constituição e Justiça e Cidadania.
Barca furada
A exigência de que todas as montadoras incluam carros anfíbios em suas linhas de produção pode resultar em custos exorbitantes. Para adaptar suas fábricas e desenvolver novos modelos, as empresas precisarão investir pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, além de modificar suas linhas de produção.
Esse encarecimento não será absorvido apenas pelas montadoras. Inevitavelmente, os consumidores sentirão o peso dessa decisão em seus bolsos. O resultado pode ser um aumento significativo no preço de todos os veículos, tornando-os inacessíveis para a maioria da população.
Além disso, essa nova obrigação pode levar algumas montadoras a reconsiderar sua presença no Brasil. Diante de um mercado já desafiador, onde as margens de lucro são cada vez mais apertadas, a imposição de custos adicionais pode ser o fator decisivo para que algumas empresas optem por se retirar do país.
Isso não só reduziria a concorrência no setor automobilístico, mas também poderia resultar na perda de empregos e na diminuição da oferta de veículos acessíveis.
Outro aspecto é que atualmente não existem carros anfíbios em produção no mundo. O único com essas características produzido para o público geral foi o Amphicar, entre 1961 e 1965.
A proposta ignora essa realidade e lança um desafio que pode não ser viável no curto, ou até médio prazo. A falta de experiência e tecnologia na fabricação desses veículos torna a implementação do projeto ainda mais complicada.

O perigo das boas intenções
Leis com boas intenções podem ter consequências desastrosas quando não são analisadas em seu contexto completo. A proposta do deputado Clodoaldo Magalhães parece ignorar as complexidades do setor automotivo brasileiro e as reais necessidades da população.
Em vez de focar em soluções paliativas como carros anfíbios, seria mais eficaz direcionar esforços para melhorar a infraestrutura urbana, implementar sistemas de drenagem adequados e promover políticas públicas que previnam as enchentes. A insistência em soluções que não abordam as causas fundamentais dos problemas enfrentados pela população pode resultar em um ciclo vicioso de legislações ineficazes.
O Projeto de Lei 1824/2024 representa uma tentativa de resposta às calamidades naturais enfrentadas pelo Brasil, mas sua implementação pode trazer mais problemas do que soluções. O impacto econômico sobre o setor automobilístico e a população deve ser cuidadosamente considerado antes que decisões apressadas sejam tomadas.
Em vez de preparar a população para lidar com as consequências das enchentes, o foco deveria ser na prevenção eficaz dessas tragédias, garantindo que todos os cidadãos estejam protegidos contra os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
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