O que acontece no seu corpo quando você tem um coágulo
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Se você se machuca e o sangue começa a sair, o seu corpo aciona um mecanismo conhecido como coagulação. Trata-se de um jeito natural, bem-vindo e controlado de cessar o sangramento para prevenir danos na região lesionada.
Mas a formação de coágulos —ou trombos— também pode ocorrer em outras situações. Na presença de condições temporárias, ou mesmo enfermidades que duram no tempo, eles podem aparecer em veias ou artérias, obstruindo ou limitando o fluxo sanguíneo.
Nesses casos, o coágulo é considerado patológico, ou seja, causador de doenças. Diferente da coagulação natural, ele não se resolve sozinho. E a depender do tamanho e da quantidade de trombos, o coágulo é uma emergência médica que exige rápido diagnóstico e tratamento.
Coágulos nas veias dos membros inferiores ou superiores são os mais frequentes.
Mulheres em idade reprodutiva têm maior probabilidade de ter um coágulo quando comparadas aos homens na mesma faixa etária. Dados do Ministério da Saúde.
No período de pós-parto, porém, esse risco chega a ser 15 vezes maior.
Infarto e AVC (acidente vascular cerebral) contabilizam a maior proporção de coágulos associados a óbitos.
Os efeitos esperados
A formação de coágulos pode ocorrer em qualquer sistema do seu corpo e isso depende da combinação de vários fatores. Conheça as consequências mais comuns:
- As veias se entopem
A trombose venosa é considerada uma forma frequente de coágulo. Ela pode acometer as veias das pernas, dos braços e, mais raramente, as da região pélvica ou outras veias do corpo.
Geralmente ela se manifesta como uma trombose venosa profunda, isto é, a formação de coágulos de sangue em veias profundas.
Pode acontecer que esse coágulo se desprenda de seu local de origem e migre para outro órgão. O mais comum deles é o pulmão.
Esse quadro é definido pelos médicos como embolia pulmonar, descrito como a mais grave complicação decorrente da trombose venosa.
- Danos para o coração e o cérebro
Quando o coágulo aparece nas artérias, na maioria das vezes ele tem relação com a aterosclerose, uma doença que provoca o acúmulo de gordura nas paredes desse tipo de vaso. Isso resulta na formação de placas que estreitam a artéria e dificultam a passagem do sangue.
Para forçar essa passagem, ocorre o aumento da pressão. O problema é que isso pode levar ao rompimento da placa, e isso leva à formação de um coágulo. Tal situação clínica facilita o infarto e o AVC.
Ao bloquear o envio de nutrientes e oxigênio para o cérebro e o coração, esses órgãos podem ser danificados. Esse tipo de coágulo requer solução imediata. Para desfazê-lo, podem ser utilizadas medidas como o uso de cateter ou medicamentos (trombolíticos) e até cirurgia (trombectomia).
- Complicações posteriores
Coágulo nas veias ignorado —ou não tratado adequadamente— tem como resultado uma síndrome conhecida como pós-trombótica.
20% a 40% das pessoas com TVP poderão vivenciá-la no período de 1 a 2 anos após o evento inicial.
Outros fatores que podem levar a esse resultado são a repetição da trombose no mesmo local, obesidade e baixa adesão ao tratamento.
São sintomas associados: dor crônica, sensação de peso, cãibra e inchaço mesmo durante o repouso.
Entenda o trabalho dos vasos sanguíneos

O sistema circulatório é formado por vasos, destacando-se entre eles as veias e as artérias. Embora ambas tenham a função de transportar sangue por todo o seu corpo, elas trabalham de formas diferentes:
Artérias transportam sangue, oxigênio e nutrientes do coração para o resto do organismo.
Veias fazem o trabalho contrário, ou seja, levam o sangue de volta para o coração, mas também para os pulmões para ser reoxigenado.
Para que o sangue circule tranquilamente por veias e artérias, ele depende do equilíbrio de células sanguíneas, plaquetas, proteínas, além de fatores que influenciam a coagulação, entre outros. Basta qualquer mudança nesse quadro para que um coágulo ou doenças associadas à coagulação apareçam.
Imagine uma avenida principal cujo trânsito para: o fenômeno vai se expandindo para todas as vias que levam à região —impedindo o fluxo normal do tráfego.
Como saber se você está na mira
Qualquer pessoa pode ter um coágulo, mas ele é mais frequente entre mulheres e idosos. Os especialistas consultados esclarecem que as causas associadas à formação de coágulos em artérias e veias são diferentes, mas em ambos os casos eles podem ter relação com fatores como a presença de obesidade, idade avançada e o uso de determinados medicamentos (ex. contraceptivos, estrógenos, outros tipos de reposição hormonal, etc.).
O aumento da probabilidade de ter um coágulo ocorre nas seguintes circunstâncias:
Cirurgia de grande porte ou que leva o paciente a ficar acamado ou imobilizado, como as ortopédicas)
Idade (acima dos 60 anos)
Histórico familiar
Doenças inflamatórias crônicas (doença de Crohn, síndrome do anticorpo anti-fosfolípide, etc.)
Pressão e colesterol altos
Uso indiscriminado de hormônios para fins estéticos
O peso de 3 fatores predisponentes
Já está estabelecido na literatura médica que, para que ocorra o desequilíbrio entre os efeitos naturais da coagulação e o fluxo sanguíneo, é preciso que estejam presentes três fatores, conhecidos como tríade de Virchow:
Lesão das veias: um exemplo é sofrer um trauma, ou submeter-se a uma cirurgia.
Estase: trata-se da redução do fluxo sanguíneo devido ao repouso prolongado na cama ou durante uma viagem longa.
Estado de hipercoagulabilidade: o uso de determinados medicamentos; doenças inflamatórias crônicas; mutações genéticas (herdadas), etc., que podem facilitar a coagulação.
Saiba identificar os sintomas
A depender da sua localização os sintomas de um coágulo variam. Confira os mais frequentes:
Perna ou braço: dor súbita ou gradual, inflamação que se manifesta como inchaço, calor e vermelhidão da pele. Apesar disso, algumas pessoas não apresentam sintoma algum, o primeiro sintoma pode ser uma dor no peito, devido a uma embolia pulmonar.
Pulmão: dor no peito, principalmente ao respirar, aumento do ritmo do coração, escarro com sangue.
Coração: peso ou dor no peito, falta de ar, que irradia para o braço esquerdo ou para as costas, náuseas, vômitos, suor, além de confusão mental, em alguns casos.
Cérebro: súbita e forte dor de cabeça, paralisia de um lado do corpo ou de um membro, dificuldade para falar, tontura, desmaios e convulsões.
Abdome: dor local intensa, diarreia e vômito.
Quando procurar ajuda
Caso suspeite que tem um coágulo, busque por um médico imediatamente. A busca por uma avaliação médica deve ocorrer também quando se toma conhecimento de que alguma pessoa de sua família tem problemas associados à coagulação do sangue.
Uma consulta médica permite investigar a presença de outros fatores de risco, fazer um diagnóstico e, eventualmente, tratá-lo preventivamente.
Embora um clínico geral seja capacitado para esse tipo de avaliação, pode ser que ele o encaminhe para um hematologista —médico especializado em tratar doenças do sangue.
Pessoas com doenças do coração ou outras enfermidades crônicas também devem consultar seus médicos sobre a probabilidade de ter um coágulo diante de seus quadros de saúde.
Dá para prevenir?
Embora nem sempre seja possível prevenir um coágulo, como na presença de algumas condições genéticas que aumentam a probabilidade de ter um coágulo (trombofilias), é possível reduzir a chance de ele aparecer agindo para evitar os outros fatores de risco associados.
Converse com seu médico sobre a necessidade de usar medicamentos que previnam o coágulo, caso saiba que precisará ficar acamado por algum tempo, seja em casa ou no hospital, após uma cirurgia. O mesmo se aplica ao conhecimento da predisposição genética para a hipercoagulação.
Hidrate-se de forma adequada todos os dias.
Evite o tabagismo e a obesidade.
Movimente-se ao longo do dia, evitando ficar muito tempo sentado.
Procure movimentar-se durante viagens de mais de 6 horas, sejam elas aéreas ou rodoviárias. Neste último caso, faça paradas estratégicas.
Evite o uso indiscriminado de hormônios, especialmente para fins estéticos.
Mantenha rotina de exercícios regulares, inclusive durante a gestação e no pós-parto.
Fontes: Diego Villa Clé, hematologista e professor de hematologia da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP; Fernando Michielin Alves, médico hematologista do IOP (Instituto de Oncologia do Paraná) e do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR); e Lídia Moura, médica cardiologista, professora de cardiologia e especialista da plataforma de Carreira Médica da PUC-PR. Revisão técnica: Diego Villa Clé.
Referências:
Ministério da Saúde
American Society of Hematolgy
Ashorobi D, Ameer MA, Fernandez R. Thrombosis. [Atualizado em 2024 Fev 12]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538430/
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