Sempre tem ressaca forte? Sua genética pode ser a culpada
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Dezembro é o mês oficial das confraternizações, dos happy hours, jantares e reencontros entre amigos e familiares. E é também o período dos excessos, especialmente no consumo de bebidas alcoólicas, um denominador comum em praticamente todos esses eventos.
E, enquanto algumas pessoas passam por essa fase relativamente sem grandes transtornos, há quem sofra bastante com a ressaca após beber, mesmo que em pequenas quantidades. Se esse é o seu caso, talvez a culpa seja da genética.
Com o avanço das ciências genômicas, a análise dos genes do nosso DNA permitiu que os médicos pudessem avaliar problemas de saúde sob o ponto de vista molecular e individualizado.
Essa avaliação pessoal nos permite identificar predisposições genéticas, incluindo entender como nosso corpo reage a diferentes substâncias, como o álcool. Ricardo Di Lazzaro, médico e doutor em genética pela USP e cofundador de Genera, laboratório que realiza exames genéticos
No caso da ressaca, a variação nos genes chamados de CYP2E1, ALDH2 e FAAH podem explicar por que algumas pessoas passam tão mal após beberem.
Curiosamente, essas alterações também são consideradas protetivas contra o abuso de álcool. "Como essas mutações provocam sensações desagradáveis, elas acabam desencorajando o consumo excessivo", explica Di Lazzaro.
Já as variações genéticas associadas ao alcoolismo estão ligadas a outros genes, como o GABRA2, DRD2 e SLC6A4, que influenciam a sensação de prazer e bem-estar causada pelo álcool.
Vale dizer, no entanto, que a simples presença do gene não quer dizer que você terá ou não sintomas mais fortes —a predisposição existe, mas existem outras variáveis (como fatores ambientais e comorbidades) que vão influenciar ou não na manifestação do quadro.
Intolerância ao álcool existe
Segundo Di Lazzaro, as variações genéticas nos genes responsáveis por coordenar a forma como o corpo metaboliza o álcool provocam sintomas que vão além da ressaca comum como conhecemos.
Isso ocorre porque há um rápido acúmulo de acetaldeído, substância encontrada em diversas bebidas alcoólicas e que causa sintomas desconfortáveis quando está em altos níveis no organismo. Alguns desses sintomas incluem:
Náuseas
Rubor facial
Dor de cabeça
Tontura
Palpitações
Dificuldade para respirar
Ok, mas então todo mundo que tem uma ressaca brava possui um gene (ou mais) alterado? Não é bem assim. Independente da configuração do seu DNA, a ressaca surge quando a concentração de álcool no sangue alcança determinado volume (0,11% a 0,12%). Os sintomas, porém, só aparecem quando essa quantidade começa a se reduzir —cerca de 6 a 8 horas depois da bebedeira.
A diferença é que, no caso de quem tem uma predisposição pessoal à intolerância ao álcool, esses sintomas geralmente surgem de forma mais intensa. "Eles podem surgir ainda durante o consumo, mesmo que em pequenas quantidades", afirma o médico.
Por que é importante saber?
Porque é possível se planejar e tomar decisões de forma mais assertiva sobre a sua rotina —algo que vem fazendo cada vez mais parte da rotina de autocuidado das pessoas. "Estar ciente dessa intolerância é importante para melhorar nossa qualidade de vida e evitar passar por situações desconfortáveis e até que possam colocar a saúde em risco", avalia o especialista.
Em muitos casos, a avaliação clínica com um especialista já pode detectar alguma possível sensibilidade ao álcool. Mas, em casos específicos, como quando há mais indivíduos na família com o mesmo problema, pode ser interessante realizar a análise genética para elucidar o quadro completo. "Um clínico geral ou gastroenterologista pode avaliar o quadro geral de sintomas e oferecer as orientações", diz o médico.
Em média, o teste genético que identifica esse tipo de mutação custa R$ 600, é realizado em laboratórios especializados em análises genômicas, não requer pedido médico e não é coberto pelos planos de saúde.
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