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Um guia dos principais medicamentos que você usa


Cetoconazol: indicação mais comum é micose, mas ele também combate a caspa

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

01/03/2022 04h00

Resumo da notícia

  • O fármaco possui várias apresentações: comprimidos, pomada, creme e até xampu
  • Por quase uma década, ele foi a medicação mais utilizada para o tratamento de micoses
  • Dado o potencial de toxicidade hepática, a versão oral já não é a primeira linha terapêutica
  • Com menor absorção, o creme e o xampu podem ser usados pela maioria das pessoas

No mercado desde a década de 1980, o cetoconazol foi o primeiro medicamento de administração oral disponível para o combate sistêmico de fungos.

O que é o cetoconazol?

Trata-se de um antifúngico da família dos azóis —derivados do imidazol. Logo após seu lançamento e por quase uma década, ele foi o fármaco mais utilizado para o tratamento de micoses.

Devido às suas características, o cetoconazol deve ser comercializado com a apresentação da receita médica.

Em quais situações ele deve ser usado?

Dada a utilização desse fármaco desde a década de 1980, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica ou do farmacêutico.

O uso mais comum do cetoconazol é o tratamento da tinea versicolor, conhecida como micose de praia. No entanto, a medicação tem muitas outras indicações. Veja alguns exemplos:

  • Candidíase (oral, esofagiana, cutânea, vulvovaginal, ocular, osteoarticular)
  • Dermatofitoses (pé de atleta)
  • Histoplasmose (doença das cavernas)
  • Esporotricose (ferimentos e úlceras na pele)
  • Micoses sistêmicas (paracoccidioidomicose ou blastomicose sulamericana)
  • Micoses gastrointestinais resistentes
  • Candidoses resistentes (mucocutânea ou vaginais)

O cetoconazol pode ainda ser utilizado em enfermidades dermatológicas que não são causadas por fungos, como a dermatite seborreica (caspa), e também poderá ser indicado no tratamento do câncer de próstata e síndrome de Cushing.

Entenda como funciona o cetoconazol

Ao ser administrado pela via oral, ele é rapidamente absorvido em 1 a 2 horas e é distribuído por todos os fluidos e a pele. Após completar sua ação, ele é eliminado, majoritariamente, por meio da metabolização hepática.

Para alcançar seu objetivo, o fármaco impede o crescimento de células fúngicas e interage com a esterol-14-?- demetilase, uma enzima que participa da biossíntese de ergosterol, que é um componente da membrana celular dos fungos.

"Com menor quantidade de ergosterol, a célula perde fluidez, tem a permeabilidade aumentada, o que resulta na perda de componentes intracelulares importantes para o crescimento dos microrganismos e desenvolvimento das infecções fúngicas", explica Flavio da Silva Emery, professor associado da USP.

Espera-se que os sintomas comecem a melhorar após 24 horas do uso do medicamento, porém o tratamento deve ser continuado conforme a prescrição médica, mesmo após os sintomas desaparecerem. Já no uso tópico, após 4 semanas, em geral, os sintomas começam a desaparecer.

Conheça as apresentações disponíveis

Nizoral® é a marca de referência do cetoconazol. Mas você pode encontrar as versões genéricas.
Uma das apresentações desse fármaco (xampu) consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso ela tem distribuição gratuita em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a ela, basta apresentar a receita médica.

Confira algumas apresentações e doses disponíveis:

  • Xampu - 20 mg
  • Creme ou pomada - 20 mg
  • Comprimidos - 200 mg

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

A dermatologista Maria Genúcia Cunha Matos, docente e coordenadora da disciplina de dermatologia da Faculdade de Medicina da UFC, destaca o baixo custo do cetoconazol como sua maior vantagem, mas esclarece que ele deixou de ser a primeira linha de tratamento dado o aparecimento de outras opções mais modernas, efetivas e menos tóxicas.

"Soma-se a isso o risco potencial de toxicidade hepática, além de colestase [interrupção do fluxo dos canais biliares], especialmente em mulheres acima dos 40 anos. Na hora de escolher a medicação a ser usada, não dá para não pesar esses efeitos colaterais, que são também as maiores desvantagens da medicação", comenta a médica.

Os demais especialistas concordam e acrescentam à lista de desvantagens as interações medicamentosas causadas pelo cetoconazol, que igualmente devem ser consideradas pelo médico.

Saiba quais são as contraindicações

O remédio não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições, que deverão ser noticiadas ao médico ou farmacêutico antes do início do uso do medicamento (comprimidos):

  • Doenças hepáticas crônicas ou agudas
  • Insuficiência adrenal
  • Uso de outros medicamentos (estatinas, benzodiazepínicos, inibidores do citocromo CYP3A4 etc.)
  • Risco aumentado para fraturas (idosos e mulheres após a menopausa)
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Crianças pequenas

Crianças e idosos podem usá-lo?

O fabricante adverte que os comprimidos de cetoconazol têm uso limitado em crianças pequenas, e deve ser evitado. Entre os idosos, essa apresentação não deve ser a primeira escolha de tratamento, dado o seu perfil de toxicidade hepática e interação medicamentosa —principalmente quando se tem conhecimento de que o paciente faz uso contínuo de vários medicamentos (polifarmácia).

Quanto às apresentações tópicas —como creme ou xampu— eles podem ser usadas pela maioria das crianças, adultos e também idosos.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar cetoconazol?

O risco do uso do medicamento [comprimidos] por grávidas não é conhecido, portanto você só deve utilizá-lo após avaliação médica dos riscos e benefícios do tratamento com ele.

Como o fármaco pode ser excretado por meio do leite materno, ele também é contraindicado para mulheres que estejam amamentando.

Já as versões tópicas (xampu e creme) podem ser usadas, desde que nas doses exatas indicadas pelo seu médico e sob a orientação do farmacêutico.

Qual é a melhor forma de tomar o comprimido?

A sugestão é de que ele seja ingerido inteiro com água, junto às refeições. O comprimido não deve ser partido.
O farmacêutico e farmacologista Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP, afirma que a água pode ser substituída por alguma bebida ácida (como o suco de limão), caso você esteja se submetendo a algum tratamento com medicamentos que reduzam a acidez do estômago, (hidróxido de alumínio ou magnésio; carbonato de cálcio; bicarbonato de sódio e o omeprazol, inibidor da bomba de prótons etc.), ou mesmo tenha alguma condição que altere a produção dos ácidos do estômago.

"A razão para isso é que o cetoconazol oral é mais bem absorvido quando o estômago mantém sua acidez natural. Portanto, ao usar o medicamento, é preciso evitar o consumo de qualquer bebida ou alimento que reduza essa acidez", acrescenta Polacow.

Lembre-se que o esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se sem orientação do seu médico, especialmente porque o uso do comprimido pode levar à toxicidade hepática e insuficiência adrenal. Sem a orientação e o monitoramento de um especialista, o risco desse efeito colateral aumenta.

Como devo usar o creme?

Na maioria das vezes, é indicado que se aplique o cetoconazol 1 vez por dia na pele, que deve estar seca e limpa.

A depender do quadro, o xampu poderá ser usado somente nas áreas afetadas com enxágue posterior em alguns minutos, ou no couro cabeludo. No tratamento e prevenção da dermatite seborreica, ele pode ser usado de 1 a 2 vezes na semana pelo tempo que o médico indicar.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o cetoconazol seja administrado na forma indicada pelo seu médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Aguarde o horário da próxima dose e tome o remédio normalmente, conforme orientação médica e do farmacêutico. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais e podem incluir (e não se limitar) a náuseas, vômito, constipação, dor abdominal, boca seca, gases e descoloração da língua. Já o creme ou xampu podem causar ardor, vermelhidão (rubor) ou coceira.

Algumas pessoas poderão observar algumas das seguintes manifestações:

Reações menos comuns

  • Dificuldade para dormir ou manter-se adormecido
  • Nervosismo
  • Dormência, queimação ou formigamento dos pés
  • Dor muscular
  • Perda de cabelo
  • Rubor (vermelhidão na pele)
  • Sensibilidade à luz
  • Sangramento nasal
  • Aumento das mamas em homens (nas altas doses)
  • Redução da libido

O cetoconazol pode causar outros efeitos colaterais. Fale com o médico ou farmacêutico caso observe algum sintoma estranho durante o uso desse medicamento.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o cetoconazol. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

  • Antibiótico (claritromicina)
  • Anticoagulante (varfarina)
  • Anticonvulsivante (carbamazepina, fenitoína)
  • Cardiotônicos glicosídicos (digoxina)
  • Corticoides (hidrocortisona, prednisolona)
  • Benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam)
  • Anti-hipertensivos (anlodipino, nifedipina)
  • Estatinas (sinvastatina)
  • Medicamentos para disfunção erétil (sildenafila)
  • Antiúlcera e antiácidos (omeprazol, ranitidina e cimetidina)
  • Antimicobacterianos (rifampicina)
  • Antidiabéticos (repaglinida, saxagliptina)
  • Anti-histamínicos (loratadina)
  • Inibidores do citocromo CYP3A4 9 (diltiazem, verapamil, itraconazol, ritonavir)

Até o momento não existem evidências de interações com fitoterápicos, suplementos e vitaminas. No entanto, é importante informar o médico ou o farmacêutico sobre o eventual uso de algum desses itens durante o tratamento com o cetoconozol.

Posso tomar bebidas alcoólicas?

Dado o risco de toxicidade hepática promovido pelo cetoconazol (comprimidos), é aconselhável evitar bebidas alcoólicas como vinho ou cerveja, e até mesmo outros medicamentos que contenham álcool (como alguns xaropes) durante o tratamento com ele.

Já as versões tópicas não requerem esse tipo de cuidado.

Conheça as interações laboratoriais

Caso sejam solicitados exames para análise das funções hepáticas como o AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina aminotransferase) e GGT (gama-glutamiltransferase), bem como PAL (fosfatase alcalina), além da bilirrubina, informe o laboratório sobre o uso do cetoconazol para que eles se atentem a possíveis interações.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Flavio da Silva Emery, professor associado da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), atual coordenador do programa de pós-graduação em ciências farmacêuticas e membro da comissão de divulgação científica da mesma instituição e do subcomitê de Drug Discovery and Development da Iupac (sigla em inglês para União Internacional de Química Pura e Aplicada); Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP; Maria Genúcia Cunha Matos, dermatologista, docente e coordenadora da disciplina de dermatologia da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), atua no Hospital Universitário Walter Cantídio da mesma instituição (Rede Ebserh), e ainda integra a diretoria da SBD-CE (Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional do Ceará). Revisão técnica: Flavio da Silva Emery.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Sinawe H, Casadesus D. Ketoconazole. [Atualizado em 2021 Jun 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK559221/.