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Um guia dos principais medicamentos que você usa


Sildenafila trata, mas não cura a disfunção erétil, e não aumenta a libido

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

01/02/2022 04h00

Resumo da notícia

  • A sildenafila aumenta o fluxo do sangue no pênis, o que ajuda a ter e a manter a ereção
  • Na maioria das vezes, a resposta esperada ocorre entre 1 a 4 horas
  • São efeitos colaterais comuns: cefaleia, tontura, ondas de calor, náusea, entre outros
  • O medicamento interage com vários fármacos, em especial, nitritos ou nitratos orgânicos

Disponível no mercado desde o final dos anos 1990, ele foi o primeiro medicamento de uso oral indicado para o tratamento da disfunção erétil.

O que é sildenafila?

Trata-se de um medicamento que é classificado como inibidor reversível, potente e seletivo da fosfodiesterase 5 (PDE5), uma enzima presente nos corpos cavernosos (principal estrutura erétil do pênis) e na musculatura vascular pulmonar.

Dadas as suas características, esse medicamento só deve ser utilizado sob prescrição médica.

Em quais situações o medicamento deve ser usado?

Este fármaco é utilizado há mais de 20 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo estipulado pelo seu médico.

A medicação pode ser indicada para homens acima dos 18 anos (na disfunção erétil) e também nas seguintes situações:

  • Dificuldade de obtenção e/ou manutenção da rigidez do pênis (disfunção erétil, também conhecida como impotência sexual)
  • Hipertensão arterial pulmonar

A literatura sobre esse medicamento esclarece que ele também pode ter indicação nos casos do fenômeno de Raynaud (esfriamento e dormência em algumas partes do corpo), no transtorno de excitação sexual em mulheres, e na hipoxemia, que é a falta de oxigenação no sangue em altas altitudes. Como essas indicações não constam da bula, elas são denominadas off-label.

Entenda como ele funciona

Ao ser administrado pela via oral, o medicamento é rapidamente absorvido e alcança a concentração máxima no plasma em cerca de 60 minutos. Uma vez no sangue, o fármaco é distribuído pelo organismo, alcançando o corpo cavernoso e o pulmão, dois tecidos que contêm a enzima PDE5.

Para entender como a sildenafila age no seu corpo, antes é preciso conhecer como se dá a ereção peniana: durante a estimulação sexual, o organismo libera óxido nítrico, molécula gasosa que possui diversas funções fisiológicas.

Essa substância aumenta a liberação de monofosfato cíclico de guanosina (cGMP) que atua como um regulador do relaxamento de músculos lisos, agindo da mesma forma nos vasos sanguíneos, por meio da vasodilatação. É por meio desse mecanismo que ocorre o aumento do fluxo sanguíneo e a ereção. A sildenafila facilita esse processo.

"Como o cGMP é decomposto pela enzima PDE5, tão logo a sildenafila se liga a essa enzima, haverá aumento da concentração desse regulador, bem como do fluxo sanguíneo no corpo cavernoso, o que estimulará a ereção", explica Flavio da Silva Emery, professor associado da USP.

"O pulmão também possui essa enzima. Assim, quando o medicamento se ligar às PDE5 pulmonares, ocorrerá o mesmo: a vasodilatação do tecido que reduzirá a hipertensão", acrescenta o especialista", completa o especialista.

A sildenafila é metabolizada no fígado, e depois é eliminada, principalmente, nas fezes (80%) assim como na urina.

Por quanto tempo dura o efeito?

Espera-se que os efeitos desejados ocorram já após 30 a 120 minutos (a média, porém, é de 60 minutos) da administração do fármaco, e continua a funcionar por até 4 horas, embora esse tempo possa ser maior para alguns homens, podendo chegar a 18 horas (dados da literatura disponível).

No entanto, o fabricante adverte que a sildenafila só promove a ereção quando há estimulação sexual. Sem esta, o fármaco, sozinho, não leva à ereção.

É preciso saber também que o medicamento não cura a disfunção erétil e nem aumenta o desejo sexual.

Há algum risco de uso sem que haja indicação médica?

Os especialistas consultados foram unânimes: um dos principais riscos de usar a sildenafila sem prescrição médica ou orientação do farmacêutico é a possibilidade de hipotensão, principalmente entre pessoas que fazem uso de medicamentos para redução da pressão arterial.

Indivíduos que tenham doenças cardíacas crônicas (insuficiência cardíaca severa) ou façam uso de substâncias ilícitas, igualmente, devem evitar o uso do medicamento sem acompanhamento profissional —em qualquer idade. O risco é o agravamento de enfermidades do coração e até óbito, além de desmaios, síncopes e lesão da musculatura peniana.

Tomei sildenafila e não fez efeito. O que pode ser?

O urologista Jose Hipólito Dantas Júnior, professor da UFRN, diz que existem várias explicações para isso porque a disfunção erétil tem causas orgânicas e psíquicas (psicogênicas).

No primeiro caso, a origem mais comum é a obstrução de artérias (doenças do coração, diabetes, hipertensão, tabagismo, obesidade, colesterol alto etc.). Conforme o grau dessa obstrução, e não havendo fluxo de sangue satisfatório no pênis, a dificuldade de ereção se manterá.

Já no segundo quadro, o medicamento é útil para trazer maior segurança ao paciente. No entanto, pode ocorrer de a libido estar comprometida em razão de uma crise pessoal ou profissional, um luto. "Nessa hipótese, não haverá resposta ao estímulo porque o medicamento não funciona como uma chave de partida."

"Em resumo, o não funcionamento pode decorrer da origem do problema, mas também da sua intensidade", conclui Dantas Jr.

Em ambos os casos, uma consulta médica pode investigar, esclarecer, ajustar doses e oferecer outras opções de tratamento.

Conheça as apresentações disponíveis

Viagra® e Revatio® são as marcas de referência da sildenafila, mas você pode encontrar as versões genéricas desse medicamento. O medicamento consta da Rename (Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais). Isso significa que ela está disponível no SUS e pode ser obtido por meio da apresentação da receita médica.

Confira as apresentações e doses disponíveis:

  • Comprimidos revestidos - 20 mg, 25 mg, 50 mg e 100 mg.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

Na opinião do farmacêutico Leonardo Coutinho Ribeiro, o surgimento da sildenafila e dos demais medicamentos da sua classe revolucionaram o tratamento da disfunção erétil, contribuindo diretamente para a melhoria da qualidade de vida dos homens com o problema, que está associado à depressão, ansiedade e perda da autoestima.

Os especialistas consultados destacam também a segurança e eficácia do medicamento, bem como a ação rápida e dependente do estímulo sexual, mas elencam os riscos de hipotensão e problemas cardíacos, que devem ser monitorados. Daí a advertência de evitar a automedicação.

Já a Associação Americana de Urologia esclarece que a sildenafila parece causar mais efeitos adversos em homens que se submeteram à retirada total da próstata (prostatectomia radical), mas ressalva que tal quadro pode ser resultado da maior sensibilidade às sensações do corpo ou da ausência de suporte psicossocial.

Saiba quais são as contraindicações

O fármaco não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Ser menor de 18 anos (nos quadros de disfunção erétil)
  • Obstrução do ventrículo esquerdo
  • Uso de tabaco
  • Ereções por tempo prolongado
  • Desidratação
  • Doenças pulmonares
  • Diabetes
  • Colesterol alto
  • Pressão alta ou baixa (hipertensão ou hipotensão)
  • Problemas no coração (arritmia, infarto etc.)
  • AVC (Acidente Vascular Cerebral)
  • Problemas com as células do sangue (doenças falciformes)
  • Mieloma
  • Leucemia
  • Doenças ocular, no fígado ou rins
  • Doenças que afetem o formato do pênis (angulação, fibrose cavernosa, doença de Peyronie)
  • Gravidez e amamentação (para os casos de indicação off-label entre mulheres)
  • Intolerância à lactose

Idosos podem usá-lo?

Sim, desde que não hajam contraindicações, interações com medicamentos de uso contínuo ou doenças (comorbidades) que o esforço do ato sexual possa colocar em risco a vida do paciente, como uma insuficiência cardíaca grave.

A sugestão dos especialistas é que o uso da sildenafila só ocorra após avaliação médica para que se possa usufruir do melhor que o remédio pode oferecer, mesmo na idade avançada.

Em pacientes idosos é muito importante o acompanhamento médico, pois eles podem ter insuficiência hepática e ter concentração elevada de sildenafila no organismo, o que poderia acarretar problemas cardiovasculares.

Como devo tomar a sildenafila?

Você pode tomar o medicamento com um copo de água, com ou sem alimentos. Caso faça uma refeição rica em gorduras, ela pode retardar a sua absorção e, por consequência, seu efeito.

Utilize o esquema de doses sugerido pelo seu médico, porque há um limite máximo seguro a ser utilizado. Geralmente a indicação é de dose única, 1 vez ao dia, 1 hora antes da relação sexual.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Como ele pode ser usado por demanda, não há problema de esquecimento. Mas quando o uso é diário, você deve tomá-lo assim que se lembrar. Nunca dobre a administração e respeite a dose diária indicada pelo seu médico, cujo limite deve ser de 100 mg.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são:

  • Dor de cabeça
  • Azia
  • Náusea
  • Ondas de calor ou rubor facial
  • Dor nos músculos
  • Sangramento nasal
  • Dormência, queimação ou formigamento nos braços, mãos, pés ou perna

Embora sejam mais raras, poderão ser observadas algumas das seguintes manifestações:

  • Mudanças repentinas na visão
  • Alterações repentinas na audição ou perda dela
  • Zumbido no ouvido
  • Dor no peito
  • Desmaio
  • Dificuldade para respirar
  • Ereção dolorosa por mais de 4 horas seguidas
  • Ardência ou queimação ao urinar

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a sildenafila. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

  • Outros medicamentos para hipertensão pulmonar (riociguate)
  • Alfa-agonistas (usado na hipertensão como a clonidina, metildopa)
  • Alfa-bloqueadores (indicado no aumento de próstata benigno como alfuzosina, doxazosina, tansulosina ou terazosina)
  • Betabloqueadores (atenolol)
  • Antibióticos (claritromicina, eritromicina, metronidazol, norfloxacina, rifampicina etc.)
    Antidepressivos (desipramina ou sertralina)
  • Antifúngicos (itraconazol, cetoconazol ou voriconazol)
  • Antiepilépticos (carbamazepina, oxcarbazepina, fenobarbital, fenitoína ou primidona)
  • Outros fármacos para a disfunção erétil (alprostadil, vardenafil)
  • Medicamentos para o coração (atenolol, captopril, clonidina, losartana, propranolol)
  • Medicações para hepatite (boceprevir e simeprevir)
  • Medicamentos para HIV (tazanavir, delavirdina, efavirenz, indinavir, etravirina, ritonavir, nevirapina, saquinavir ou tipranavir)
  • Antiácidos (hidróxido de magnésio ou hidróxido de alumínio)
  • Anticoagulantes (varfarina)

O uso de sildenafila é contraindicado para pacientes que fazem tratamento com medicamentos da classe dos nitratos, grupo de medicamentos muito usados no tratamento da angina. A associação desses medicamentos pode resultar em hipotensão grave com risco de morte. Veja alguns exemplos desses fármacos:

  • Propatilnitrato
  • Nitroglicerina
  • Dinitrato de isossorbitol

Embora não existam dados na literatura médica sobre interação com suplementos ou fitoterápicos, caso faça uso de algum deles, informe ao médico ou farmacêutico antes de iniciar o tratamento com a sildenafila.

Interação com o álcool

A sugestão dos especialistas é que você informe seu médico sobre hábitos de consumo excessivo de álcool durante o tratamento com a sildenafila. Esse tipo de bebida pode afetar o metabolismo, interferindo na concentração necessária e segura para a atividade desejada.

Interação com alimentos

Embora não seja comum consumir toranja (grapefruit) no Brasil, ela pode alterar o modo como a sildenafila funciona.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Flavio da Silva Emery, professor associado da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), atual coordenador do programa de pós-graduação de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto, membro da comissão de divulgação científica da FCFRP-USP e do sub-comitê de Drug Discovery and Development da IUPAC (sigla em inglês para União Internacional de Química Pura e Aplicada); Jose Hipólito Dantas Júnior, professor da disciplina sistema genitourinário da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e coordenador do Serviço de Urologia do Huol (Hospital Universitário Onofre Lopes), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico, especialista em farmácia clínica e análises clínicas, e doutorando em assistência farmacêutica. Integra a Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM/UFES (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo), que integra a rede Ebserh. Revisão técnica: Flavio da Silva Emery.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), SBU (Sociedade Brasileira de Urologia); AUA (American Urological Association); Smith BP, Babos M. Sildenafil. [Updated 2021 Jun 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK558978/.

USP realiza pesquisa sobre comportamento sexual

Para entender o comportamento sexual em diversas regiões do mundo, o IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), ao lado de outros 45 países, está realizando um grande estudo sobre o tema. A ideia é examinar diferentes comportamentos sexuais, incluindo aspectos positivos, como a satisfação e o desejo sexual, e os negativos, como os riscos e problemas do funcionamento sexual.

Um dos questionários já está disponível e pode ser respondido até o final de fevereiro de 2022 —qualquer pessoa a partir de 18 anos pode participar: clique aqui para responder ao questionário.