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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Loratadina trata rinite e alergia de pele, é eficaz e não causa sonolência

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

29/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Loratadina é um medicamento usado para aliviar sintomas alérgicos
  • Ela é classificada como um anti-histamínico de segunda geração porque não causa sonolência
  • Embora seja um MIP, tem dose certa e deve ser usada por tempo determinado
  • Bem tolerada e segura, pode ser indicada para crianças a partir dos 2 anos, adultos e idosos

No mercado desde os anos 1990, a loratadina é um anti-histamínico não sedativo utilizado no tratamento de sintomas alérgicos.

O que é a loratadina?

Trata-se de um tipo de fármaco classificado como anti-histamínico, que é comercializado sob indicação médica, mas também é um MIP (Medicamento Isento de Prescrição). Portanto você pode adquiri-lo sem receita.

Em quais situações ela deve ser usada?

Dada a utilização desse fármaco há mais de 30 anos, muito se conhece sobre seus efeitos e quando bem indicado ele é considerado eficaz. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser usada para tratar as seguintes enfermidades e condições:

  • Rinite alérgica e seus sintomas (coceira nasal, coriza [nariz escorrendo], espirros, olhos lacrimejantes);
  • Urticária e outras alergias dermatológicas.

Entenda como ela funciona

A loratadina possui boa farmacocinética e é rapidamente absorvida no tubo digestivo, após a ingestão oral. Depois, é metabolizada primariamente no fígado, e já começa a fazer efeito entre 1 a 3 horas, obtendo seu pico de concentração de 8 a 12 horas. Na sequência, é excretada pelas vias renal e fecal.

Quanto ao mecanismo de ação (farmacodinâmica), a loratadina atua no organismo para impedir a liberação de histamina, uma substância [amina] biogênica, que é considerada mediadora alérgica da rinite e da urticária.

Como não tem efeito sobre o SNC (Sistema Nervoso Central), ele não causa sonolência (sedação). A explicação é de Marcos Machado, farmacêutico, biólogo e presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo).

"Essa classe de medicamentos surgiu há 30 anos. E são chamados de anti-histamínicos de segunda geração porque têm potencial mínimo para causar sonolência, exatamente o contrário das medicações mais antigas, as de primeira geração", completa Machado.

Conheça as apresentações disponíveis

A marca de referência é o Claritin®, mas existem várias outras com o mesmo princípio ativo, além das versões genéricas.

Aliás, a loratadina consta da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso tem distribuição gratuita em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a elas, basta apresentar a receita médica. Confira as apresentações e as doses disponíveis:

  • Comprimido - 10 mg
  • Xarope - 1 mg
  • Solução oral - 1 mg

Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista do corpo clínico da Amil, explica que há muita experiência do uso desse medicamento na prática clínica, o que lhe confere grande segurança. Contudo, isso não significa que ele possa ser usada indiscriminadamente, e por tempo indeterminado.

"Em geral, indicamos a loratadina durante o período em que duram os sintomas, o que equivale a cerca de 10 dias. Ela pode até ser usada por mais tempo, mas não mais que 30 dias. Caso não haja melhora do quadro, o melhor a fazer é procurar o médico para avaliação", sugere a médica.

Quais são as vantagens do uso desse medicamento?

Além de ser de fácil acesso, seja porque consta da Rename, seja porque é um MIP, Maria Beatris de Miranda Coutinho, médica de família e comunidade e professora do curso de medicina da Universidade Positivo (PR), diz que, na sua opinião, mesmo ao ser comparada a medicações posteriores, e até mais rápidas, a vantagem da loratadina é que ela continua sendo "um antialérgico eficaz, com dose pequena e de menor efeito colateral, a sonolência, típica dos antigos anti-histamínicos".

Saiba quais são as contraindicações

A loratadina não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Informe seu médico caso você se encaixe em alguma das seguintes condições:

  • Doença grave no fígado ou nos rins
  • Intolerância (ou dificuldade de absorção) de lactose ou frutose
  • Epilepsia
  • Porfíria (doença rara)
  • Gravidez
  • Amamentação

Crianças e idosos podem usá-la?

A loratadina pode ser usada com segurança por crianças acima dos 2 anos de idade e idosos. Neste último caso, não é necessário o ajuste de dose. Entretanto, é preciso ter cuidado com pessoas com diabetes, especialmente quando ele faz uso de xarope, que contém açúcar.

Além disso, pacientes que apresentem alterações no fígado e nos rins requerem acerto nas doses, porque a metabolização e a excreção do medicamento passam por esses órgãos. Pessoas com histórico de arritmias devem ser monitoradas para evitar excesso do uso da medicação.

Estou grávida, posso usar loratadina?

Se você toma algum tipo de medicamento no período da gravidez é preciso informar ao seu médico para que, juntos, possam avaliar a segurança da continuidade desse tratamento.

No caso da loratadina, o fabricante contraindica o uso. A razão para isso é que não existem evidências científicas robustas de que ela seja segura para o bebê.

É seguro usar esse fármaco enquanto amamento?

Sabe-se que pequena quantidade de loratadina é excretada no leite materno e, assim, ela é contraindicada para lactantes, especialmente quando estão amamentando recém-nascidos ou bebês prematuros.

Qual é a melhor forma de consumi-la?

O medicamento deve ser tomado pela via oral. Ao fazer uso de comprimido, para ingeri-lo, prefira água. No caso do xarope, evite usar colheres de cozinha para medir a dose. Utilize os medidores que acompanham o frasco, pois eles garantem exatidão.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. Apenas siga as instruções do seu médico quanto à dose e o tempo do tratamento.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Comuns:

Entre as crianças: dor de cabeça; cansaço; nervosismo

Raros - procure o médico imediatamente caso observe os seguintes sintomas e sinais:

  • Reação alérgica grave (vermelhidão na pele, inchaço, coceira, aperto no peito, dificuldade para respirar ou falar, inchaço na boca, face, lábios, língua ou garganta)
  • Queda de cabelo
  • Problemas no fígado
  • Taquicardia (palpitação)
  • Tontura
  • Convulsão

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a loratadina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito, além de aumentar a chance de efeitos colaterais. Informe o médico, o farmacêutico ou o dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas.

Os exemplos a seguir não esgotam as possibilidades de interação com outros remédios, portanto sempre informe seu médico sobre as medicações que você tem usado.

  • Remédios para tratar a arritmia (por exemplo, a amiodarona)
  • Medicamentos para a má digestão (cimetidina)
  • Antibióticos (eritromicina)
  • Antifúngicos (cetoconazol)
  • Anti-hipotensivo (midodrina)
  • Antirretrovirais (ritonavir)

Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, farmacêutica e bioquímica, professora da PUC-PR, acrescenta a essa lista "outros anti-histamínicos e medicamentos que tenham como efeitos colaterais a sonolência e a boca seca —que seriam ainda mais potencializados".

Até o momento, há pouca informação sobre fitoterápicos, mas há alguma evidência de que haja interação com o Hipérico, planta utilizada no tratamento de estados de depressão e ansiedade. Informe seu médico, caso esteja fazendo uso dele.

Quanto aos suplementos, não são conhecidas interações. Apesar disso, informe seu médico sobre o consumo de alguma dessas substâncias.

Posso tomar álcool enquanto usar esta medicação?

Sugere-se não ingerir álcool durante o tratamento com a loratadina. Uma das vantagens desta é, justamente, causar menor sonolência. A bebida poderia interferir nesse efeito.

Devo evitar algum tipo de alimento?

Não são conhecidas interações alimentares.

A loratadina pode afetar a fertilidade ou a ação dos contraceptivos?

Até o momento, não existe evidência científica de que esse medicamento possa reduzir a fertilidade em homens ou mulheres.

Caso esteja programando engravidar, fale com seu médico para que ele possa estar ciente do uso da loratadina.

Quanto aos anticoncepcionais, não há indícios de que a medicação possa modificar os seus efeitos.

Existe interação com exames laboratoriais?

A loratadina pode alterar exames para detectar alergia. Avise seu médico sobre o uso do medicamento. Ele deverá ser suspenso por algum tempo antes da realização do teste.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista membro da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial) e do corpo clínico da Amil (SP); Maria Beatris de Miranda Coutinho, médica de família e comunidade e professora do curso de medicina da Universidade Positivo (PR); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Marcos Machado, presidente do CRF-SP, farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, farmacêutica e bioquímica, professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com experiência na área de farmacologia, atuando principalmente na atenção farmacêutica, assistência farmacêutica, farmacêuticos e farmacovigilância. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Sidhu G, Akhondi H. Loratadine. [Atualizado em 2020 Jul 6]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK542278/; MION, Olavo de Godoy et al. Posicionamento da Academia Brasileira de Rinologia sobre o uso de anti-histamínicos, antileucotrienos e corticosteroides orais no tratamento de doenças inflamatórias nasossinusais. Braz. j. otorhinolaryngol. [online]. 2017, vol.83, n.2 [cited 2020-09-22], pp.215-227. Disponível em: . ISSN 1808-8686. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2017.01.002.