Black Pantera abre luta pessoal: 'Falar de racismo e privilégio incomoda'
Convidado do No Tom, programa apresentado pelo locutor e jornalista Zé Luiz e a cantora e compositora Bebé Salvego, o trio Black Pantera conta como transformou o incômodo relacionado às diferenças sociais em desejo de cantar.
Em meio ao cenário de apropriação do rock, um gênero criado por uma mulher negra, o trio fala em suas letras sobre a falta da presença negra em espaços como os próprios festivais de música. "Falar de racismo e privilégio incomoda. Só a imagem da banda já é muito forte (...) O cara que é realmente racista odeia a existência da banda", explica Chaene.
Na música, a dupla de irmãos Chaene e Charles, junto ao amigo baterista Pancho, executa sua "luta pessoal" e vê as consequências entre os fãs. "É gratificante ver a molecada interessada", diz Charles. "Em dez anos de banda, você vê o público muito mais diverso; cada vez tem mais pessoas pretas, e mais mulheres", acrescenta Rodrigo "Pancho".
Temos uma conexão com o público muito forte; acho que o show ao vivo é nosso maior cartão de visitas (...) Hoje o Black Pantera é maior do que nós tres. É quase um movimento Pancho
Antes do grupo descobrir sua força, Charles lembra o "descaso" do irmão Chaene. "Ele nem ligava", diz. "Só parei para prestar atenção quando ele me pediu o baixo emprestado para gravar as músicas e eu disse: 'Não vou emprestar meu baixo, seu puto'", brinca Chaene. "Mas a ficha caiu quando ouvi a música".
Grupo se entendeu 'afrolatino' em show no Chile: "Não vamos cantar inglês"
Em 2016, a banda fez seu primeiro show fora do Brasil e não parou mais, já somando passagens por Europa e Estados Unidos.
Mas foi em um show no Chile que o trio sentiu o poder de seu trabalho e percebeu como o Brasil não costuma olhar para a América do Sul. "Foi mágico", diz Chaene. "A questão do 'afrolatino' veio desse show. Tínhamos acabado de lançar um EP em inglês e, chegando lá, vimos todas as bandas cantando em espanhol. Os caras falam a língua nativa e nós vamos cantar em inglês? (...) Sentimos um poder ali".
A formação da banda também permitiu que o trio vivesse novas experiências, como andar de avião pela primeira vez na faixa dos 30 anos de idade para tocar em shows. Ao lado de bandas como System of a Down, o trio se apresentou em festivais como Download Festival (Leicestershire, Inglaterra) e Afropunk (em Nova York).
A gente mal saiu de Uberaba e, quando viu, estava em Paris. Três moleques com um sonho quase impossível Charles
Foi nessa viagem que eles também viram pela primeira vez o mar, diz Pancho. "E foi no Sul da França", conta.
Música que 'furou a bolha' emociona até hoje
Em meio aos quatro álbuns de estúdio, um ao vivo e um EP, foi com a música "Tradução" que a banda extrapolou seu público de crossover thrash.
A canção, que homenageia as mães trabalhadoras do Brasil, "furou a bolha" ao cantar de forma sensível o dia a dia de várias mulheres e conseguiu alcançar as rádios. "Furou a bolha porque fala de racismo estrutural de uma forma tão poética", diz Pancho.
É a história de muita gente, as pessoas se identificam. A gente se conecta através da arte Pancho
Chaene afirma que se emociona lendo os comentários dos ouvintes da música. "É a música da minha vida", diz. "Começo a ler e começo a chorar com os comentários do Youtube, porque o povo descreve sua vida".
Ele também lembra que a música foi a última do disco a ser apresentada para a família. "Quando minha mãe ouviu, foi foda", disse.
No Tom
No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Black Pantera:
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