|  | Deepfake mostra o prefeito de Salvador e candidato à reeleição, Bruno Reis (União-BA), dançando o jingle da campanha em ritmo de pagodão baiano | Reprodução/Instagram |
| Por que eleições de 2024 não foram (ainda) as da IA? | |  | Helton Simões Gomes |
| O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se preparou para ela. A experiência eleitoral de Argentina e Índia mostrava que tinha tudo para ser o ano dela. Mas a inteligência artificial não foi essa explosão toda, como se esperava, durante as eleições brasileiras de 2024, cujo primeiro turno ocorre neste domingo (6). Desde o surgimento do ChatGPT em 2022, não teve segmento da economia que não tentou abraçar de alguma forma a IA, sobretudo a generativa, aquela capaz de gerar conteúdo parecido com o produzido por um ser humano. Antes de continuar, um aviso: como fazem os comentários de internet, ressalto que essa análise tem a validade de um post no Twitter. Às vésperas do dia da votação, com campanha no rádio e TV encerrada e os esforços eleitorais voltados para as redes sociais, é possível que surja algo novo. Ainda assim, talvez nada tão grande quanto a força das redes, personificadas nas figuras dos candidatos às prefeituras de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), e de Fortaleza, André Fortaleza (PL). |
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| Publicidade |  | | | Diogo Cortiz e eu contamos no Deu Tilt, podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, que candidatos da Índia chegaram a usar IA para ressuscitar cabos eleitorais e falar suas propostas em um dos mais de 400 idiomas e dialetos que fosse mais próximo do eleitor. Aqui no Brasil, algumas evidências sinalizam que a IA ficou em segundo plano, já que: - Um levantamento feito pela coluna nos TREs de São Paulo, Rio e Minas Gerais, que concentram mais de 40% do eleitorado, detectou apenas 8 ações envolvendo "inteligência artificial" ou "deepfake". Além disso...
- ... Só 47 candidatos fizeram anúncios usando IA nas plataformas da Meta, a única rede social que permitiu propaganda político-eleitoral em 2024 --a maioria deles, segundo levantamento do Aos Fatos, para criar músicas. Tá bom, mas...
- - ... Essa é a fotografia do que os candidatos levaram à Justiça eleitoral por entenderem ser prejudicial à campanha deles e do que toparam informar à Meta. É possível, dada a pulverização da campanha municipal, que movimentos subterrâneos não tenham sido notados. Só que...
- - ... O Observatório IA nas Eleições, uma parceria entre Data Privacy Brasil, Aláfia Lab e Desinformante, vem fazendo um esforço para registrar o uso de IA pelas campanhas em todo Brasil. Até agora, porém, foram 24 casos, a maioria em São Paulo. Mas...
- - ... A mais curiosa delas vem do prefeito de Salvador e candidato à reeleição, Bruno Reis (União), que criou uma deepfake para aparecer dançando o jingle em ritmo de pagodão baiano "Salvador não para". Então tá. Fora isso...
- - ... Tabata Amaral (PSB-SP) e Bruno Engler (PL-MG) criaram chatbots para falar com eleitores. Habilmente, a dupla não deu aos robôs os seus próprios nomes. De todo modo, a prática é vetada pelo TSE. Está no lá no artigo 9-B do da Instrução Normativa Nº 0600751-65.2019.6.00.0000:
O uso de chatbots, avatares e conteúdos sintéticos como artifício para intermediar a comunicação de campanha com pessoas naturais submete-se ao disposto no caput deste artigo, vedada qualquer simulação de interlocução com a pessoa candidata ou outra pessoa real TSE |
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| | Ouvi do Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS-Rio (Instituto Tecnologia e Sociedade), que "leva um tempo para se conseguir gente formada suficiente para uma tecnologia que ainda é de entrada". Isso aconteceu com outras inovações. Claro que a IA está vindo rápida, mas, ao que parece, nessa eleição não veio rápido o suficiente. Teve casos? Sim. Mas foi a maioria? Não, foi uma exceção. Em 1996, a gente achou que seria a eleição da internet, o que só ocorreu em 2002 com o Obama Fabro Steibel Para ele, o TSE adotou uma posição pioneira diante da IA, algo não observado em outras grandes democracias. Para outros observadores, no entanto, a IA já está entre nós, mas de outra forma: elas exercem um papel coadjuvante, porque estrela mesmo foram os humanos que souberam navegar pelos algoritmos das redes sociais para sequestrar sua atenção. |
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|  | Os influenciadores e essa lógica de economia da atenção e conteúdo direcionado no fim das contas se dá em ambientes que são intermediados por inteligência artificial | | Bruno Bioni | fundador do Data Privacy Brasil |
| Não é bem assim, mas tá quase lá | | Coadjuvante de luxo neste pleito, mas com grande potencial para as próximas corridas eleitorais, a IA já insinua usos preocupantes que podem pintar nas eleições do futuro. Bioni chama a atenção para as montagens com cunho sexual feitas sobre Tabata e Marina Helena (Novo-SP), ambas candidatas à prefeitura paulistana. Já Steibel diz que a IA dá cara nova a problema antigo: as fakes news. Corrobora com a impressão dele que o PolitiFact, uma ferramenta de checagem de fatos operada pelo Poynter Instituto, já vem captando essa tendência. Em 2023, 6% de suas revisões apontaram algum uso de IA para desinformar. Dito isso, Bioni faz uma consideração a respeito do cenário brasileiro. Nas eleições municipais, em que, tirando as grandes cidades, o contato entre eleitores e candidatos geralmente é mais próximo, uma deepfake absurda tende a ser facilmente descreditada pela comunidade. Em dois anos, quando teremos eleições para governador, deputados, senadores e presidente, podemos não ter a mesma sorte. |
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