Roberto Sadovski

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Opinião

'Operação Vingança': pós-Oscar, Rami Malek não consegue sair do ponto morto

Depois de ganhar o Oscar de melhor ator por "Bohemian Rapsody", a carreira de Rami Malek parece ter emperrado no ponto morto. Após a consagração como Freddy Mercury, o ator dublou um gorila em "Dr. Dolittle", foi coadjuvante de Denzel Washington em "Os Pequenos Vestígios", apareceu pouco em "Amsterdam" e "Oppenheimer" e fez um vilão inexpressivo em "007 - Um Novo Dia Para Morrer".

"Operação Vingança" o recoloca no topo dos créditos, desta vez em um thriller de espionagem seguro e confortável. A estratégia parece ser a de correr zero riscos em um filme morno, que entretém por duas horinhas antes de cair na vala do esquecimento. Para um ator do calibre de Malek, que prometia uma curva ascendente desde a premiadíssima série "Mr. Robot", é pouco.

Malek interpreta Charles Heller, analista da CIA que trabalha decodificando dados secretos - inclusive documentos de ações ilegais sancionadas por seu chefe imediato na agência. Seu mundo vira ao avesso quando sua mulher (Rachel Brosnahan), em viagem a Londres, é morta por um grupo terrorista. Tomado pelo pesar, ele rapidamente descobre a identidade dos assassinos, mas percebe que a CIA, por motivos estratégicos, opta por não agir.

Em uma reviravolta que só poderia existir na ficção, Charles decide chantagear seu superior, Alex Moore (Holt McCallany): ele quer ser treinado como agente de campo para caçar os terroristas e vingar sua esposa, do contrário vai expôr os documentos que comprometem o alto escalão da agência. Acuado e reticente, Moore topa, colocando Charles, sujeito retraído sem nenhum instinto assassino, para ser treinado por Henderson (Laurence Fishburne), agente casca grossa da CIA.

Rami Malek em 'Operação Vingança": nem Bond, nem Bourne
Rami Malek em 'Operação Vingança": nem Bond, nem Bourne Imagem: 20th Century Studios

Embora difícil de engolir, a premissa de "Operação Vingança" sugere um thriller de espionagem à moda antiga, com um super espião rodando o mundo em uma missão de vingança pontuada por sequências de ação eletrizantes. Não é esse, contudo, o filme assinado por James Hawes. Veterano da TV britânica, o diretor conduz a trama com seriedade extrema, sufocando qualquer leveza que possa contribuir para a suspensão da descrença.

Assim, somos levados a crer que o personagem de Malek consegue, num piscar de olhos, elaborar sob pressão planos complexos não só para localizar e eliminar seus alvos, como também se manter rodando por toda a Europa constantemente à frente da CIA. Mesmo apresentado como um agente com QI acima do normal, ele ainda é um sujeito mais à vontade na frente de um computador, e não como caçador e assassino de terroristas internacionais.

Não é a primeira vez que essa história ganha os cinemas. "Operação Vingança" (título genérico nível VHS da América Vídeo com Charles Bronson) foi adaptado em 1981 por Charles Jarrott, que antes rodara duas aventuras Disney, "A Última Viagem da Arca de Noé" e "Condorman". Robert Littell, ex-militar da Marinha e correspondente estrangeiro durante a Guerra Fria, que escreveu duas dezenas de thrillers de espionagem após de aposentar, assinou o roteiro que adaptava seu livro "The Amateur".

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A nova versão troca a tensão geopolítica entre Estados Unidos e União Soviética por terroristas modernos, mas a moldura da trama - as consequências das ações moralmente questionáveis da CIA em nome da "segurança nacional" - permanece a mesma. No momento em que o presidente americano se revela mais e mais um lunático disposto a instigar um novo conflito global, uma aventura de espionagem que cutuca as fundações do "império" chega em boa hora.

O bom elenco, completado por Julianne Nicholson, Michael Stuhlbarg, Caitríona Balfer e Jon Bernthal (num papel piscou-perdeu), ajuda a manter o interesse. Pena que o filme seja frouxo nas cenas de ação, indeciso em sua linha política e covarde em sua reviravolta final. Se os dotes dramáticos de Rami Malek são incontestáveis, é também inegável que lhe falta carisma para convencer no papel de herói improvável. Paciência. Cada um tem o Jason Bourne que merece.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

2 comentários

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Claudio Soares Vasconcelos

até hj não entendo como esse ator ganhou o oscar...é de doer!

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Marcos Benassi

Eita, Sadowski, como diria um caro amigo, o Lupércio, "tem coisa pior na vida". Não irei ao cinema, mas torço pelo moço, ele é competente. Quando estrimarem, eu vejo. Grato do aviso!

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