Iron Maiden volta ao Brasil com seu heavy metal família em mais um showzaço
Há tempos o Iron Maiden não só uma banda de rock. Os decanos do metal britânico são uma instituição. Um rito de passagem. Um legado passado entre gerações. Não é raro ver famílias inteiras — avós, pais, filhos e netos — unidas sob sua bandeira. É como Paul McCartney ou Taylor Swift, mas trajados com camisetas pretas e fazendo chifrinhos com os dedos. É um acontecimento.
A nova turnê, "The Future Past World Tour", traz o sexteto de volta dois anos depois de suas últimas apresentações no Brasil. O novo show é, de cara, bem melhor. Boa parte das firulas superelaboradas no palco, que muitas vezes se sobrepunham à música, foram substituídas por uma produção mais simples — o que, no caso do Iron Maiden, está bem longe de ser o esquema "um banquinho e um violão".
O mais bacana do novo show, que terá uma segunda apresentação na noite deste sábado (7), é seu setlist. O Maiden deu um respiro a seus hits mais óbvios e montou uma seleção ancorada em dois álbuns: o revolucionário "Somewhere in Time", que em 1986 adornou guitarras e baixo com sintetizadores, e seu lançamento mais recente, "Senjutso". O público respondeu às quase duas horas de pancadaria com o entusiasmo de sempre.
Quando digo "pancadaria", é da forma mais elogiosa possível. O Iron Maiden, expoente do New Wave of British Heavy Metal, sempre foi pesado, mas nunca agressivo. Suas desavenças sempre se desdobraram entre as quatro paredes da banda, nunca interferindo em seu som ou sua postura. Longe de erguer uma bandeira de rebeldia, suas músicas navegam por temas como história e literatura, religião e guerras, fantasia e ficção científica.
Este último parece emoldurar a nova tour, que esquenta ao som de "Doctor Doctor", dos britânicos do UFO, e emenda o tema de "Blade Runner" antes de a banda tomar o palco com "Caught Somewhere in Time" e "Stranger on a Strange Land". Bruce Dickinson, vestido como um senhor da guerra no deserto de "Mad Max" e com entusiasmo de adolescente, prova na performance e no gogó por que é um dos maiores frontmen da história.
"Senjutsu" domina a primeira metade do show, e confesso a surpresa ao ver um bom naco de fãs com as músicas na ponta da língua. É testamento à dedicação dos seguidores do Iron Maiden, uniformizados com uma das centenas de variações de camisetas com o logo da banda, formando o grupo mais dedicado entre os entusiastas do metal. Nenhuma outra banda causa tamanha comoção.
A turma resiste até nas canções que desafiam a atenção ao vivo, como "Death of the Celts", "Alexander the Great" e "Hell on Earth", cada uma cronometrada em cerca de 10 minutos. São os momentos em que a banda se diverte com sua inegável habilidade musical — mesmo que alguns duelos do trio de guitarras experimentem um leve desencontro —, carregando a massa com eles.
Os hits, claro, equalizam o jogo. E tome "Can I Play with Madness", "Fear of the Dark", "Iron Maiden" (sem nenhuma menção a Paul Di'Anno, vocalista dos dois primeiros álbuns que morreu em outubro passado). Já no bis, "The Trooper" e "Wasted Years" amarram a viagem no tempo, completa com pirotecnia no palco e calor saariano transformando a noite paulistana em sauna. Certo está Steve Harris, baixista e dono da bola, em tocar de bermudas.
Sem fazer nada pela metade, o Iron Maiden confirma sua posição como espetáculo para toda a família. Se a música é bacana e nostálgica, Bruce Dickinson por vezes age como animador de festa infantil, especialmente ao interagir com Eddie, mascote eterno da banda. É cafona, exagerado e absurdamente divertido; um ataque sonoro com categoria, pincelado pelo senso de humor assumidamente britânico.
Claro que o fã mais hardcore sente falta de "The Number of the Beast", "Aces High" ou "Run to the Hills", mas o vocalista é ligeiro em alardear que a próxima turnê, comemorando as cinco décadas da banda já ano que vem, tem passagem garantida pelo Brasil. Wasted years? Pelo contrário: há 50 anos o Iron Maiden não desperdiça um segundo sequer!
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