Cidade no interior de SP é conhecida como 'Roma brasileira'; veja como é
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A cidade de Itu (SP) é conhecida pelos seus exageros e estruturas gigantes, mas a talvez mais católica de todas as cidades do país também prestou suas homenagens ao papa Francisco, morto na última segunda aos 88 anos.
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo ergueu, em sua fachada, a bandeira do Vaticano e a do Brasil a meio mastro - em sinal de luto e respeito pelo pontífice.
Além disso, seu sino badalou a cada duas horas durante todo o dia, como forma de lamentar a perda do líder da Igreja, mostrou uma gravação realizada pelo sineiro César Rogério Jaques entregue à TV Tem, filiada local da Rede Globo.
Por que Itu é a "Roma brasileira"?
Como outras cidades antigas do país, Itu foi fundada em 1610 tendo como marco justamente a construção de sua primeira capela, dedicada a Nossa Senhora da Candelária. No entanto, a região já havia começado a ser povoada em 1604, quando os bandeirantes receberam terras nos campos de Pirapitingui.

A devoção mudaria a paisagem de tal forma nos séculos seguintes que, em 1765, o local da primeira capela ganhou uma nova construção: a Igreja do Bom Jesus, que na sua fachada ostenta imagens dos quatro evangelistas.
Até então, apenas um outro local de devoção dividia a atenção dos ituanos com a primeira capela: uma segunda, dedicada a Santa Rita de Cássia, de 1728.

O antiquíssimo monumento, até hoje preservando seu interior original, ficava no antigo arrebalde de vila, um caminho que levava para Jundiaí.
Em 1780 viria um templo bem mais imponente: a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, que a cidade apresenta até hoje como o maior patrimônio do barroco paulista, além de interior também em estilo rococó e obras em talha e pinturas dos artistas José Patrício da Silva, Padre Jesuíno do Monte Carmelo e Almeida Júnior.
A sacristia tem pinturas de teto da italiana Lavínia Cereda, de 1878, enquanto seu órgão de tubo de 1883 é da renomada marca francesa Cavaillè-coll.

Bem pertinho, em 1782, foi inaugurada a Igreja do Carmo, a partir da ampliação da capela-mor e sacristia do convento de mesmo nome.
Seu interior ainda conserva um conjunto das sacras Imagens do Triunfo do Nosso Senhor, esculpidas em madeira no século 18 pelo artista Pedro da Cunha, segundo a prefeitura. Além disso, as pinturas desta capela foram feitas pelo Padre Jesuíno do Monte Carmelo.
Ele, aliás, merece a sua visita a uma de suas construções, mesmo que não seja católico: é que Jesuíno só foi ordenado quatro anos após ficar viúvo, em 1797, mostrou uma reportagem da Folha em 2004, mas já era arquiteto, operário, artista e devoto muito antes.

A essa altura, Jesuíno já havia produzido o suficiente para se sagrar o mais importante nome das artes plásticas paulistas no período colonial. Mestiço, ele fez um protesto na Igreja do Carmo, onde pintou um anjo birracial para protestar, de maneira velada, contra a discriminação racial.
Todo este conjunto foi tombado como patrimônio histórico nacional.

Em 1820, viria a Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, idealizada também por Carmelo.
Ela ficaria ainda mais célebre em 1859, quatro décadas após a morte de Jesuíno, por outro movimento vanguardista: ela passou a abrigar o primeiro colégio para meninas da província de São Paulo, tocado pelas irmãs de São José que vieram de Chambery, na França.
Curiosamente, dentro dela está sepultada sua primeira madre superiora, Marie-Théodore Voiron, atualmente em processo de beatificação no Vaticano, segundo a Diocese de Jundiaí.

Encerra a lista de igrejas de seu centro histórico a dedicada a São Benedito, na rua Santa Cruz, que começou a ser construída em 1908. Seu terreno foi doado por um imigrante italiano muito devoto do santo, Miguel Véspoli.
Por isso, ela se tornou uma espécie de símbolo da devoção dos ituanos, já que as obras foram custeadas também com a caridade do povo. No seu interior, há históricas imagens que pertenciam ao antigo Convento de São Francisco.

Diante de tantas igrejas que foram bem preservadas pelos "pioneiros" e das demonstrações de fé em toda esquina para uma cidade pequena até o início do século 20, quando ela tinha pouco mais de 10 mil habitantes, reza a lenda que Itu impressionou durante uma visita o talvez mais importante religioso da História do Brasil: o Cardeal Arcoverde, primeiro brasileiro (e latino-americano) a entrar para o colégio no Vaticano.

Teria sido Arcoverde que deu a ela o apelido que carrega até hoje: a Roma brasileira.
Gigante pela própria natureza?
Ironicamente, Itu foi parte de grandes momentos da História do Brasil ainda presentes em sua arquitetura, para muito além do famoso orelhão e das piadas eternizadas pelo comediante Simplício nos anos 70.

Seus casarões e fazendas, muitos abertos ao público, ainda guardam vestígios dos ciclos das bandeiras, da cana-de-açúcar e do café. É o caso da Fazenda do Chocolate, remanescente do século 18, que oferece trilhas, passeios, contato com os animais, restaurante e até uma adega que funciona na antiga senzala e onde são vendidos vinhos, licores e cachaças.
Outro histórico casarão é a "Casa do Barão", que pertenceu à família de Carlos e José Vasconcelos de Almeida Prado e é mantido pela USP. O local abriga o Centro de Estudos do Museu Republicano, a biblioteca, a área administrativa e a área científica e de curadoria da instituição.

Na mesma rua do imóvel está o Museu Republicano de Itu, inaugurado em 1923. Ali aconteceu a Convenção de Itu em 1873, onde fazendeiros, comerciantes e profissionais liberais ligados ao café se reuniram e formaram o PRP, Partido Republicano Paulista, que articularia a Proclamação da República por Deodoro 16 anos depois.

É famosa também, paradoxalmente, a Casa Imperial. A construção de 1881 acolheu membros da família Orleans e Bragança - a coroa brasileira - em 1884. Atualmente ela seria um imóvel particular, residencial, e por isso não pode ser visitada, segundo a prefeitura.
3 comentários
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Luis Guilherme de Camargo Ferraz
Há um equívoco na foto "A Casa do Barão, em Itu (SP), onde fica o Museu Republicano da USP Imagem: Webysther Nunes/Creative Commons" Não foi ali que aconteceu a Convenção de Itu em 1873, a qual ocorreu onde hoje se denomina Museu Republicano, na mesma rua, um pouco mais abaixo.
Maria Maria
Duas gotas d agua