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Nômade antes de ser moda, brasileiro deu volta ao mundo de bicicleta

Olinto nos Alpes Franceses durante a volta do mundo - Antonio Olinto Ferreira
Olinto nos Alpes Franceses durante a volta do mundo
Imagem: Antonio Olinto Ferreira

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

29/09/2021 04h00

No começo dos anos 1990, após anos atuando como advogado, o brasileiro Antonio Olinto Ferreira (@olintoerafaela) estava se sentindo sedentário.

"Comecei a criar barriga, o que me incomodou. Resolvi comprar uma bicicleta para me exercitar", lembra ele. "E acabei gostando muito desse negócio. Quando vi, estava fazendo percursos de 100 quilômetros de extensão".

Certo dia, a organização para a qual Olinto trabalhava fechou e, com o dinheiro recebido na rescisão de seu contrato, algumas economias e a nova paixão criada pelo pedal, ele resolveu voar para a Europa para explorar o Velho Continente sobre uma magrela.

Olinto acampou sob neve durante a volta do mundo - Antonio Olinto Ferreira - Antonio Olinto Ferreira
Olinto acampou sob neve durante a volta do mundo
Imagem: Antonio Olinto Ferreira

"Meu plano era pedalar pela Europa por um ano. Mas, ao chegar lá, gostei tanto de viajar de bicicleta que resolvi continuar com essa história. Vi que gastava muito pouco no meu dia a dia.

Decidi que, no lugar de dar uma volta na Europa, eu seguiria no sentido leste, para ver até onde eu conseguiria ir", relata.

E o brasileiro foi longe: a viagem acabou durando três anos e meio, somou mais de 46.600 quilômetros percorridos de bike e deu uma verdadeira volta ao mundo, passando por 34 países em quatro continentes.

Usando a bicicleta como meio de transporte em seus deslocamentos terrestres, acampando na hora de dormir e preparando sua própria comida, Olinto teve despesas baixas para o tamanho da empreitada: "ao todo, gastei US$ 10 mil durante todo este tempo".

Parceria para novas viagens

Após a volta ao mundo, Olinto regressou ao Brasil apaixonado e transformado pela vida em movimento. "Quando voltei, eu era outra pessoa. Nem minha mãe me reconhecia mais", conta.

Descartando qualquer possibilidade de abraçar o Direito novamente, ele escreveu um livro sobre sua volta ao mundo (chamado "No Guidão da Liberdade") e, no final dos anos 90, retomou a vida na estrada, indo morar em um motorhome e, logicamente, levando sempre sua bicicleta a bordo do veículo.

"Estou até com hoje com este estilo de vida nômade", conta.

Nunca mais tive uma casa que não fosse um motorhome".

Em 2007, ele conheceu a arquiteta (e também ciclista) Rafaela Asprino: os dois se apaixonaram e ela virou sua parceira de motorhome e de pedal.

Olinto e Rafaela no Salar de Uyuni, na Bolívia - Rafaela Asprino - Rafaela Asprino
Olinto e Rafaela no Salar de Uyuni, na Bolívia
Imagem: Rafaela Asprino

"Começamos a viajar pelo Brasil para descobrir e divulgar rotas para praticar cicloturismo por aqui", conta Olinto, dizendo que, nestas jornadas, eles produzem livros e guias de cicloturismo sobre os destinos visitados — e cujas vendas ajudam a manter seu estilo de vida.

Juntos, por exemplo, ambos já cruzaram o território nacional para desbravar de bike locais como a Serra do Espinhaço, a Estrada Real e as lindas estradas que existem no Sul.

E, de tempos em tempos, eles deixam sua casa móvel estacionada no Brasil para voar para o exterior, levando as bicicletas para lugares onde é possível encontrar cenários incríveis para pedalar.

"Já fomos para a Patagônia, Lapônia e Himalaia. E também para países como Peru, Irã e Turquia".

Lugares impressionantes

Há, logicamente, muitos lugares do Brasil e do exterior que impressionaram o casal com sua beleza.

"Lá fora, por exemplo, foi incrível pedalar na Turquia, na região de Ladakh [no norte da Índia], na Bolívia [onde o casal visitou o surreal Salar de Uyuni] e na Patagônia", conta Olinto. "E aqui no Brasil, a região dos cânions no Sul, a Estrada Real e a Serra do Espinhaço estão entre os lugares fantásticos para o cicloturismo".

E enquanto costumam usar o motorhome como casa em suas viagens nacionais, Olinto e Rafaela (que hoje têm, respectivamente, 54 e 47 anos) preferem acampar durante suas jornadas no exterior.

Acampamento no Irã - Antonio Olinto Ferreira - Antonio Olinto Ferreira
Acampamento no Irã
Imagem: Antonio Olinto Ferreira

"Sempre que saímos do Brasil, é para acampar", diz Olinto. "Porém, agora com meus 54 anos de idade, às vezes compensa se hospedar em pousada um dia ou outro, para descansar. Mas gostamos de visitar lugares com espaços para acampar onde a gente quiser, como regiões de deserto e montanhas".

Atualmente, por causa da pandemia, o casal está em seu motorhome no interior de São Paulo, esperando que a situação fique mais propícia e segura para poder fazer cicloturismo de novo.

"Para o futuro, temos vontade de ir a Jujuy, uma região no norte da Argentina com paisagens muito interessantes para o cicloturismo [com estradas que cruzam belos cenários áridos]. E também queremos pedalar pela Ásia Central, para conhecer países como Tadjiquistão e Uzbequistão".