Monteiro: bela atuação que voltou a expor seu aspecto mais vulnerável

Thiago Monteiro fez uma bela apresentação no Australian Open. Pelo menos durante os primeiros três sets, o que lhe permitiu estar a um ponto de eliminar o ex-top 5 Kei Nishikori. Foram dois match points não convertidos e, a bem da justiça, ambos muito bem jogados pelo japonês.
Seria injusto, contudo, resumir a derrota de Monteiro aos dois match points que passaram. Nishikori, com a experiência de seus 35 anos e dezenas de jogos grandes, soube virar o jogo. Passou a ler melhor o saque do brasileiro. Começou a agredir mais nas devoluções. Encontrou uma maneira de jogar mais dentro da quadra e distribuindo o jogo. Agindo em vez de reagindo. E foi isso que aconteceu nos dois últimos sets, em que Monteiro teve pouquíssimas chances - dois break points isolados no quinto set, quando já estava atrás no placar - e não conseguiu equilibrar as ações novamente.
Entretanto, Nishikori só conseguiu se colocar em posição para fazer isso tudo porque ao longo da partida confirmou seu saque confortavelmente. As devoluções de Thiago - reconhecido ponto vulnerável de seu tênis - lhe deixaram na mão mais uma vez. Talvez não tenha ficado tão óbvio nos três primeiros sets, enquanto o cearense sacou brilhantemente, sempre achando um ponto "grátis" com o serviço que lhe permitia sair de um buraco ou evitar cair em um.
Quando a porcentagem de primeiro saque caiu de 68% no terceiro set para 48% no quarto, o cenário ficou um pouco mais claro. Monteiro não conseguia consistentemente devolver os saques de Nishikori a ponto de se colocar bem nos ralis. Foram só dois winners de devolução em todo o jogo. Apenas 24% dos pontos vencidos como devolvedor. Números baixíssimos para um jogo desse porte, sobretudo contra um Nishikori que hoje passa longe de ter no saque uma grande arma. Um Nishikori que sacou, em média (em media!), 20km/h mais lento do que Monteiro ao longo das 4h de jogo. O japonês registrou 171 km/h no primeiro serviço e 146 km/h no segundo, contra 191 km/h e 164 km/h do brasileiro, respectivamente.
Thiago agrediu pouco, pressionou pouco e mal mudou seu posicionamento, algo que pelo menos mexeria com os pontos de referência do japonês. O máximo que Monteiro fez nesse sentido foi, em alguns segundos serviços, dar um passo para trás e dois-três para a direita, mostrando ao japonês que devolveria com seu forehand. Pois Nishikori pouco se incomodou. Sacou no forehand mesmo, sem medo, e Monteiro nem assim conseguiu ser agressivo a ponto de se colocar em vantagem nos pontos.
Talvez seja cruel apontar o dedo na ferida agora, depois do que foi uma bela apresentação - e foi bela, de verdade, como escrevi lá no alto, na primeira linha deste text - mas muitos tenistas gostam de dizer, quando perdem match points, que os jogos não foram definidos só naqueles pontos. Clichê ou não, é uma tese que se aplica neste Nishikori x Monteiro. Tivesse devolvido com mais eficiência enquanto estava sacando bem, Thiago talvez tivesse fechado o jogo mais cedo. Quando o seu próprio saque teve uma queda - o que também é normal em jogos de cinco sets - ficou difícil segurar Nishikori.
Costumo escrever que enfrentar a elite expõe os pontos vulneráveis de qualquer atleta - não só no tênis. O Nishikori de hoje, fora do top 50 e com 35 anos, voltando a subir no ranking depois de uma cirurgia no quadril esquerdo em 2022, não está mais na prateleira mais alta da ATP, mas conhece o jogo. Sabe o que precisa fazer e ainda o faz diante de suas limitações. Thiago foi a vítima mais recente. Sofreu uma derrota dura, amarga e que deixou exposto mais uma vez o elo mais fraco de seu tênis.
Coisas que eu acho que acho:
- Não gosto das marcas virtuais que a transmissão do Australian Open vem incluindo nas quadras, na área de jogo, durante os pontos. Nada contra os logos ou alguma empresa específica (Marriot Bonvoy, Google Pixel e Stella Artois foram algumas). Incomodam mais a monetização desnecessária e a poluição visual. "Ah, Cossenza, mas é um logo pequeno e só de um lado da quadra." Concordo. Mas daqui a alguns anos, alguém vem com o discurso de "não atrapalha em nada" a transmissão (porque, na prática, não atrapalha mesmo) e resolve colocar outra marca do lado oposto da quadra. E quando argumentarem que essa outra marca não atrapalha, vão incluir outro logo na outra lateral. E mais um na lateral oposta. E mais um aqui, outro ali... É assim, sorrateiramente, que muitas coisas acontecem no tênis.
- Lembram de quando permitiram o coaching? A "regra" (que nunca até hoje virou regra-regra escrita porque não entrou no livro de regras) permitia apenas diálogos curtos quando técnico e atletas estivessem do mesmo lado da quadra. Hoje, vemos treinadores e tenistas debatendo com tanto afinco que parecem tratar de temas complexos como aquecimento global e opções de hospedagem durante o verão em Riviera de São Lourenço. As coisas saem de controle fácil no tênis.
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