Dirigentes, torcedores, jogadores: o futebol e o descontrole emocional
Nos últimos dias vimos pancadaria entre jogadores no clássico curitibano, dirigentes do Corinthians quase partindo para as vias de fato em votação de impeachment, organizadas do mesmo time brigando entre si no Ceará, torcedores em guerra nas ruas antes do Majestoso em São Paulo. Tudo em um recorte mínimo de tempo.
Parece que alguma coisa está fora da ordem no futebol. Ânimos à flor da pele. Mesmo quando não vemos tapas e socos podemos escutar o som do descontrole: vaias em começo de temporada, vaias no primeiro passe errado, xingamentos e desespero generalizado.
Sempre houve brigas e sempre houve vaias, você pode argumentar. E, se o fizesse, estaria correto. A questão aqui é a intensidade e o intervalo entre as manifestações e as pancadarias. Antes, a histeria tinha dia e hora marcados. Uma derrota dolorida numa final, uma briga agendada, a vaia depois de um acúmulo de derrotas.
Ao buscar explicações talvez tenhamos que tirar o futebol do centro. É bastante provável que a causa seja social. É bastante provável que estejamos no limite em muitos aspectos de nossas vidas e usemos o futebol como a tal válvula de escape, mas não do modo correto. Cansados, desesperados e desesperançosos, corremos para o jogo que amamos. Mas ele já não nos oferta entretenimento. Agora ele rima com lucro, seja através das apostas, dos ingressos ou das negociações, rima com falta de paciência para esperarmos a construção de um time, rima com "paguei caro demais por esse ingresso e exijo um jogo decente".
Faz sentido Abel Ferreira ser vaiado nos primeiros jogos da temporada? Eu acho que não. Faz sentido um ingresso para ver Madureira e Fluminense no Espírito Santo custar 240 reais? Eu acho que não. Faz sentido uma diretoria não conseguir dizer se houve ou não intermediário atuando no novo contrato de patrocínio? Eu acho que não. Faz sentido contratar um treinador conhecido por montar um estilo de jogo radicalmente diferente do que o praticado e não dar a ele tempo para trabalhar? Eu acho que não.
O futebol não precisa fazer sentido na concretude da vida, mas ele precisa exercer sentido simbólico e nem isso ele consegue mais. O meme diz que haverá sinais antes do fim do mundo. Eles estão por aí. A questão é saber enxergá-los.
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