Julio Gomes

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Coragem de Arthur Jorge é a marca da temporada do Botafogo

O Botafogo é campeão da Libertadores da América pela primeira vez e pode ganhar também o Brasileirão nos próximos dias, coisa que não faz há 29 anos. Muito se falou nos últimos dias da SAF de John Textor, sobre o dinheiro gasto na contratação de jogadores, sobre o gigantismo adormecido do clube da estrela solitária, sobre uma nova ordem, sobre o heroísmo dos caras por terem vencido uma final com um a menos o tempo todo.

E muito se falou sobre Arthur Jorge.

O técnico com nome de craque - entre os técnicos. O Arthur Jorge "original", campeão da Europa com o Porto e falecido recentemente, é um dos ícones do esporte em Portugal e uma espécie de "papa" para os técnicos lusitanos. Uma inspiração, para dizer o mínimo.

O Arthur Jorge do Botafogo, tal qual Abel Ferreira, não chegou cá a estas terras com um curriculum muito extenso. Que ele trabalha bem, monta o time estrategicamente, com uma digital clara, todos vimos. Também é importante ressaltar a capacidade de simplesmente ignorar o que havia acontecido entre o meio de 2023 e o momento da chegada dele, um derretimento anímico dos jogadores que não tinha como não afetar todas as bases do clube. Ele trabalhou como se nada tivesse ocorrido, muito diferente de seu compatriota, Bruno Lage, um sujeito desinteressado. Tocou a bola para frente sem olhar para trás.

Mas o que mais me chama a atenção é a coragem. Esta é, para mim, a palavra que define mais este treinador português que veio desbravar o futebol brasileiro.

Arthur Jorge estreou contra a LDU, em Quito, depois de o Botafogo ter perdido em casa na estreia. Mandou o time para frente, com Luiz Henrique, Jeffinho, Júnior Santos e Tiquinho Soares. Poderia ter estreado no clube de forma mais cautelosa, ainda mais por ser um jogo na altitude, contra um time importante do continente e então campeão da Sul-Americana. Mas não! Foi para cima. E perdeu. Chamei-o de maluco. De maluco, não tem nada.

Daquele time que jogou contra a LDU, só Barboza, Marlos Freitas e Luiz Henrique começaram a final da Libertadores. O Botafogo foi trazendo gente, e Arthur Jorge foi rapidamente encaixando as peças, sempre com a proposta de ir para cima e agredir o adversário. Sempre com coragem. E o ápice da bravura veio na final, após a expulsão de Gregore, com a manutenção do time. Uns 99 a cada 100 treinadores teria mexido no time, tirando um atacante e reforçando o meio. Ele, não. Fez os devidos ajustes, que exigiram sacrifício do time, mas não comprometeram a capacidade ofensiva.

Foi uma vitória para lá de justa, como foi uma temporada de sete meses para lá de épica com o português no comando. Um ano marcado pela coragem do treinador e, claro, pela coragem de quem soube olhar para o passado e canalizar toda aquela energia para algo positivo no futuro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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