Julio Gomes

Julio Gomes

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Duelo saudita na Champions da Ásia é ótimo resumo sobre Firmino e Neymar

Para a maioria, Roberto Firmino e Neymar Jr não podem sequer ser colocados na mesma frase. Eu digo que, no auge, Neymar não fez, na Europa, a diferença para seus times, Barcelona e PSG, que fez Roberto Firmino, no auge, para o Liverpool. Os dois têm a mesma idade e, na prática, passaram anos jogando em um espaço de campo parecido. Não à toa, Firmino não conseguiu ter na seleção brasileira o mesmo sucesso que teve no Liverpool - seu melhor torneio foi a Copa América de 2019, quando Neymar não jogou. Firmino sempre foi um facilitador. Neymar, às vezes.

Quis o destino que os dois fossem parar na Arábia Saudita. E que não caíssem exatamente nas graças dos treinadores. Firmino foi a primeira grande contratação do Al Ahly, time de Jeddah que voltava à primeira divisão e foi um dos quatro agraciados a receber o aporte financeiro do governo. Em janeiro deste ano, no meio da segunda temporada por lá, o técnico alemão Matthias Jaissle decidiu que, com a chegada de Galeno, Firmino seria o estrangeiro retirado da lista de inscritos do clube na Liga Saudita.

Também em janeiro, Jorge Jesus, treinador do Al Hilal, anunciou que Neymar não havia conseguido atingir o nível físico desejado e seria o estrangeiro que ficaria fora da lista de inscritos da Liga.

Havia uma coisa em comum entre os dois clubes. Ambos estavam vivos e com as melhores campanhas da Champions League asiática, e Firmino, no Al Ahly, e Neymar, no Al Hilal, continuariam normalmente inscritos para jogar a competição continental.

Neymar imediatamente começou a negociar a saída do Al Hilal. Passou um ano e meio no clube e jogou meia dúzia de minutos. Veio para o Santos, onde o tempo mostrou que Jesus tinha razão - estava sem condições físicas. Já Roberto Firmino, apesar de ter sido alvo de especulações, ficou lá na Arábia Saudita, trabalhando.

Nesta semana, chegaram as fases decisivas da Champions asiática, e Jaissle resolveu dar a titularidade a Firmino. Ele fez um gol nas quartas de final e um gol hoje, na vitória por 3 a 1 do Ahly sobre o Hilal (que não tinha Neymar, claro). Jogou muito. Mostrou quem é e quem sempre foi, um trabalhador. Sem choro, sem mimimi, sem reclamações.

No sábado, o Al Ahly jogará sua terceira final continental (perdeu as outras duas, em 1986 e em 2012). Vai enfrentar ou o Al Nasr, também da Arábia, de Cristiano Ronaldo, outro trabalhador, diga-se, ou o Kawasaki Frontale, do Japão. Já o Al Hilai, que é o maior campeão da Ásia (com quatro títulos), vai acabar a temporada de mãos vazias. Se tivesse Neymar, mesmo que por poucos meses, talvez a história tivesse sido diferente.

O Al Hilal tampouco terá Neymar no Mundial de Clubes da Fifa. Sequer sabe se terá Jorge Jesus, que além de perder tudo na temporada ficará sem o sonho de assumir a seleção brasileira. De time imbatível, recordista de vitórias na história do futebol, a um time sem títulos.

Em 2017, quando Neymar deveria estar vivendo seu auge técnico, ele escolheu sair do Barcelona para ir ao PSG. Virou o reizinho do universo. Em 2018, chegou à Copa do Mundo e jogou sua imagem no lixo com aquele monte de cai-cais. Em 2018, o melhor jogador brasileiro na Europa era Roberto Firmino. E ele passou a Copa no banco de reservas, fora de sua posição. Aliás, em 2022 Tite inexplicavelmente deixou Firmino, que havia se recuperado de seguidas lesões, fora da Copa. Neymar se machucou (para variar) e a seleção não tinha um facilitador no elenco, um meia-atacante capaz de dar dinâmica ao jogo.

Continua após a publicidade

De uma forma ou outra, ainda que por linhas bem tortas, o mundo sempre dá um jeito de recompensar quem trabalha mais e merece mais. Talvez Firmino e Neymar não possam mesmo ser colocados na mesma frase.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.