Julio Gomes

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Botafogo salva uma seleção em que faltam ideias, sobram Danilos e Paquetás

Eu estava esperançoso com a seleção brasileira nesta quinta-feira. Sem Vinícius Jr, que nunca jogou nada pela seleção, era a chance de ver Rodrygo na posição preferencial. Paquetá recuado, menos protagonista. Uma escalação com mais sentido do que outras recentes e contra um adversário fraquíssimo. Era possível que desse muito certo. Mas...

É, temos de dormir felizes com a vitória por 2 a 1 e o fato de o Brasil passar Equador (!), Bolívia (!!) e Venezuela (!!!) na tabela das eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo de 2026.

Foi mais uma daquelas noites difíceis, em que torcedores se sacrificam mais do que os jogadores. Sabem o que parece a seleção brasileira? Aquela série de TV que começa com temporadas espetaculares, uma melhor que a outra, mas depois os caras esquecem de parar. E vai caindo, caindo, caindo.

Enfim, pelo menos o Brasil venceu. Virou contra o Chile, com gols dos botafoguenses Igor Jesus e Luiz Henrique, um em cada tempo. Um negócio meio vintage, considerando que o Botafogo é dos clubes que mais cederam jogadores para a seleção na história das Copas do Mundo. A fase do Fogão é tão boa que está até ajudando a seleção, quem diria.

Foi mais um jogo em que faltam ideias e sobram Danilos e Paquetás. Eu entendo quando Dorival Jr pergunta se "querem renovação ou vitórias imediatas" - porque as duas coisas, supostamente, não dá para entregar. Bem, quando vemos a escalação com Danilo, Paquetá, Marquinhos, Raphinha, a galera não fica com uma exata impressão de renovação. Mas ela está em curso, isso está claro.

Paquetá é um jogador supervalorizado pelos técnicos que passam pela seleção brasileira. Fez mais um jogo ruim hoje, levou o terceiro cartão e não estará contra o Peru, terça-feira. É a chance de fazer coisas diferentes no meio de campo, sem ele. A seleção melhorou no segundo tempo quando os volantes foram trocados por Dorival. Danilo, por sua vez, não foi trocado. É o capitão, mas simplesmente não entrega o que a seleção precisa pelo lado direito do campo.

O primeiro gol, no primeiro minuto de jogo, é um gol que mostra bem que Danilo, além de não ajudar no ataque, não é exatamente o melhor lateral-zagueiro do mundo. Deixou todo o espaço que o atacante chileno precisava para cabecear. Importante notar a falha de Éderson também no lance. A bola deveria ter sido defendida pelo goleiro do Manchester City, que substituiu hoje o lesionado Alisson (contestado por muitos, não por mim).

O jogo começa, pois, 1 a 0 para o Chile - caso a seleção precisasse um pouquinho mais de pressão...

A partir daí, foram 20 minutos ruins do Brasil, com erros de passe, posicionamento e tomadas de decisão, principalmente de Savinho. Como o Chile não queria jogo e jogava apenas para se defender e matar tempo, a seleção começou a melhorar. Abner usou bem o corredor deixado por Rodrygo pela esquerda e começou a aparecer. Do outro lado, Savinho tentava, mas quase sempre sozinho, sem ajudas de Danilo ou Raphinha.

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O gol de empate só foi sair porque duas circunstâncias ajudaram. O Chile estava em uma rara fase ofensiva e reclamou de um pênalti de Paquetá em Valdés - no meu ponto de vista, o choque foi normal, mas o árbitro poderia tranquilamente ter interpretado como falta de Paquetá. Na sequência do lance, o Brasil consegue um raro contra ataque, Galdames erra ao tentar cabecear por cima de Savinho e permite ao atacante do City um raro mano a mano contra a defesa. Savinho faz, então, sua única boa jogada na partida e cruza na cabeça de Igor Jesus, para a ótima conclusão do jogador do Botafogo.

As mexidas de Dorival no intervalo foram muito boas. Entraram Bruno Guimarães e Gérson, saíram André e Paquetá, que tinham jogado um mau primeiro tempo. Melhor ainda seria se Luiz Henrique tivesse entrado no lugar de Savinho - essa substituição só foi acontecer aos 23min do segundo tempo. E 8 minutos depois, saiu Igor Jesus para a entrada de Endrick.

Se Luiz Henrique e Igor Jesus jogam juntos no Botafogo e a seleção brasileira sofre tanto com falta de entrosamento, por que deixá-los juntos em campo por somente 8 minutos?

O fato é que a seleção melhorou no segundo tempo e jogou bem por 15 minutos, não mais do que isso. Em um dos lances de ataque, Rodrygo sofreu pênalti claríssimo. Daqueles inacreditáveis de não terem sido marcados. Não daria para colocar um tropeço na conta da arbitragem, há problemas maiores, mas há de se ressaltar o absurdo da não marcação.

Este lance à parte, Rodrygo foi uma das decepções da noite. Jogou pelo lado esquerdo, onde gosta de atuar e nunca pode, por causa de Vinícius Jr, teve apoio do lateral do setor e, mesmo com tudo a favor, não acertou quase nada.

A reta final da partida teve momentos de pasmaceira total, um ou outro ataque chileno - que não deram em nada mais por culpa da falta de competência técnica da seleção da casa do que boa postura defensiva do Brasil - e a entrada de Martinelli no lugar de Abner, uma espécie de tudo ou nada. No apagar das luzes, Luiz Henrique recebeu pela esquerda, invadiu e fez o gol da vitória do Brasil. Justa, sofrida, mas pouco animadora.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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