Alicia Klein

Alicia Klein

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

O inferno que é ser mulher no mundo

Como o que está ruim sempre pode piorar, nos deparamos agora com um projeto de lei que visa equiparar o aborto realizado por uma menina estuprada a um homicídio. Um conceito meio Conto de Aia, com a apavorante alcunha de PL da Gravidez Infantil, que tornará a interrupção da gestação fruto de um estupro um crime pior do que o estupro dessa criança.

Crianças não são mães. Mulheres não são objetos. Não há nuances.

Aqui no nosso canto do futebol, lutamos diariamente pelo mínimo espaço para trabalhar em paz. Não conseguimos. Todo dia acontece conosco ou chega a notícia de uma colega: um comentário babaca sobre nossa aparência, uma conversa condescendente com um cara que tem a metade da nossa capacidade, uma ofensa à guisa de ajuda à sua carreira, um companheiro de equipe que é louvado por sua mediocridade, as vagas que se abrem apenas para os parças, uma cadeira que falta, um pedido de cafezinho, tudo em um dia absolutamente normal. Nos dias piores, o assédio nem sequer surge velado, vindo à luz em toda a sua desgraça pública, embalado pela certeza empírica da impunidade.

Aí você chega em casa, entra no Instagram, liga a televisão, abre um portal de notícias e está lá uma parte dos representantes da sociedade tentando restringir o acesso de meninas estupradas ao aborto legal. Em nome de uma moral imoral e perversa que nunca entenderei.

No trabalho, no transporte público, no Uber, no plenário, no estádio, dentro de campo, em casa, não há um lugar com paz. Nenhum lugar absolutamente seguro para existirmos e brilharmos em todo nosso esplendor, sem um idiota querendo nos apavorar.

Pois vale saber: estamos exaustas, mas não o suficiente para aceitar esse cenário. Estamos com raiva, raiva o suficiente para seguir em frente. Acordamos indignadas todos os dias, o suficiente para enfiar o pé na porta e impedir que sigam nos oprimindo. Estamos em movimento. Tectônico.

Como diz aquele meme, sorte dos machistas que estamos buscando "só" direitos iguais. Podia ser vingança.

Siga Alicia Klein no Instagram e no Twitter

Leia todas as colunas da Alicia aqui

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes