No apagar das luzes, o poeta protagoniza e versa a própria morte
O escritor Antonio Cícero, 79, morreu por eutanásia. Sofrendo de Alzheimer, escolheu fechar as cortinas de sua vida na Suíça de forma legal, legítima e digna. Deixou uma carta aos amigos explicando a decisão e relatando os sofrimentos que a doença estava causando.
Não sabemos falar da morte ainda que ela seja uma inevitabilidade. Não falamos e, quando ela nos pega de surpresa, tampouco temos ferramentas para lidar com ela. Mas talvez os poetas estejam mais preparados do que os demais. Afinal, na vida, são eles que vão caminhando à frente, com suas lanternas e deixando pegadas para quem souber enxergá-las.
Conheci a obra de Antonio Cícero através da música de sua irmã, Marina Lima. Durante duas entrevistas que fiz com ela para a revista Trip e para a revista Tpm, Marina me falou de como ela e o irmão começaram a compor ainda adolescentes em Nova York, para onde se mudaram com o pai e com a mãe.
Os versos que eu cantava sem parar durante a minha juventude nasceram em boa parte dessa dupla. "Você me abre seus braços e a gente faz um país". "As coisas não precisam de você: quem disse que eu tinha que precisar?". "Todo o amor vale o quanto brilha".
Repito aqui as palavras de Vladimir Safatle dirigidas a Antonio Cícero: "Antonio Cícero decidiu a hora de partir. Algo de quem ama a vida e seu exercício pleno. [...] Saber fechar as portas da vida é uma bela arte difícil. Descanse em paz".
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