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Alicia Klein

Cadê as mina?

Stéphanie Frappart - Damien Meyer/AFP
Stéphanie Frappart Imagem: Damien Meyer/AFP

03/12/2020 14h39

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Senta, que lá vêm os números.

26 capitais brasileiras: uma prefeita eleita em 2020

27 seccionais da OAB: 27 presidentes homens

33 confederações de esportes olímpicos de verão: uma presidenta (Ginástica)

40 clubes nas Séries A e B do Brasileirão: zero mulheres na presidência

Os Comitês Olímpicos do Brasil e Internacional, FIFA e CBF, por exemplo, nunca foram presididos por mulheres. Nunca.

Esta semana, Stephanie Frappart se tornou a primeira árbitra a apitar uma partida masculina da Champions League. O evento foi celebrado como um avanço. A minha vontade, porém, é gritar de revolta. Que, em 2020, seja inédito uma mulher ocupar praticamente qualquer posição é simplesmente ridículo. Ultrajante.

Qualquer pessoa que já tenha vivido com uma mulher sabe que somos seres sobrenaturais capazes de gerenciar carreira, casa, crias, contas, estudos, calendário de vacina, lista de mercado, imbuídas de uma permanente visão estratégica e habilidade multifuncional testada todos os dias por um mundo machista e patriarcal (olá, carga mental).

Mas antes que eu enverede por um caminho sem volta, ressalto o ponto desta coluna: se claramente ninguém tem problema com mulheres administrando lares, pequenos humanos e boletos, por que nossa ausência no comando das instituições é tão gritante? E por que nos calamos? Ou, pior, por que comemoramos como progresso o que nada mais é do que a evidência da iniquidade?

Se você entrar hoje no escritório de grandes confederações, clubes de futebol ou agências de marketing esportivo, vai notar que o desafio não é a falta de funcionárias. Em alguns casos, metade ou mais das equipes é feminina. Agora, volte na hora da reunião de diretoria, ou busque os cargos de presidência e vice-presidência na internet. É de chorar.

Tratar minúsculas mudanças sob um viés positivo só mascara os obstáculos e, portanto, adia qualquer possibilidade de transpô-los. Programas de mentoria, cotas, campanhas de conscientização e capacitação: há muitas saídas para fazer a roda da diversidade girar. Só que ela não gira enquanto não reconhecermos a enormidade do calço que a emperra há séculos. Vamos parar de fingir que uma mana aqui-outra-ali é suficiente, bacana.

Aos que estão em posição de mudar este curso, eu peço: olhem para o organograma de seus times, empresas, federações, clubes. Reconheçam o tamanho do problema. Então, parem de bater palmas e comecem a abrir portas.