Conversa de Portão #14: O que é necropolítica?

Na primeira semana de dezembro, duas meninas negras de 4 e 7 anos, Emily e Rebeca, foram baleadas e mortas na porta de casa, em Duque de Caxias (RJ). Longe de serem casos isolados, entraram para a estatística de crianças e jovens assassinados pela ação do Estado brasileiro em 2020.

O 14º Conversa de Portão entrevista a advogada Allyne Andrade e Silva, doutora em direito pela USP e superintendente adjunta do Fundo Brasil de Direitos Humanos, a respeito do conceito de necropolítica e como está presente no cotidiano do país hoje.

Cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, o termo se refere, segundo explica Andrade e Silva, a uma política da morte posta em prática pelo Estado ao determinar quais corpos são descartáveis, matando-os ou deixando-os morrer.

"Mbembe faz uma crítica ao Estado que adota a política da morte, o uso ilegítimo da força e práticas de extermínio que escolhem alguns corpos como amigos e outros como inimigos. O corpo negro, principalmente de homens negros é visto como criminoso e violento", afirma a advogada (a partir de 6:34 do vídeo acima).

A necropolítica que atinge principalmente corpos negros é exercida diretamente pelas forças de segurança do Estado. "Temos uma polícia militarizada que está em constante guerra. Os inimigos, que supostamente seria o tráfico de drogas, são na verdade os corpos negros, periféricos e subalternizados", diz Andrade e Silva (a partir de 14:02 do vídeo acima).

A entrevistada esclarece ainda que a necropolítica se estende também à incapacidade do Estado em cuidar dos mais vulneráveis, ao, por exemplo, não implementar políticas para evitar mortes relacionadas à Covid-19.

Andrade e Silva diz que "quando se diz que há uma necropolítica, significa que o Estado faliu na sua função, não tem mais legitimidade e não tem justificativa porque não consegue prover vidas, prover dignidade" (a partir de 11:25 do vídeo acima).

O Conversa de Portão é um podcast produzido pelo Nós, Mulheres da Periferia em parceria com UOL Plural. Novos episódios são publicados toda terça-feira. Este episódio teve produção de Carol Moreno, direção musical de Sabrina Teixeira Novaes, trilha sonora e edição de som por Sabrina e Camila Borges.

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