Como um físico revolucionou a matriz elétrica do Uruguai

O uruguaio Ramón Méndez era um acadêmico da área de física de partículas de formação. "Eu trabalhava em um campo de estudos que tenta entender os componentes mais elementares do universo, para compreender as origens depois do Big Bang", conta Méndez.

A única afinidade que ele tinha com o tema de matrizes elétricas era a compreensão de como funcionava a energia nuclear. No entanto, coube ao físico elaborar o plano que transformou o perfil da matriz elétrica do Uruguai e fez com que o país se tornasse independente em geração de energia -antes, era preciso importar combustíveis fósseis para as usinas térmicas, um material poluente, caro e de valores flutuantes. Nos anos secos, afirma ele, o custo com o sobrepreço de energia chegava a 2% do PIB.

Ele se interessou pelo tema por causa de um problema frequente na década de 2000: apagões, com anos de muita seca e falta de água nas hidrelétricas. "O Uruguai estava em séria dificuldade. Precisávamos procurar uma solução original", diz Méndez. E ele procurou: estudou o tema e planejou a mudança da matriz do país de forma radical e rápida, e se tornou secretário nacional de energia.

O que ele ofereceu como solução em 2008 foi investir na energia eólica, mudar o modo como o país comprava energia, construir rapidamente as estruturas necessárias e incluir as fontes renováveis no sistema elétrico. Com as hidrelétricas em processo de exaustão, as fontes eólicas seriam o complemento ideal, conta o responsável pela América Latina do Conselho Global de Energia Eólica, Ramón Fiestas.

"Quando as centrais hidrelétricas entram em crise de armazenamento de água, as eólicas assumem. Fenômenos como o El Niño estão ficando cada vez mais frequentes e mais intensos, então era preciso uma aposta para garantir o fornecimento de energia e, ao mesmo tempo, diversificar a matriz com fontes internas, em um balanço natural", diz Fiestas.

Eólica representa 39% da matriz

Uma das inspirações para o plano de Méndez, que fez sua pós-graduação no Rio de Janeiro, foi o Brasil. No começo dos anos 2000, o governo brasileiro começou a organizar leilões nos quais se comprometia a comprar energia gerada pela iniciativa privada. O Uruguai faria o mesmo, mas a tarefa, segundo Ramon, era mais urgente e a mudança precisava ser mais radical. O plano foi fazer um grande leilão para atrair uma quantidade de empresários suficiente para mudar o perfil da matriz em uma só tacada, o que ocorreu em 2011.

"O leilão aumentou a capacidade instalada em 2.000 MW. Em dois anos, a matriz mudou completamente", conta. Em 2023, a energia eólica foi a principal fonte energética do país, com participação de 39% do total, dez pontos percentuais acima da segunda, a hidrelétrica.

Entretanto, como o Uruguai contratou uma grande capacidade instalada e fixou os preços por prazos longos, não conseguiu aproveitar a queda de custos verificada nos últimos anos, o que ainda gera críticas ao plano executado.
Além disso, o custo para gerar eletricidade não é uniforme ao longo do dia. Na reforma que Méndez planejou, o país optou por adotar um sistema de tarifas variáveis. No horário de pico, ela é mais cara, e o consumidor tem alguns planos com diferentes gradações de preços.

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Méndez, que já não é mais o secretário de energia do país, conta que recentemente comprou um carro elétrico e que usa as madrugadas para carregar a energia do veículo. Para rodar cerca de 500 quilômetros, diz, ele paga pouco mais de US$ 4.

16 comentários

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José Henrique Villaça

Oque se fez questão de esconder na matéria é que, tanto em 2008, quando o projeto foi apresentado, com em 2011, quando a matriz eólica estava instalada, os presidentes uruguaios eram de esquerda. Em 2008 Tabaré Vázquez e em 2011 José Música. 

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Daniel Bravo

para um país com o tamanho e a população do uruguai pode até ser uma boa medida...mas para as grandes potências econômicas e com grande população a energia eólica é inviável. o uruguai é do tamanho do Acre e tem uma população de 3 milhões, então tudo fica mais fácil

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Arthur Eduardo Freitas Heinrich

Devia ter investido em nucleares. Aí não dependeria do vento.

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