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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Piroxicam é eficaz contra dor e febre, mas pede atenção com efeitos

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

25/10/2022 04h00

Aprovado para uso desde o início da década de 1980, o piroxicam pode ser útil em variadas condições de saúde que requeiram a redução da inflamação e da dor, como por exemplo, a inflamação crônica das juntas (artrite reumatoide).

O que é piroxicam?

Trata-se de um medicamento classificado como AINE (anti-inflamatório não esteroidal), ou seja, não hormonal. Dadas as peculiaridades desse medicamento, ele só deve ser utilizado sob orientação médica ou farmacêutica.

Quando ele deve ser usado?

O piroxicam é considerado seguro, bem tolerado, mas você pode potencializar sua ação e ainda prevenir efeitos adversos fazendo o uso racional do medicamento, ou seja, utilizando-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado. A instrução é da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Ele pode ser indicado isoladamente ou em conjunto com outros medicamentos para o tratamento de variadas condições de saúde que tenham como sintoma inflamações, dor e até febre —como as que você vê a seguir:

  • Inflamação crônicas das juntas (artrite reumatoide)
  • Lesões nas juntas (osteoartrite)
  • Artrite da coluna vertebral (espondilite anquilosante)
  • Problemas musculoesqueléticos agudos
  • Artrite associada ao depósito de cristas de ácido úrico nas juntas (gota)
  • Dor em geral, pós-operatória ou após acidentes (lesões de impacto)
  • Cólica menstrual (após os 12 anos)

Entenda como o piroxicam funciona

De acordo com o farmacêutico Aníbal de Freitas Santos Júnior, docente da Uneb, para agir como anti-inflamatório, analgésico e antitérmico, o piroxicam reduz a ação de potentes mediadores químicos da dor e da inflamação (as prostaglandinas), e o faz por meio da inibição de uma enzima chamada ciclo-oxigenase.

Após tomá-lo, parte substancial do fármaco é metabolizado pelo fígado, mas cerca de 5% dele é excretado intacto pela urina e pelas fezes. A depender do estado de saúde do paciente, seus efeitos já poderão ser observados após 1, 3 a 5 horas, e eles podem ser manter até a dose seguinte.

O uso prolongado desse remédio pode trazer prejuízos para a saúde?

Como todo anti-inflamatório, o piroxicam deve ser utilizado na menor dose e no menor tempo possível e sob supervisão médica, adverte o reumatologista José Hilton, do Huol-UFRN.

"Esse medicamento traz alívio rápido, e o paciente pensa que pode usá-lo pela vida inteira. O que ele ignora é o potencial que o piroxicam tem de provocar efeitos adversos indesejados no sistema gastrointestinal, como sangramento, e em órgãos como o rim e coração, sem falar nas raras lesões graves e fatais do fígado [toxicidade hepática]".

Considerando esses fatores, o conselho médico é evitar a automedicação.

Conheça as apresentações disponíveis

O medicamento de referência do piroxicam é o Feldene©, mas você também encontra as versões genéricas nas farmácias.

Confira algumas das apresentações disponíveis:

  • Cápsulas duras - 20 mg
  • Comprimido com dissolução instantânea - 20 mg

Quais são as vantagens e desvantagens do seu uso?

Na opinião dos especialistas consultados, o piroxicam é eficaz e seguro quando utilizado sob orientação médica, e ainda é acessível, dado o seu baixo custo. Apesar disso, nem sempre ele será a primeira escolha dos médicos em razão do perfil de seus efeitos colaterais.

O farmacêutico e farmacologista Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP, explica que isso se deve aos riscos de ter um ataque cardíaco ou AVC (Acidente Vascular Cerebral). "A probabilidade desses eventos é maior entre pessoas que já têm doenças do coração, ou usam o medicamento por longo tempo", fala.

Polacow acrescenta que o cuidado deve ser ainda maior entre fumantes, pessoas que fazem uso abusivo de álcool, tenham idade avançada, saúde debilitada ou tomem medicamentos como esteroides ou anticoagulantes. Para estes, "os sangramentos no estômago ou intestino podem aparecer sem dar sinais de alerta", conclui.

Saiba quem deve evitar esse medicamento

Fale com o médico ou farmacêutico antes de usar o piroxicam se você já teve alguma reação alérgica relacionada aos AINEs, como o ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e diclofenaco.

  • Ter idade inferior a 12 anos ou idade avançada (superior a 75 anos)
  • Asma
  • Problemas do coração
  • Doenças renais ou do fígado
  • Inchaço (nas mãos, pés, tornozelos, parte inferior da perna)
  • Gravidez (especialmente no último trimestre da gestação)
  • Amamentação
  • Histórico de sangramento, perfuração gastrointestinal
  • Úlcera ou inflamações gastrointestinal ativas

Crianças e idosos podem usá-lo?

O piroxicam só pode ser indicado para crianças com idade superior a 12 anos. Quanto aos idosos, não há contraindicação, mas eles podem ser mais vulneráveis a efeitos colaterais do medicamento, como complicações gastrointestinais e insuficiência renal, especialmente os que já tenham problemas renais, do fígado ou coração.

Para reduzir essas manifestações, o médico poderá adotar doses e tempo de tratamento menores e ainda deve acompanhar esse paciente de forma mais atenta.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar piroxicam?

Até o momento não está totalmente estabelecida a segurança desse medicamento entre gestantes. Apesar disso, não há contraindicação absoluta para uso nesse grupo.

Isso significa que ele só deverá ser utilizado após a devida avaliação médica sobre os riscos e benefícios do tratamento, seja para a gestante, seja para seu bebê. Tais considerações precisam levar em conta, principalmente, o período de gestação da paciente.

Importante saber que, caso o médico decida pela continuidade do tratamento com esta medicação, a gestante deve ser constantemente monitorada.

Como o piroxicam pode passar para o leite materno, a sua administração, durante a amamentação, é desaconselhada.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

Quando tomado, deve ser ingerido inteiro com água. O comprimido não deve ser partido. O remédio poderá ou não ser ingerido acompanhado de alimentos. No entanto, entre idosos, é preferível que ele seja utilizado após alguma refeição.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o piroxicam seja administrado na forma indicada pelo seu médico. Caso você tenha tendência a problemas gástricos, prefira usá-lo logo após as refeições.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome assim que lembrar, mas caso esteja próximo do horário da próxima dose, aguarde que chegue o horário para utilizá-lo normalmente, conforme orientação médica e do farmacêutico. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida.

Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são:

Caso observe que os sintomas acima descritos, ou mesmo outros, duram no tempo, comunique seu médico para que ele possa reavaliar o tratamento indicado.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o piroxicam. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos das possíveis interações.

Confira:

  • Outros AINEs (como o AAS)
  • Inibidores da enzima conversora da angiotensina (captopril)
  • Antagonistas dos receptores da angiotensina (losartana)
  • Betabloqueadores (atenolol)
  • Antibióticos (ciprofloxacino)
  • Diuréticos (furosemida)
  • Corticoesteroides (prednisona)
  • Estabilizantes de humor (lítio)
  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (fluoxetina)
  • Antimetabólicos (metotrexato)
  • Antiepilépticos (fenitoína)
  • Anticoagulantes (varfarina)
  • Imunossupressores (ciclosporina)
  • Medicações para arritmia (digoxina)
  • Antiácidos em geral ou medicamentos para tratar úlcera, como os sucralfatos

E atenção: embora até o momento sejam desconhecidas as variadas e possíveis interações com fitoterápicos, é importante falar com um médico ou farmacêutico antes de usar esse medicamento se você faz uso contínuo deles ou mesmo de suplementos e vitaminas.

"Um dos efeitos já conhecidos é o decorrente do uso concomitante com o hipérico (erva de S. João): ele pode aumentar a sensibilidade à luz (fotossensibilidade)", esclarece a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP.

O piroxicam pode afetar minha fertilidade?

Todos os medicamentos da classe dos AINEs, incluído o piroxicam, podem atrasar ou prevenir a ação dos folículos ovarianos, e tal mecanismo foi associado à redução da fertilidade em algumas mulheres.

Quem tem tido problemas para engravidar, ou está se submetendo a exames para investigar a infertilidade, deve informar o médico sobre o uso deste medicamento.

Interação com álcool

Pequenas doses de álcool não afetam diretamente a ação do piroxicam. No entanto, alto consumo que se repete no tempo pode aumentar o risco de sangramento estomacal, um dos efeitos temidos do uso inadequado dessa medicação.

Interação laboratorial

O piroxicam poderá interferir em exames que investigam a presença de doenças autoimunes como o ANA (exame de anticorpos antinucleares); substâncias encontradas na urina (ureia e creatinina); volume de glóbulos vermelhos no sangue (hemoglobina e hematócrito); e funcionamento do fígado (níveis de transaminase).

Ao ter de se submeter a algum desses exames, informe ao médico ou ao pessoal do laboratório sobre o uso do piroxicam.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
  • Respeite o limite da dosagem indicada;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Aníbal de Freitas Santos Júnior, farmacêutico e docente pleno da Uneb (Universidade do Estado da Bahia); José Hilton, reumatologista do Huol-UFRN (Hospital Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e preceptor da residência médica em reumatologia da mesma instituição; Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP; Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); LiverTox: Clinical and Research Information on Drug-Induced Liver Injury [Internet]. Bethesda (MD): National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases; 2012-. Piroxicam. [Atualizado em 2020 Mar 20]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK548425/.