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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Furosemida é diurético que trata inchaço causado por doenças do coração

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

30/03/2021 04h00

Resumo da notícia

  • O fármaco é indicado para tratar edema e pressão alta causados por várias doenças
  • Entre seus efeitos colaterais destacam-se a desidratação e o desequilíbrio de sódio e potássio
  • É importante usar este medicamento na exata forma e no tempo indicado pelo médico
  • Ele é ineficaz na obesidade e a automedicação pode trazer sérios prejuízos à saúde

Descoberta na década de 1960, a furosemida é um diurético utilizado no tratamento ou alívio da pressão alta e do inchaço (edema) associados a doenças específicas. Ela é considerada uma das mais importantes medicações do sistema básico de saúde e, por isso, foi declarada essencial pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

O que é furosemida?

Trata-se de um diurético potente da classe dos diuréticos de alça —assim denominado porque ele age em uma estrutura específica do rim, a alça de Henle.

Devido às suas características, o fármaco deve ser comercializado sob receita médica.

Em quais situações ela deve ser usada?

Esse medicamento tem sido utilizado desde a década de 1960 e, por isso, quando bem indicado, é considerado seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser administrada (sozinha ou em combinação com outros fármacos) para o tratamento ou alívio de sintomas das seguintes condições:

  • Insuficiência cardíaca
  • Síndrome nefrótica (doenças renais)
  • Insuficiência hepática (cirrose, hepatite)
  • Edema agudo do pulmão
  • Hipertensão arterial (especialmente nos casos refratários a outros tratamentos)

Entenda como ela funciona

Ao ser administrado pela via oral, a furosemida é absorvida pelo trato gastrointestinal, depois é metabolizada pelos rins e o fígado. Ao executar sua função ela é excretada pelos rins.

Quanto ao mecanismo de ação (farmacodinâmica), por ser um diurético de alça, a medicação age inibindo a reabsorção de sódio no ramo descendente da alça de Henle (estruturas dos rins), impedindo o sistema de transporte desse mineral. Isso resulta em uma maior excreção de água, sódio, cloreto, magnésio e cálcio. A explicação é de Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP.

Ao reduzir o volume de líquido nos tecidos e no sangue, o inchaço diminui, assim como a pressão arterial. Os efeitos do medicamento já podem ser notados após 1 hora a 1,5 hora após a ingestão por via oral, ou de 5 a 15 minutos pela via intravenosa.

Conheça as apresentações disponíveis

Lasix® é a marca de referência da furosemida, mas você pode encontrar as versões genéricas. A depender das condições de saúde de cada pessoa, ela pode ser usada por breve tempo ou de forma contínua.

Confira as apresentações e doses disponíveis:

  • Comprimidos - 40 mg
  • Cápsula de liberação prolongada - 60mg
  • Injetável - 10 e 20 mg

A medicação consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso tem distribuição gratuita em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a ela, basta apresentar a receita médica.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

De acordo com os especialistas consultados, a maior vantagem da furosemida é que não existe outro diurético com a mesma capacidade de ser efetivo em diversas situações (age nas funções cardíaca e renal). Além disso, ela permite uma ampla gama de doses —conferindo flexibilidade e segurança na utilização.

Já a desvantagem é ser uma medicação tão potente que exige conhecimento e experiência do médico para escolher as melhores doses e associações para reduzir seus efeitos colaterais.

Saiba quais são as contraindicações

Ela não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo, às sulfonamidas ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Gravidez
  • Amamentação
  • Pressão baixa
  • Desidratação
  • Doenças do fígado (coma e pré-coma)
  • Diabetes
  • Dificuldade para urinar (anúria)
  • Gota
  • Intolerância à lactose
  • Redução de níveis de potássio (hipopotassemia)
  • Redução de níveis de sódio (hiponatremia)

O medicamento emagrece?

"De fato, ele faz perder peso, mas porque são eliminados sal e água", explica Rogério Andrade Mulinari, professor titular de nefrologia e clínica médica do Departamento de Clínica Médica da UFPR. Ele explica que, com o passar do tempo, esse efeito desaparece e o rim passa a reabsorver a água e o sal para repor tudo o que se perdeu. No dia seguinte, o peso estará próximo do inicial.

O especialista acrescenta que, nos quadros de excesso de peso ou obesidade, o medicamento é ineficaz, apesar do que se vê na balança. E adverte: "Quem usa a furosemida sem controle médico corre o risco de apresentar efeitos adversos, como redução da pressão arterial a níveis preocupantes, quedas, perda da função renal, entre outros".

Crianças e idosos podem usá-la?

A cardiologista Lidia Ana Zytynski Moura, professora titular da Escola de Medicina da PUC-PR, afirma que não existem contraindicações para essas populações, mas elas devem ser acompanhadas de perto.

Entre os idosos, a preocupação é com o fato de que, com o avançar da idade, há uma perda natural das funções renais. "Assim, a resposta ao medicamento pode ser exagerada e levar a sintomas como tontura ou queda da pressão (ao sentar-se ou levantar-se), o que propicia quedas, fraturas e hospitalizações", fala a médica.

Quanto às crianças, o seu uso mais comum se dá na síndrome nefrótica, uma doença renal onde há perda de grande quantidade de proteína (albumina), mas o monitoramento também deve ser constante.

Estou grávida ou amamentando? Posso usar a furosemida?

A furosemida atravessa a barreira da placenta e também passa pelo leite materno. Assim, o uso desse fármaco é, de modo geral, restrito a situações especiais quando há risco de vida para a mãe, que deve sempre ser monitorada pelo médico.

Qual é a melhor forma de consumi-la?

A orientação é de que ela seja ingerida com água e no período indicado pelo profissional da saúde. O fabricante orienta o consumo com o estômago vazio.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. Mas, em geral, não é indicado seu uso horas antes de ir dormir. O risco seria acordar à noite para urinar. No entanto, siga as instruções de seu médico quanto ao esquema de doses diárias.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar, mas esteja atento aos efeitos do medicamento, que podem durar por horas e, portanto, prejudicar atividades que exijam maior atenção e concentração. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é tido como bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. O efeito colateral mais comum, em especial entre as mulheres, é a redução das taxas de potássio.

A razão para isso é a menor massa muscular quando comparada a dos homens. Como a furosemida tem a capacidade de jogar água e sal para fora, o potássio vai junto e reduz a força muscular. Isso pode levar a arritmias e prejuízo da função renal, especialmente entre os idosos.

Além disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Comuns

  • Boca seca ou sede
  • Dor de cabeça
  • Tontura
  • Náusea ou vômito
  • Aumento do volume da urina
  • Aumento das taxas de triglicérides, colesterol
  • Redução das taxas de potássio e cloreto

Incomuns ou raras

  • Tolerância à glicose reduzida
  • Dor renal ou sangue na urina
  • Zumbido no ouvido
  • Dor abdominal
  • Hematomas inexplicados, sangramento, febre, dor de garganta e úlceras na boca (sinais de problemas sanguíneos)
  • Urticária

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a furosemida. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico ou farmacêutico, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas. Essa lista é apenas um exemplo e não exclui outros fármacos com o mesmo efeito.

  • Sedativos (como o hidrato de cloral)
  • Estabilizadores de humor (lítio)
  • Antipsicóticos (amissulprida)
  • Antibióticos aminoglicosídicos (gentamicina)
  • Antiarrítmicos (digoxina)
  • Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs - como o ácido acetilsalisílico e diclofenaco)
  • Anti-hipertensivos (atenolol)
  • Antidiabéticos (glipizida, glimepirida)
  • Antiulcerosos (sucralfato)
  • Inibidores de ECA (enzima conversora da angiotensina, como captopril)

Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos. No entanto, informe seu médico, caso faça uso contínuo de algum deles.

Quanto aos suplementos, relate a seu médico sobre eventual suplementação de potássio.

A furosemida corta o efeito do anticoncepcional?

Até o momento não há evidências de que o fármaco anule a ação de nenhum tipo de contraceptivo.

Existe interação com exames laboratoriais?

Não são conhecidas interações desse tipo. Contudo, informe o médico requisitante dos exames e o pessoal do laboratório sobre o uso desse medicamento.

Devo evitar consumir algum tipo de alimento?

Evite o uso da furosemida com álcool. Juntos, esses itens poderiam potencializar a queda da pressão.

Pacientes com febre ou diarreia podem tomar furosemida?

Na diarreia há grande perda de água e sal, o mesmo efeito do diurético. Seguir com o tratamento, nessa condição, potencializaria efeitos como a pressão baixa, com prejuízo para a função cerebral e outros órgãos.

Contudo, consulte seu médico sobre como contrabalançar esses efeitos. Já na febre, não há contraindicação, mas é preciso ter cuidado com a perda de líquidos, especialmente entre crianças e idosos.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Rogério Andrade Mulinari, professor titular de nefrologia e clínica médica do Departamento de Clínica Médica da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Lidia Ana Zytynski Moura, cardiologista, professora titular da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e cardiologista do Hospital Cajuru e do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba; Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada, em Mogi Guaçu (SP); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Khan TM, Patel R, Siddiqui AH. Furosemide. [Updated 2021 Mar 14]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499921/.